A crise diplomática entre Colômbia e Estados Unidos atingiu um novo patamar de tensão após o Ministério das Relações Exteriores colombiano anunciar, nesta segunda-feira (19), a convocação de seu embaixador em Washington. A medida foi tomada um dia depois que o ex-presidente Donald Trump proferiu declarações contundentes contra o presidente colombiano, Gustavo Petro, ameaçando sanções econômicas e sugerindo ações em território colombiano, intensificando a controvérsia sobre as operações norte-americanas na região.
O retorno do embaixador, Daniel García-Peña, que já se encontra em Bogotá conforme confirmado pelo ministério, representa um ato diplomático formal de insatisfação do governo colombiano. Este episódio marca um novo capítulo de deterioração nas relações entre os dois países, em meio a acusações de Donald Trump de que Gustavo Petro seria um “líder ilegal de drogas”. As afirmações foram acompanhadas de ameaças explícitas de corte de financiamento e subsídios, além de indícios de possíveis intervenções militares em território colombiano por parte de Washington, sem detalhar a natureza dessas ações.
Colômbia Chama Embaixador EUA Após Embate Com Trump
A retórica inflamada de Donald Trump ressurge em um contexto de escalada militar no Mar do Caribe, onde embarcações são alvo de ataques americanos que, segundo relatos, já resultaram na morte de pelo menos 27 pessoas. Embora a Casa Branca justifique suas operações como combate ao tráfico de drogas, essas ações são amplamente criticadas por governos da região, opositores políticos e especialistas jurídicos. Muitos questionam a legalidade da ofensiva dos EUA e suas consequências, levantando preocupações sobre a soberania e a estabilidade regional.
O impacto das declarações de Trump não se limitou ao cenário político, reverberando também na economia colombiana. Na manhã daquela segunda-feira, o peso colombiano registrou uma queda de 1,4%, com a cotação alcançando 3.889 unidades por dólar americano. Esse recuo demonstra a sensibilidade dos mercados financeiros a eventos diplomáticos de grande repercussão, especialmente quando envolvem os dois principais parceiros comerciais.
Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia e vizinho da Venezuela, tem sido uma das vozes mais críticas na América Latina contra a postura e as ações militares dos Estados Unidos na costa caribenha. Em contraste, Donald Trump o acusou de ser conivente com o comércio ilícito de drogas, intensificando a troca de farpas entre os líderes. As declarações de Trump de que a ajuda financeira americana à Colômbia seria suspensa e de que novas tarifas seriam aplicadas vieram sem detalhes específicos sobre a implementação dessas medidas. Atualmente, a Colômbia já paga uma tarifa de 10% sobre a maioria de suas importações para os EUA, uma taxa que Trump impôs a muitos países.
Historicamente, a Colômbia foi um dos maiores beneficiários de auxílio financeiro dos EUA. No entanto, esses recursos foram drasticamente interrompidos este ano com o fechamento da Usaid, o braço humanitário do governo americano. Essa mudança na política de assistência ressalta a complexidade e a volubilidade das relações bilaterais, especialmente diante de mudanças de governo e de alinhamentos ideológicos.
As tensões entre Petro e Washington não são inéditas. Recentemente, em um domingo anterior, Petro havia condenado veementemente um novo bombardeio a uma embarcação que resultou na morte de três indivíduos. Ele contestou a justificativa do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que argumentou que o barco pertencia ao Exército de Libertação Nacional (ELN), uma guerrilha colombiana. Petro insistiu que a embarcação pertencia a uma “família humilde”, não a um grupo guerrilheiro.
Em uma postagem na plataforma X, o presidente colombiano expressou sua indignação de forma direta, declarando: “Senhor Trump, a Colômbia nunca foi rude com os Estados Unidos, mas você é rude e ignorante com a Colômbia”. Ele enfatizou sua integridade pessoal e profissional: “Como não sou empresário, sou ainda menos um traficante de drogas. Não há ganância em meu coração.” Tais palavras revelam a profundidade do descontentamento colombiano com a abordagem americana.
O cenário diplomático é ainda mais intrincado pela autorização que Donald Trump deu à CIA para realizar operações, incluindo terrestres, em solo venezuelano, com o objetivo explícito de derrubar o regime de Nicolás Maduro. Essa autorização ampliou significativamente as tensões na região, sinalizando a possibilidade de uma invasão dos EUA na Venezuela e gerando preocupação entre os países vizinhos, incluindo a Colômbia, devido às implicações de tal escalada nas relações bilaterais entre EUA e Colômbia e na segurança regional.
No mês anterior ao incidente, Petro também se viu em atrito com os EUA devido à revogação de seu visto enquanto estava em Nova York para a Assembleia Geral da ONU. Durante sua estadia, o líder colombiano participou de um evento pró-Palestina e criticou abertamente Washington, acusando-o de violar o direito internacional devido às suas posições e ações em relação aos conflitos em Gaza. Durante a manifestação em Nova York, Petro chegou a conclamar soldados americanos a desobedecerem às ordens de Trump, uma declaração que naturalmente provocou forte reação e fúria da Casa Branca, evidenciando um padrão de desavenças e confrontos ideológicos.
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A convocação do embaixador e os episódios recentes demonstram a fragilidade das relações entre Bogotá e Washington, marcadas por divergências políticas e acusações. A situação continua a se desenvolver, com o governo colombiano prometendo divulgar mais detalhes sobre as decisões tomadas. Para acompanhar os próximos desdobramentos desta e outras notícias de política e economia internacional, continue lendo nossa editoria em Política.
Crédito da imagem: Andrea Ariza e Brendan Smialski/AFP


