Anguilla e Domínio .ai: Lucros Milionários com a IA

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Anguilla e Domínio .ai: Lucros Milionários com a IA revelam como um acaso da era digital transformou a economia de uma pequena ilha caribenha. Com a expansão contínua da inteligência artificial (IA), o território ultramarino britânico de Anguilla tem colhido benefícios financeiros expressivos, gerados pelo seu domínio de internet de topo .ai, um ativo digital que, por contingência histórica, se alinhou perfeitamente à sigla em inglês para “inteligência artificial”.

Na década de 1980, quando os fundamentos da internet começavam a ser estabelecidos, cada nação recebeu um identificador de domínio específico para atuar nesse emergente universo online. Enquanto exemplos notórios como o .uk (Reino Unido) e o .br (Brasil) se tornaram amplamente reconhecidos, Anguilla, uma ilha modesta nas Antilhas, recebeu a sigla .ai, sem que ninguém pudesse antever o seu valor futuro.

Anguilla e Domínio .ai: Lucros Milionários com a IA

Esse domínio peculiar foi atribuído com base nas primeiras letras do nome da ilha. Hoje, em virtude do crescimento exponencial da IA, companhias e desenvolvedores globais estão investindo em nomes de websites que terminam em .ai, fazendo da designação de Anguilla um verdadeiro prêmio. Um exemplo notório é o do empresário de tecnologia norte-americano Dharmesh Shah, que, no início de 2024, efetuou um pagamento de US$ 700 mil (equivalente a cerca de R$ 3,7 milhões) pelo domínio you.ai. Em uma declaração à BBC, Shah explicou que sua motivação foi a ideia de conceber um produto de inteligência artificial que viabilizasse a criação de versões digitais de pessoas para execução de tarefas específicas.

O volume de registros de domínios .ai experimentou um aumento significativo, multiplicando-se mais de dez vezes nos últimos cinco anos e dobrando apenas nos últimos doze meses, conforme dados de um portal especializado no rastreamento de registros de domínios. Diante dessa súbita fortuna, a ilha, que possui uma população de aproximadamente 16 mil habitantes, está agora diante do desafio de capitalizar este período de sorte para consolidar uma fonte de renda permanente e sustentável.

A Economia Turística em Meio aos Ventos da IA

A economia de Anguilla, à semelhança de outras ilhas caribenhas, é fortemente dependente do turismo. A ilha tem atraído um segmento de visitantes estrangeiros, com destaque para o mercado de luxo proveniente dos Estados Unidos. Dados do Departamento de Estatísticas de Anguilla indicam que, no ano anterior, a ilha registrou um recorde de 111.639 visitantes. Contudo, o setor turístico insular permanece vulnerável aos danos anuais provocados pelos furacões durante o outono.

Anguilla encontra-se geograficamente no nordeste do arco de ilhas caribenhas, precisamente dentro da área do cinturão de furacões do Atlântico Norte. Este fator meteorológico ressalta a importância vital da crescente receita advinda da venda de domínios da internet como um mecanismo para diversificar a base econômica da ilha, aprimorando sua capacidade de resistência frente às perdas financeiras causadas por tempestades, uma preocupação explicitada até mesmo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório mais recente sobre Anguilla.

Renda Expressiva e Projeções Futuras

Em sua proposta orçamentária para 2025, o governo de Anguilla revelou ter acumulado no último ano 105,5 milhões de dólares do Caribe oriental (o equivalente a US$ 39 milhões, ou aproximadamente R$ 207 milhões) provenientes da comercialização de nomes de domínio. Este montante representou 23% da receita total da ilha para o ano de 2024, enquanto o turismo, comparativamente, foi responsável por cerca de 37%, de acordo com o FMI.

As projeções do governo de Anguilla são de que as receitas provenientes dos domínios .ai cresçam ainda mais, alcançando 132 milhões de dólares do Caribe oriental (US$ 49 milhões, aproximadamente R$ 260 milhões) em 2025, e chegando a 138 milhões (US$ 51 milhões, cerca de R$ 271 milhões) em 2026. Atualmente, a contagem ultrapassa 850 mil domínios .ai registrados, um contraste marcante com os menos de 50 mil computados em 2020.

Administração e Soberania

Anguilla, sendo um território ultramarino britânico, está sob a soberania do Reino Unido, embora opere com um grau elevado de autonomia em seu governo interno. Londres mantém influência significativa em questões de segurança e defesa, e oferece apoio financeiro em cenários de crise. Após os sérios danos causados pelo furacão Irma em Anguilla, em 2017, o Reino Unido concedeu 60 milhões de libras (equivalentes a aproximadamente R$ 432 milhões) ao longo de um período de cinco anos para auxiliar nas despesas de recuperação.

O Foreign, Commonwealth and Development Office, órgão correspondente ao Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, manifestou à BBC seu apreço pelos esforços de Anguilla em “descobrir estratégias inovadoras para impulsionar o desenvolvimento econômico”, um movimento que auxilia na “promoção da autossuficiência da ilha”.

O Papel da Identity Digital e a Logística dos Domínios

Com o propósito de gerenciar a crescente renda oriunda dos nomes de domínio, Anguilla formalizou, em outubro de 2024, um contrato de cinco anos com a Identity Digital, uma empresa de tecnologia dos Estados Unidos especializada em registros de domínios da internet. A Identity Digital, no início do ano, anunciou a transferência da hospedagem dos domínios .ai de servidores localizados em Anguilla para sua própria rede global de servidores. Esta medida estratégica visa prevenir eventuais interrupções nos serviços que poderiam ser ocasionadas por furacões ou outros riscos à infraestrutura da ilha, como cortes de energia.

Embora os valores exatos de custo para os endereços .ai não sejam de domínio público, sabe-se que as taxas de registro inicial se situam entre US$ 150 e US$ 200 (equivalentes a R$ 796 a R$ 1.062, aproximadamente), com taxas de renovação bianuais semelhantes. Paralelamente, os domínios mais requisitados são disponibilizados em leilões, atingindo valores que chegam a centenas de milhares de dólares. Contudo, os proprietários desses domínios mais caros também precisam arcar com as mesmas taxas de renovação regulares. Em todas as transações, o governo de Anguilla recebe a totalidade da receita gerada, descontando uma comissão estimada em cerca de 10% para a Identity Digital. Apesar do interesse público, ambas as partes optaram por não conceder entrevistas para comentar sobre os detalhes financeiros.

O Impacto do Leilão de Domínios e a Perspectiva Futura

O maior montante já registrado para um domínio .ai, até o momento, é o valor de US$ 700 mil pago por Shah pelo you.ai. Conhecido por ser um entusiasta declarado da IA e cofundador da empresa americana de software Hubspot, Dharmesh Shah detém uma série de outros endereços .ai em seu nome. Apesar de sua aquisição milionária, seu principal domínio, you.ai, ainda não se encontra em plena operação, uma vez que Shah está envolvido em diversos outros projetos.

Shah compartilha que suas aquisições de nomes de domínio são tanto para uso pessoal quanto para venda, “caso não tenha planos imediatos para ele e haja outro empreendedor que queira fazer algo com o nome”. Ele antecipa que, com a euforia em torno da IA em contínua ascensão, é provável que um novo recorde de preço seja estabelecido em breve para a aquisição de um domínio .ai. No entanto, ele pondera com cautela: “Ainda assim, creio que, a longo prazo, os domínios .com preservarão melhor e por mais tempo o seu valor”. Nas semanas recentes, leilões de .ai resultaram em vendas significativas na casa dos seis dígitos. Em julho, o domínio cloud.ai teria sido arrematado por US$ 600 mil (cerca de R$ 3,2 bilhões), enquanto law.ai gerou US$ 350 mil (aproximadamente R$ 1,9 milhão) no início de agosto.

Lições de Outras Nações Insulares

A experiência de Anguilla, embora singular em sua atualidade, não é inédita no panorama global. Tuvalu, outra nação insular de dimensões reduzidas na Oceania, já havia em 1998 licenciado com exclusividade seu domínio .tv. O contrato inicial teria concedido direitos exclusivos à empresa norte-americana VeriSign por US$ 2 milhões (equivalentes a cerca de R$ 10,6 milhões) anualmente, um valor que, subsequentemente, foi elevado para US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 26,5 milhões).

Cerca de uma década depois, com a expansão sem precedentes da internet, o então ministro das Finanças de Tuvalu, Lotoala Metia, declarou que a VeriSign havia remunerado uma quantia irrisória pelos direitos de gerenciar o domínio .tv. Diante dessa perspectiva, Tuvalu assinou um novo acordo em 2021 com outro provedor de domínios, a GoDaddy. Anguilla, no entanto, opera sob um modelo distinto, delegando a gestão de seu domínio por meio de um sistema de compartilhamento de receita, em vez de um valor fixo. A meta primordial da ilha é assegurar a sustentabilidade financeira dessa nova fonte de receita, esperando que os lucros em crescimento financiem a construção de um novo aeroporto, estimulem o desenvolvimento do turismo e ampliem os recursos para infraestrutura pública e acesso à saúde. À medida que o número de domínios .ai se aproxima da marca de um milhão, a população de Anguilla nutre a expectativa de que esses recursos sejam geridos com responsabilidade e empregados para moldar um futuro promissor para a ilha.

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A transformação econômica de Anguilla pelo domínio .ai é um estudo de caso fascinante sobre como a tecnologia pode gerar impactos inesperados em pequenas economias. O sucesso da ilha na monetização da sigla da inteligência artificial serve como um modelo potencial para outros territórios. Para mais notícias e análises sobre o mercado de tecnologia e seus reflexos econômicos globais, continue explorando a nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Jacob Evans – BBC News Brasil

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