O fenômeno conhecido como Workslop, caracterizado por trabalhos superficiais gerados pela inteligência artificial, emerge como uma preocupação crescente para empresas que intensificam seus investimentos na tecnologia. Um levantamento conduzido pelo MIT Media Lab aponta para uma expansão quase dupla no número de organizações que utilizam processos baseados em IA em apenas um ano. Este aumento, impulsionado pela adesão maciça dos funcionários à ferramenta desde 2023, paradoxalmente, revela uma lacuna na aplicação estratégica, culminando em prejuízos financeiros significativos e impactos na confiança da equipe.
O custo dessa utilização descontrolada da IA não é trivial. Dados compilados pelo BetterUp Labs, em parceria com o Stanford Social Media Lab, mostram que 40% dos profissionais nos Estados Unidos receberam, no mês anterior ao estudo, conteúdo produzido por inteligência artificial que necessitou de extensa revisão. Cada uma dessas ocorrências demanda uma média de 1 hora e 56 minutos de retrabalho humano. Convertido em valores monetários, isso se traduz em um prejuízo de US$ 186 por funcionário a cada mês. Em corporações de grande porte, com cerca de 10 mil colaboradores, a soma anual dos danos ultrapassa a marca de US$ 9 milhões, evidenciando o perigo do uso desordenado e a ineficiência gerada pelos trabalhos incompletos de IA.
Workslop: Prejuízos da IA Sem Controle Preocupam Empresas
O termo “workslop”, uma junção das palavras “work” (trabalho) e “slop” (desleixo), descreve precisamente essa modalidade de tarefa: superficial e incompleta, demandando uma intervenção humana substancial para alcançar a coerência e o contexto necessários. Segundo a pesquisadora Kate Niederhoffer, uma das coautoras da investigação, este cenário representa o equivalente digital de entregar um trabalho pela metade, esperando que outra pessoa o finalize. Ela salienta que, frequentemente, a pressa em concluir tarefas ou atender a demandas da liderança sem uma análise crítica leva profissionais a depender da IA de forma simplista. Embora os resultados possam apresentar uma aparência visualmente polida, sua profundidade intelectual se mostra consideravelmente rasa, gerando a necessidade de constantes retrabalhos.
Raízes do Problema: Estratégia Corporativa Inadequada
Para Danilo McGarry, especialista reconhecido mundialmente em governança de inteligência artificial e transformação digital, o cerne da questão reside na estratégia adotada pelas corporações. Em uma de suas palestras no AI Bank Summit 2025, McGarry enfocou que a prioridade inicial não deve ser a substituição de capital humano por máquinas. Em vez disso, as empresas deveriam focar em aprimorar seus processos internos antes de considerar a automação. Somente após essa fase de otimização e compreensão profunda dos fluxos de trabalho, a aplicação da inteligência artificial torna-se verdadeiramente eficaz e vantajosa. A busca incessante por ganhos imediatos, argumenta ele, muitas vezes impulsiona as organizações a implementar automação sem antes mapear e compreender adequadamente seus próprios mecanismos internos, culminando no fenômeno do workslop e nos consequentes prejuízos.
A Governança Essencial para o Sucesso da IA
O sucesso na atual era da inteligência artificial, conforme articulado por McGarry, depende intrinsicamente de uma estrutura de governança robusta. Líderes empresariais devem estar devidamente preparados para gerenciar a velocidade das transformações tecnológicas e orientar suas equipes. Isso engloba a formulação de padrões rigorosos de qualidade para os resultados da IA, a estipulação de limites claros para o uso das ferramentas e a definição de métricas de impacto que possam avaliar com precisão a produtividade e a cultura organizacional. Na ausência dessas diretrizes fundamentais, o entusiasmo inicial com a tecnologia tende a degenerar em uma fonte de ruído e ineficiência, longe dos benefícios prometidos. Sem um direcionamento estratégico claro, a inteligência artificial pode gerar mais problemas do que soluções.
Custo Invisível: Confiança e Percepção de Competência
Além dos impactos financeiros tangíveis, o “workslop” acarreta um custo “invisível”, mas igualmente prejudicial: a erosão da confiança entre os membros da equipe. O estudo realizado pelo BetterUp revelou que 42% dos funcionários que receberam material gerado por inteligência artificial passaram a enxergar seus colegas como menos competentes devido à baixa qualidade do trabalho inicial. Adicionalmente, 53% relataram sentir frustração ao descobrir que o conteúdo com o qual estavam interagindo havia sido criado por uma máquina, e não por um colega humano, impactando a moral e a percepção de valor. Este dado sublinha um risco social importante: a inteligência artificial, embora uma ferramenta potente de colaboração quando bem gerenciada, tem o potencial de atuar como um agente de alienação e desunião. McGarry reitera que sua funcionalidade social e organizacional depende, de forma crítica, da metodologia de sua implementação.
IA como Amplificador, não Atalho
Para a professora Fabiana Raulino, autoridade em inteligência artificial generativa com foco em educação e empreendedorismo no Brasil, o workslop reflete mais sobre o comportamento humano na interação com a tecnologia do que sobre as limitações inerentes à própria IA. Ela enfatiza que o equívoco mais comum é empregar a inteligência artificial como um mero atalho para finalizar tarefas, ao invés de concebê-la como um poderoso instrumento capaz de ampliar o pensamento humano e as capacidades de inovação. Raulino compara a IA a um espelho, afirmando categoricamente: “A IA não é o problema. Ela reflete o que entregamos a ela. Se o comando é raso, o resultado será raso”. Isso significa que o problema não reside na máquina em si, mas na falta de contexto, de detalhe e de intencionalidade que o usuário fornece às ferramentas.

Imagem: infomoney.com.br
A utilização inteligente da inteligência artificial, na visão de Raulino, implica em automatizar tarefas repetitivas e burocráticas, liberando assim o potencial humano para atividades que demandam criatividade, pensamento crítico e decisão estratégica. Essa abordagem exige a definição clara do contexto das tarefas, a estruturação de “prompts” (instruções dadas à IA) mais detalhados e abrangentes, além de um investimento contínuo e obrigatório em letramento digital. O letramento digital, por sua vez, refere-se à capacidade de não apenas operar a tecnologia de maneira básica, mas de compreendê-la profundamente e direcioná-la de maneira eficaz para otimizar os resultados e os processos organizacionais.
Benefícios da IA Bem Empregada e Ganhos de Produtividade
Quando utilizada de maneira adequada e estratégica, Fabiana Raulino aponta que a inteligência artificial tem o poder de gerar benefícios tangíveis, tais como aumentos notáveis na produtividade, a promoção da inclusão e o estímulo ao aprendizado contínuo. Ela ilustra esses ganhos com diversos exemplos práticos em diferentes setores. No campo do entretenimento, estúdios independentes de desenvolvimento de jogos têm utilizado a IA para criar títulos de alta qualidade que antes seriam exclusividade de grandes indústrias (“triple A”). No campo da pesquisa científica, ferramentas avançadas como Perplexity e Connected Papers estão capacitando acadêmicos a acelerar suas descobertas, otimizando o processo de análise e organização de vastos volumes de informações. Da mesma forma, muitos profissionais atualmente produzem relatórios complexos, vídeos e apresentações de alta qualidade em questão de minutos, um nível de eficiência e acabamento que dificilmente seria alcançado individualmente e no mesmo lapso de tempo, demonstrando o potencial transformador da ferramenta quando controlada e bem aplicada.
A essência dessa nova mentalidade, conforme Raulino, é clara: o objetivo não é que a inteligência artificial faça o trabalho completo de uma pessoa, substituindo-a, mas sim que ela liberte tempo precioso para atividades que são intrinsecamente humanas, como pensar, criar, inovar e tomar decisões estratégicas complexas. Esta visão é corroborada por estudos da renomada consultoria McKinsey, que indicam que a adoção estratégica e ponderada da IA pode injetar cerca de US$ 4,4 trilhões em produtividade na economia global nos próximos anos, ressaltando o potencial transformador da ferramenta quando implementada com inteligência e controle.
O Desafio de 2026: Equilíbrio e Maturidade no Uso da IA
Para o ano de 2026 e adiante, o desafio central das empresas será atingir um equilíbrio harmonioso entre a busca por eficiência operacional e a manutenção da profundidade intelectual em seus produtos e serviços. Isso exige o abandono de um uso indiscriminado da inteligência artificial em favor de uma mentalidade mais madura e discernida: usar menos, mas com maior qualidade, propósito e controle. A verdadeira produtividade, afinal, não emana puramente da automação tecnológica, mas sim da intenção humana clara, da coordenação eficiente das equipes e da qualidade inerente que os seres humanos aportam por trás da interface com a tecnologia. Em suma, a tecnologia é uma ferramenta cujo valor final é determinado pela inteligência e critério de quem a opera.
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A crescente adoção da inteligência artificial por empresas representa uma fronteira promissora de inovação, mas os riscos do “workslop” alertam para a necessidade de um uso mais estratégico, consciente e controlado. Ao focar em governança de IA, letramento digital e valorizar o potencial humano para atividades criativas e estratégicas, organizações podem transformar a IA em um poderoso motor de inovação e eficiência, em vez de uma fonte de prejuízos e frustração. Mantenha-se informado sobre as tendências tecnológicas e seus impactos no mundo corporativo acompanhando nossa editoria de Economia e outras análises aprofundadas em nosso blog.
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