Em uma transição que marca uma nova fase no telejornalismo brasileiro, o jornalista William Bonner anunciará oficialmente sua saída do comando do principal noticiário noturno do país, o Jornal Nacional, em novembro deste ano. A decisão encerra um ciclo de quase três décadas à frente da bancada, onde Bonner apresentou aproximadamente 10 mil edições do programa de maior audiência nacional. Seu sucessor será César Tralli, atualmente âncora do Jornal Hoje.
A mudança de cadeiras foi revelada em uma coletiva de imprensa com Bonner, que descreveu o evento como um “movimento tectônico” na história do renomado telejornal. A saída do veterano âncora não significa, no entanto, seu desligamento da emissora. William Bonner assumirá a apresentação do programa semanal Globo Repórter, onde estará ao lado de Sandra Annenberg. Esta nova etapa em sua carreira o permitirá retomar funções como apresentador e repórter, sem as responsabilidades de chefia de um programa diário, posto que ele acumulou no Jornal Nacional desde 1999.
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### A Trajetória de William Bonner no Jornal Nacional
William Bonner estreou na bancada do [Jornal Nacional](https://seudominio.com.br/historia-jornal-nacional) em 1º de abril de 1996, dividindo a apresentação inicialmente com Lillian Witte Fibe. Eles sucederam a dupla icônica formada por Cid Moreira e Sérgio Chapelin, figuras que haviam consolidado o formato e se tornaram os rostos mais reconhecidos do noticiário. A entrada de Bonner e Fibe representou uma reformulação significativa, introduzindo uma abordagem em que jornalistas, e não apenas locutores, ocupavam a posição de âncoras, trazendo uma conexão mais direta com as notícias.
Durante sua longa permanência no telejornal, William Bonner testemunhou e relatou inúmeros eventos históricos. Entre os momentos que marcadamente mudaram o curso da história, ele recorda a cobertura dos ataques às Torres Gêmeas, em Nova York. Ele também se emocionou ao noticiar a morte de colegas como Tim Lopes e o lendário Cid Moreira, este último a quem se referiu como o detentor da voz mais conhecida da televisão brasileira, em um momento de particular comoção pessoal.
#### O Peso da Pandemia e a Quebra do Protocolo
Um dos episódios mais dramáticos e emocionais vivenciados por Bonner durante sua carreira, e o mais intenso de todos, ocorreu durante o auge da pandemia de COVID-19. Em um afastamento notável do protocolo tradicionalmente sisudo da bancada do Jornal Nacional, ele se levantou e proferiu um lamento público antes de apresentar o número de óbitos por coronavírus naquele dia. Em um discurso espontâneo e marcante, Bonner afirmou que o país estava “todos esgrimindo com loucos”, fazendo uma alusão direta à onda de *fake news* que, segundo ele, se sobrepunha à crise sanitária real enfrentada pela população.
O âncora revelou que esse foi o único momento em que expressou publicamente um sentimento de indignação, sem prévio alinhamento com a empresa ou consigo mesmo. A intensidade do período e a percepção de que jornalistas sacrificavam suas vidas pessoais para levar a informação, enquanto pessoas em posição de poder combatiam os fatos, gerou um ponto de ruptura emocional. Apesar de ter se desculpado por “perder o controle”, Bonner ressaltou que foi o instante mais dramático de sua trajetória profissional.
### A Evolução do Jornalismo com Bonner
Ao longo dos anos, William Bonner vinha quebrando a rigidez inerente ao papel de âncora, um processo que ele atribuiu a uma “manifestação do espírito do tempo” e que foi intensificado pela pandemia. Durante coberturas importantes, como as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, ele viajou até o estado, saindo dos estúdios do Rio de Janeiro, e não hesitou em expressar sua comoção diante das vítimas, posicionando-se mais próximo dos entrevistados.
A iniciativa de flexibilizar os códigos do Jornal Nacional, programa que se aproxima de seis décadas no ar, partiu do próprio Bonner. Essa flexibilização incluiu trazer mais movimento às passagens, utilizar planos abertos, promover conversas mais informais com repórteres em entradas ao vivo e buscar uma linguagem mais coloquial. Além disso, a edição do telejornal se tornou mais seletiva, abandonando a tentativa de abranger todo o noticiário do dia.
Renata Vasconcellos, que compartilhou a bancada e foi o rosto dessa transformação sutil do Jornal Nacional ao lado de Bonner, descreveu ambos como “passionais e sensíveis”. Ela enfatizou a proximidade da dupla com o público, estando diariamente nas casas das pessoas, o que os levou a trazer um “calor” maior para a apresentação.
### A Escolha de César Tralli e a Preparação da Sucessão
A televisão Globo planejou essa transição com cautela e estratégia ao longo de cinco anos. Ricardo Villela, diretor geral de jornalismo da emissora, classificou o Jornal Nacional como o maior telejornal no ar em uma democracia hoje, atraindo diariamente cerca de 30 milhões de brasileiros. Conscientes do peso da imagem de Bonner no telejornalismo nacional, a Globo utilizou pesquisas e o talento já consolidado de César Tralli, com mais de duas décadas de experiência na emissora, para definir o sucessor.
A decisão de escolher Tralli reflete a confiança da direção da Globo em sua capacidade de liderar o telejornal noturno. César Tralli, por sua vez, assume o posto ao lado de Renata Vasconcellos, que permanece na atração. Tralli, que deixa o comando do Jornal Hoje para Roberto Kovalick, destaca sua formação como “repórter na apresentação”. Com 15 anos dedicados à realização de matérias para o próprio Jornal Nacional, ele possui um conhecimento profundo de como o programa funciona, o que lhe confere grande responsabilidade, mas sempre com os “pés no chão”, como afirma. Ele também reconhece que “cada um tem seu estilo”, indicando que trará sua própria marca para a bancada.
### O Motivo da Despedida e os Planos Futuros
William Bonner, de 61 anos, detém o recorde de longevidade como âncora do principal telejornal da Globo desde sua criação, em 1969. Em almoço com jornalistas, Bonner explicou que sua saída da bancada, embora decidida há cinco anos em acordo com a emissora, não é uma despedida definitiva da Globo. O jornalista buscava dar ao anúncio uma “enorme leveza”, enfatizando que não é “o maior evento da Terra”.
Os principais motivadores de sua decisão residem na “exaustão muito louca” de anos intensos de trabalho e, principalmente, na saudade de seus dois filhos, que moram e trabalham fora do Brasil. Bonner descreve a ausência como “muito dolorosa”, o que o levou a querer cessar as funções de âncora enquanto ainda possui saúde para desfrutar de outras experiências. No Globo Repórter, sua função será exclusivamente de apresentador e repórter, sem envolver-se com a gestão do programa. Bonner salientou seu desejo de “não mandar em nada nem em ninguém”, expressando que o processo de chefia é “muito desgastante”. Apesar de reconhecer que as pressões e desafios inerentes à carreira não devem desaparecer, ele afirma ter “casca” e o objetivo de poder aproveitar a vida em um ritmo diferente.
### Um Novo Ciclo no JN
Ao longo da trajetória de William Bonner no Jornal Nacional, as colegas de bancada foram se alternando: Lillian Witte Fibe, seguida por Fátima Bernardes (em 1998), Patrícia Poeta (em 2011) e, por fim, Renata Vasconcellos, que chegou em 2014. A cadeira de editor-chefe do Jornal Nacional, que era de Bonner, será assumida por Cristiana Souza Cruz, profissional com experiência no escritório de jornalismo da Globo em Nova York, passagens pela GloboNews e seis anos como editora-adjunta, abaixo da hierarquia anterior. A troca representa mais um capítulo na constante renovação do principal telejornal do Brasil.
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William Bonner fará o anúncio oficial de sua saída na edição da próxima segunda-feira do Jornal Nacional, que coincide com o dia em que o programa celebra seus 56 anos no ar. Embora ele enfatize que o Jornal Nacional é “muito maior do que um indivíduo”, a emissora tem total consciência do impacto de sua imagem e da relevância da transição cuidadosamente orquestrada para os milhões de telespectadores. A chegada de César Tralli representa a continuidade do legado do programa, adaptando-se aos novos tempos com um profissional de vasta experiência e estilo próprio.
Com informações de Folha de S.Paulo

Imagem: www1.folha.uol.com.br
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