Em uma comparação estratégica de desenvolvimento, o Vietnã supera o Brasil em ritmo e resultados, conforme análise do advogado Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro. Enquanto a economia vietnamita, menor em volume atual, apresenta uma aceleração notável, o Brasil parece estagnado. Essa disparidade é visível em setores-chave como tecnologia, educação e agronegócio, onde o país asiático demonstra avanços significativos e um planejamento estratégico diferenciado.
No âmbito educacional, a performance do Vietnã no exame internacional Pisa revela um contraste dramático com o cenário brasileiro. Estudantes vietnamitas que se encontram entre os 10% de pior desempenho acadêmico registram resultados equiparados aos dos 10% melhores alunos brasileiros, mesmo incluindo as instituições de ensino privado do Brasil. O estudo aponta que, no Vietnã, mesmo alunos oriundos de famílias de menor poder aquisitivo atingem patamares de aprendizado consideravelmente superiores à média nacional brasileira, sublinhando a eficácia do sistema educacional local.
Como Vietnã Supera o Brasil em Tecnologia, Educação e Agro
A incursão estratégica do Vietnã no setor agropecuário é igualmente impressionante. Em vez de simplesmente aumentar a produção, o país priorizou a agregação de valor através de certificações e inovação. No segmento do café, por exemplo, o Vietnã, com uma história de cultivo mais recente em comparação ao Brasil, tornou-se o segundo maior exportador mundial, detendo aproximadamente 20% do mercado global. Para fins de comparação, o Brasil atualmente possui uma fatia de 37%. Além da exportação de grãos, o país asiático tem investido na criação de suas próprias redes de cafeterias, como a “Trung Nguyên Legend”, especializada em café vietnamita, que expandiu sua presença para mercados internacionais como Califórnia, Texas, Oregon e Xangai. Outro exemplo da habilidade vietnamita em dominar mercados é a castanha de caju, uma planta nativa do Nordeste brasileiro, cujo mercado global hoje é amplamente controlado pelo Vietnã. Adicionalmente, dados curiosos mostram a ascensão da China como maior exportador mundial de Tambaqui, peixe amazônico.
Contudo, é na área de tecnologia que o desempenho vietnamita mais se destaca. O Vietnã tem traçado uma rota tecnológica autônoma, diferenciando-se de um modelo de replicação. Essa abordagem é intrinsecamente ligada à sua história de conflitos armados com Estados Unidos e China, impulsionando a nação a buscar independência e evitar qualquer forma de dependência tecnológica de potências estrangeiras.
Em 2024, as exportações vietnamitas de produtos tecnológicos atingiram a marca impressionante de US$ 124 bilhões (equivalente a R$ 662,6 bilhões). Esse valor representa cerca de 40% do total das exportações do país. Em contrapartida, o Brasil exportou apenas US$ 8 bilhões (R$ 42,7 bilhões) em tecnologia, com grande parte proveniente da Embraer, e esse setor corresponde a menos de 3% das exportações brasileiras. Os números demonstram uma clara prioridade e investimento substancial do Vietnã no desenvolvimento de sua base tecnológica.
Essa forte aposta em tecnologia fundamentou a construção de uma infraestrutura própria e robusta. Um passo crucial foi a criação de um modelo fundacional de inteligência artificial denominado VinaLLaMA. Partindo de uma base de IA de código aberto (LLaMA-2), o modelo foi cuidadosamente retreinado com bilhões de “tokens” na língua vietnamita e meticulosamente ajustado para o contexto cultural e linguístico do país. Atualmente, o VinaLLaMA é considerado um dos mais avançados em sua categoria, servindo como uma plataforma aberta para o desenvolvimento de diversas aplicações nacionais de IA.
Paralelamente ao desenvolvimento de IA, o Vietnã tem feito investimentos estratégicos em centros de dados (datacenters) e bases de dados locais. Essa infraestrutura própria é fundamental para suportar a crescente demanda gerada pelo avanço da inteligência artificial e garantir a soberania no gerenciamento de dados do país, consolidando uma base sólida para a transformação digital.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A abordagem legislativa vietnamita também se diferencia da brasileira. Enquanto o Brasil tem focado majoritariamente na regulação da IA, frequentemente se espelhando em modelos europeus e atuando de maneira fragmentada em outros temas, o Vietnã aprovou em junho uma legislação chamada DTI. Essa lei adota uma visão ampla e integrada, articulando as ambições tecnológicas do país, que incluem inteligência artificial, semicondutores, dados, conteúdo digital e capacitação da força de trabalho. O teor dessa legislação é tido como referência e leitura obrigatória para formuladores de políticas e interessados em temas tecnológicos no Brasil, mostrando um caminho coeso para o desenvolvimento.
Enquanto o Brasil parece seguir uma rota menos estratégica, adotando a regulação europeia de IA e negligenciando um planejamento mais amplo, o Vietnã se destaca pela inteligência e estratégia em seu caminho para o desenvolvimento. As diferenças no crescimento econômico ao longo dos anos ilustram essa disparidade: o Vietnã teve um crescimento anual médio de 8,8% desde 1994, quando seu PIB per capita era de apenas US$ 284, e projeta um crescimento de 7% em 2025. Para o mesmo período, o Brasil projeta um crescimento de 2%. Esses dados sublinham a necessidade de uma reorientação estratégica, com o Brasil buscando inspiração em modelos bem-sucedidos como o do Vietnã, em vez de focar excessivamente na Europa.
Para uma visão mais aprofundada sobre as economias emergentes e o impacto de políticas públicas no desenvolvimento, um estudo recente do Banco Mundial oferece dados relevantes sobre o crescimento econômico e as estratégias de modernização em países como o Vietnã. Acesse mais informações em World Bank – Vietnã: Visão Geral para compreender o contexto econômico.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
Em suma, a trajetória do Vietnã demonstra a importância de um planejamento estratégico coeso e investimentos focados em educação e tecnologia para alcançar um desenvolvimento robusto. A análise de Ronaldo Lemos serve como um alerta e um convite à reflexão para o Brasil, evidenciando que uma reavaliação de prioridades e estratégias é essencial. Para continuar explorando temas sobre o impacto das políticas públicas e econômicas na sociedade, siga nossa editoria de Análises e não perca os próximos artigos.
Crédito da imagem: Vincent Thian-02.set.25/via REUTERS
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