Vereadores de Fortaleza recebem texto do novo Plano Diretor para análise e votação
A Câmara Municipal de Fortaleza oficialmente acolheu, na última quarta-feira (29), o documento-base do aguardado Plano Diretor Participativo e Sustentável da capital cearense. A proposta, considerada um marco fundamental para o ordenamento territorial, estabelece as diretrizes que nortearão o desenvolvimento urbano da cidade ao longo da próxima década. O presidente da Casa Legislativa, Léo Couto (PSB), manifestou publicamente a intenção de submeter o projeto à votação antes do encerramento das atividades parlamentares, programado para dezembro.
Essencialmente, o Plano Diretor atua como a lei mestra que pauta e estrutura o planejamento urbano municipal. Ele abrange desde a rigorosa definição de zonas que devem ser ambientalmente preservadas, até a estipulação de parâmetros para a edificação de novos imóveis e a salvaguarda de edifícios históricos, elementos cruciais para a identidade cultural da cidade. Este complexo documento legal delineia não apenas o que pode ser construído e onde, mas também as áreas estratégicas para o crescimento futuro da infraestrutura e dos serviços, conforme explicam especialistas no tema. Para mais informações sobre a importância do planejamento urbano para as cidades, pode-se consultar conteúdos especializados, como os divulgados pelo Ministério das Cidades.
Vereadores recebem novo Plano Diretor de Fortaleza para votação
A mensagem oficial referente ao projeto, identificado como lei complementar nº 49/2025 e composto por impressionantes 619 artigos, foi entregue formalmente aos parlamentares. A comitiva responsável por essa entrega significativa foi encabeçada por Artur Bruno, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan), que estava acompanhado por diversos membros do secretariado do prefeito Evandro Leitão (PT). A proposição chegou ao Poder Legislativo sob o regime de urgência, o que significa que ela terá prioridade na tramitação e foi imediatamente pautada para apresentação formal aos vereadores ainda nesta mesma quarta-feira.
Tramitação e Aprovação na Câmara de Fortaleza
O processo legislativo previsto para o novo Plano Diretor segue etapas definidas. Após a apresentação inicial em plenário, a matéria será encaminhada para a Comissão Especial do Plano Diretor, um grupo específico de vereadores encarregado de analisar detalhadamente cada um dos artigos e suas implicações. Depois de passar por esta minuciosa análise com as devidas adequações e pareceres, o projeto retornará ao plenário principal da Câmara. Lá, será submetido à votação de todos os vereadores, com a expectativa expressa pelo presidente da Casa de que esse rito final seja concluído antes do recesso parlamentar de fim de ano.
Fim de Uma Longa Espera para o Plano Diretor da Capital Cearense
A aprovação do atual projeto, se concretizada, representará o fim de uma espera de aproximadamente seis anos por uma definição do novo Plano Diretor de Fortaleza. O plano anterior, inicialmente aprovado em 2009, possuía um prazo de validade de dez anos, o que implicava que sua substituição deveria ter ocorrido em 2019. Contudo, diversas intercorrências e desafios postergaram essa atualização, gerando uma lacuna no planejamento urbano formal da cidade. A relevância desse atraso é grande, pois um Plano Diretor desatualizado pode acarretar decisões urbanísticas sem a devida base legal moderna e as considerações mais recentes de sustentabilidade e desenvolvimento social.
Como Funciona o Plano Diretor: Zonas e Regras Específicas
De forma concisa, o Plano Diretor tem a função essencial de “dividir” o território municipal em diferentes zonas. Cada uma dessas zonas possui normas específicas que regulam a ocupação do solo e as possibilidades de construção, sempre em conformidade com as características predominantes daquela área. Assim, as regras variam significativamente: áreas predominantemente residenciais terão limitações distintas das comerciais, industriais, históricas ou cobertas por vegetação. Em algumas regiões, por exemplo, edifícios altos (conhecidos como “superprédios” na reportagem original) podem ser permitidos e incentivados, enquanto em outras a verticalização é severamente restrita. É comum, inclusive, que um mesmo bairro abranja múltiplas zonas, o que resulta em diferentes diretrizes urbanísticas para porções de um mesmo setor geográfico.

Imagem: g1.globo.com
A Conferência da Cidade: Participação e Mudanças Essenciais
Na semana anterior ao recebimento pela Câmara, precisamente entre a sexta-feira (24) e o domingo (26), o texto preliminar do Plano Diretor foi objeto de ampla discussão e análise por representantes da sociedade civil. Isso ocorreu durante a “Conferência da Cidade”, um evento crucial que reuniu centenas de participantes no Centro de Eventos de Fortaleza. Inicialmente, o documento apresentado na conferência contava com 621 artigos. No decorrer dos debates, dois desses artigos foram suprimidos e impressionantes 173 modificações foram sugeridas pelos participantes. Desse total de sugestões, 170 foram integralmente aprovadas e, consequentemente, incorporadas à proposta que agora está sob o escrutínio dos vereadores.
Um dos pontos mais notáveis das mudanças propostas pela sociedade civil e aprovadas diz respeito ao entorno do aeroporto da cidade. Originalmente, havia uma intenção de transformar 100% da área em questão em uma Área de Proteção Ambiental (APA). Esta região esteve no centro de uma recente polêmica, quando uma porção de Mata Atlântica foi desmatada para viabilizar obras relacionadas à expansão da infraestrutura aeroportuária. Após intensos debates na Conferência da Cidade, os participantes optaram por converter o entorno do aeroporto em uma Zona de Proteção Ambiental (ZPA). Essa mudança oferece um conjunto de regras mais flexíveis, que permitiria a continuidade de obras importantes, como a construção da nova sede do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), também localizada em uma área de Mata Atlântica. Contudo, essa definição da ZPA ainda inviabilizaria a construção de galpões logísticos, um objetivo prévio da concessionária do aeroporto, buscando um equilíbrio entre desenvolvimento e conservação.
Destaques das Mudanças Apresentadas Pelo Ipplan
As modificações sugeridas pelos delegados que participaram da Conferência serão integralmente avaliadas pelos vereadores, que, conforme sua prerrogativa legal, detêm a autonomia para propor alterações adicionais ao texto e apresentar emendas. Durante a cerimônia de entrega do novo Plano Diretor à Câmara, o presidente do Ipplan, Artur Bruno, fez questão de sublinhar as principais inovações e aprimoramentos que o documento contempla, distribuídos em pilares estratégicos para o desenvolvimento urbano e social de Fortaleza:
Meio Ambiente: Ampliação de Áreas Protegidas
- Um significativo aumento de 38% foi registrado na macrozona de área natural.
- Houve também uma elevação de 18% nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que são zonas onde as construções são terminantemente proibidas para garantir a conservação plena da biodiversidade e dos ecossistemas.
- A inclusão das Zonas de Preservação Ambiental (ZPA) e das Zonas de Uso Sustentável reforça a preocupação com o uso consciente e a preservação dos recursos naturais.
Proteção do Patrimônio Cultural: Novos Mecanismos de Salvaguarda
- Foi criada a figura do Fundo de Proteção ao Patrimônio Cultural, um instrumento financeiro inédito destinado a viabilizar ações e projetos para a preservação de edifícios e sítios históricos da cidade.
- O número de zonas específicas para a proteção do patrimônio cultural foi duplicado, passando de quatro para oito áreas, demonstrando um reforço na atenção à memória e à identidade arquitetônica de Fortaleza.
Aumento das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS): Inclusão e Habitação
- A quantidade de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), áreas destinadas prioritariamente à habitação popular e à regularização fundiária, teve um incremento substancial, subindo de 45 para 87.
- Uma inovação é a criação das ZEIS de Reparação (Tipo 4), focadas na melhoria de grandes conjuntos habitacionais já estabelecidos, contemplando tanto a requalificação de suas áreas internas quanto de seu entorno, visando aprimorar a qualidade de vida dos moradores.
Crescimento Ordenado e Sustentável: Incentivo à Construção em Áreas Estruturadas
- O Plano Diretor visa incentivar a construção civil, incluindo a de edifícios de grande porte, prioritariamente em áreas que já dispõem de infraestrutura consolidada. Isso inclui regiões com acesso a redes de água e esgoto, transporte público eficiente (como avenidas, metrô e VLT), visando um desenvolvimento mais coeso e racional, evitando a dispersão urbana desorganizada e otimizando os investimentos públicos em infraestrutura.
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Em suma, a chegada do Novo Plano Diretor à Câmara de Vereadores de Fortaleza representa um divisor de águas para o futuro da cidade, prometendo uma década de desenvolvimento mais organizado e sustentável, fundamentado em intensa participação pública. As decisões a serem tomadas pelos vereadores, especialmente até o mês de dezembro, definirão os rumos da ocupação do solo, preservação ambiental e desenvolvimento social da vibrante capital cearense. Para se aprofundar em mais temas sobre o panorama municipal e regional, convidamos você a explorar outras análises e notícias relevantes em nossa editoria de Cidades.
Crédito da Imagem: Kilvia Muniz/SVM



