Venezuela acusa EUA de ‘guerra não declarada’ no Caribe
A tensão se eleva na América Latina, com a Venezuela acusa os EUA de “guerra não declarada” no Caribe, após a mobilização de navios americanos na região. O Ministério Público venezuelano, por sua vez, solicitou à Organização das Nações Unidas (ONU) a instauração de uma investigação formal sobre os recentes ataques a embarcações que supostamente pertenciam a narcotraficantes. Esta série de eventos, ocorrida na sexta-feira (19), marca uma escalada nas relações diplomáticas já fragilizadas entre Caracas e Washington.
Desde o início de setembro, os Estados Unidos enviaram uma frota de oito embarcações para o Mar do Caribe, alegando operações de combate ao tráfico de drogas. Segundo informações divulgadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, essas ações resultaram na neutralização de três pequenas embarcações e um total de 14 mortos. O incidente intensificou a retórica entre os dois países, reacendendo debates sobre soberania e métodos de combate ao crime organizado em águas internacionais, levantando preocupações sobre as mortes em tais confrontos.
Venezuela acusa EUA de ‘guerra não declarada’ no Caribe
Em resposta direta aos movimentos militares de Washington, o regime de Nicolás Maduro classificou as operações como “uma guerra não declarada”. Vladimir Padrino López, ministro da Defesa da Venezuela, ecoou a posição do governo durante um pronunciamento sobre exercícios militares que envolvem 2.500 efetivos na ilha caribenha de La Orchila, realizados na semana corrente. Padrino López enfatizou a gravidade dos incidentes, afirmando que “é uma guerra não declarada, e vocês já veem como as pessoas, sendo ou não narcotraficantes, foram executadas no Mar do Caribe”.
O ministro Padrino López foi veemente em seu questionamento sobre a forma como as operações americanas foram conduzidas, criticando a suposta “execução” dos tripulantes “sem direito à defesa”. Ele argumentou que, dada a avançada tecnologia e poderio naval dos Estados Unidos, haveria capacidade de interceptar as embarcações — supostamente vindas da Venezuela — antes de atacá-las. “Com tanta tecnologia e tanto poder e não ter a capacidade de interceptar uma embarcação nos espaços aquáticos do Mar do Caribe…”, declarou o chefe da pasta da Defesa, expressando incompreensão e censura pelas táticas empregadas.
Poucas horas após estas declarações, Donald Trump utilizou sua plataforma Truth Social para divulgar um novo vídeo. As imagens exibiam um ataque militar dos Estados Unidos a uma lancha que seria usada no narcotráfico, com um saldo de três “narcoterroristas” mortos. Diferente de comunicados anteriores, o presidente não especificou a proximidade do ataque com a costa venezuelana, mencionando apenas que a ação ocorreu dentro da área de responsabilidade do Comando Sul dos Estados Unidos, que abrange as regiões da América Central, América do Sul e o próprio Caribe.
Manobras Militares Venezuelanas Ampliam a Tensão Geopolítica
Diante da pressão e das acusações americanas, a Venezuela deu início, na quarta-feira (17), a uma série de exercícios militares em La Orchila. As manobras, com duração de 72 horas, foram realizadas em uma ilha venezuelana estratégica, localizada a aproximadamente 65 quilômetros da costa. Curiosamente, essa localidade é próxima do ponto onde, no último fim de semana, os Estados Unidos interceptaram uma embarcação pesqueira por oito horas, elevando ainda mais o patamar de atrito entre os dois países, que se mantêm em um tenso embate diplomático.
Estes exercícios foram planejados como uma resposta direta ao deslocamento naval americano, que justifica suas operações com a acusação de que o presidente venezuelano Nicolás Maduro lidera um cartel de narcotraficantes, oferecendo, inclusive, uma recompensa de US$ 50 milhões (equivalente a R$ 266 milhões) por sua captura. A televisão estatal venezuelana transmitiu imagens das manobras, onde, segundo Vladimir Padrino López, foram disparados “mísseis das classes C-802 e C-M90”, além de outros foguetes, demonstrando o poder de defesa do país caribenho.
Em meio a essa escalada militar, na quinta-feira (18), Nicolás Maduro anunciou que militares oferecerão suporte e treinamento a civis para o uso de armas, visando fortalecer a defesa nacional. Esta medida sublinha a gravidade da crise e o nível de preparação que o governo venezuelano busca atingir diante das ameaças externas, mobilizando a população civil para a participação em estratégias de segurança.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Pedidos de Investigação e Divergência de Posições
As relações entre Venezuela e Estados Unidos, que se encontram sem vínculos diplomáticos desde 2019, permanecem em um estado de profunda tensão. Nesse cenário, figuras políticas venezuelanas têm se posicionado sobre a crise. Henrique Capriles, líder da oposição e ex-candidato à presidência em duas ocasiões, manifestou sua posição “antiguerra”. Capriles, que atua como deputado desde julho, declarou à imprensa: “Eu continuo acreditando que a solução não é militar, mas política. Sou antiguerra”, indicando um caminho alternativo à escalada bélica.
Simultaneamente, Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, solicitou à ONU que investigue o que ele descreveu como “crimes contra a humanidade” cometidos pelos Estados Unidos. Em um comunicado à imprensa, o procurador afirmou que “o uso de mísseis e armas nucleares para assassinar em série pescadores indefesos em uma pequena embarcação são crimes contra a humanidade que devem ser investigados pela ONU”, ressaltando a seriedade das acusações. A gravidade de tais alegações perante um organismo internacional de alta autoridade demonstra a intensificação da pressão diplomática venezuelana. Para aprofundar no contexto de operações militares em águas internacionais e sua conformidade com a lei, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre paz e segurança internacional frequentemente debatem os limites e a legalidade de tais intervenções, o que reforça a posição venezuelana de buscar um fórum de mediação e julgamento internacional.
O chanceler venezuelano, Yván Gil, também reforçou o apelo do país, informando que a Venezuela fez um pedido formal ao Conselho de Segurança da ONU. O objetivo é exigir o cessar imediato das ações militares americanas na área do Caribe. Segundo Gil, as próprias autoridades dos Estados Unidos teriam admitido que as operações resultaram em “assassinatos extrajudiciais de civis, com a intenção de semear terror entre nossos pescadores e nosso povo”, uma grave acusação que o país busca legitimar internacionalmente e que exige respostas.
A representação diplomática da Venezuela na ONU tem sido ativa nesse processo. O embaixador venezuelano, Alexander Yánez, expôs detalhadamente a posição de Caracas “ante a ameaça militar dos EUA”, conforme explicou o chanceler Gil, indicando uma coordenação diplomática para dar visibilidade global às denúncias do país. A mobilização da diplomacia visa solidificar o argumento de que as ações dos EUA violam princípios internacionais.
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Em resumo, a crise no Mar do Caribe acentua a deterioração das relações entre Venezuela e EUA, com Caracas acusando Washington de “guerra não declarada” e solicitando uma investigação da ONU. Os eventos, que incluem manobras militares e acusações de execuções sumárias, reforçam a urgência de uma solução política. Para acompanhar os desdobramentos desta e outras questões de impacto global, continue lendo nossa editoria de Política e fique por dentro das últimas análises.
Crédito da imagem: Leonardo Fernandez Viloria – 15.set.2025/Reuters
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