A Venezuela levantou graves acusações contra os Estados Unidos, alegando o uso de inteligência artificial (IA) para forjar um vídeo de um ataque a uma embarcação. O vídeo, divulgado pelo presidente norte-americano Donald Trump nesta terça-feira, mostra um suposto barco que teria partido da Venezuela transportando substâncias ilícitas rumo aos EUA, sendo alvejado por forças americanas. A polêmica cresce em um cenário de **relações diplomáticas** já tensas entre as duas nações.
O ministro da Comunicação da Venezuela, Freddy Ñáñez, foi o responsável por lançar as duras críticas, utilizando seu canal oficial no Telegram para se manifestar. Em sua publicação, Ñáñez apontou o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, como supostamente envolvido na criação artificial do conteúdo. Para o representante venezuelano, o vídeo em questão é categoricamente falso.
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### Acusações Venezolanas e a Avaliação de IA
Freddy Ñáñez compartilhou uma imagem em seu canal do Telegram que detalhava o comando que ele havia inserido no Gemini, o chatbot de inteligência artificial desenvolvido pelo Google. A interação consistiu na apresentação do vídeo ao programa, seguida de uma simples pergunta em espanhol: se o conteúdo havia sido criado utilizando IA. Segundo o ministro venezuelano, a resposta fornecida pelo Gemini, em inglês, indicava que era “altamente provável” que as imagens tivessem sido geradas por inteligência artificial. Contudo, as justificativas apresentadas pelo chatbot eram pouco aprofundadas e careciam de detalhes substanciais, o que abriu margem para questionamentos sobre a profundidade da análise.
A fim de verificar a consistência dessas avaliações de IA, a reportagem da Folha realizou um experimento similar. A mesma consulta, com o mesmo vídeo, foi submetida ao Gemini. Curiosamente, a resposta obtida foi significativamente diferente daquela reportada por Ñáñez. Desta vez, a IA do Google respondeu em espanhol, afirmando que as imagens eram autênticas e não produto de inteligência artificial. A justificativa para essa nova conclusão foi baseada no histórico das publicações de Marco Rubio e Donald Trump, implicando que o contexto das declarações prévias dos líderes americanos corroborava a autenticidade do vídeo. Essa disparidade nas respostas da mesma ferramenta de IA ressalta a complexidade e a inconstância na capacidade de sistemas artificiais de determinar a autenticidade de conteúdos visuais em um cenário político sensível.
### O Anúncio de Trump e a Suposta Operação Anti-Drogas
No mesmo dia em que as acusações venezuelanas emergiram, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia feito um pronunciamento bombástico. De acordo com Trump, militares norte-americanos teriam interceptado e destruído uma embarcação que estaria a caminho dos EUA, supostamente carregada com uma quantidade significativa de drogas e proveniente da Venezuela. O líder americano informou que o ataque resultou na morte de onze pessoas a bordo da embarcação. “Nos últimos minutos, nós acabamos, literalmente, de destruir um barco carregado de drogas. Havia muitas drogas nesse barco”, declarou Trump a jornalistas no Salão Oval.
Mais tarde, em uma publicação em sua própria plataforma de mídia social, Trump forneceu detalhes adicionais sobre a operação. Ele especificou que a embarcação pertencia à facção criminosa venezuelana conhecida como Tren de Aragua. “Nesta manhã, seguindo minhas ordens, as Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque cinético contra narcoterroristas do Tren de Aragua”, escreveu o presidente. Trump classificou o Tren de Aragua como uma “organização terrorista estrangeira” que opera sob o controle de Nicolás Maduro. Segundo o presidente norte-americano, essa facção é responsável por assassinatos, tráfico de drogas e pessoas, e por diversos atos de violência tanto nos EUA quanto em todo o hemisfério ocidental.
### Detalhes do Ataque e Alerta Americano
O ataque, conforme as declarações de Donald Trump, ocorreu enquanto os terroristas se encontravam em águas internacionais. A embarcação, segundo a narrativa americana, estaria transportando drogas ilegais com destino aos Estados Unidos. Como desfecho da operação, onze terroristas foram mortos, e nenhum soldado americano sofreu ferimentos, de acordo com o presidente. Trump concluiu sua mensagem com um aviso direto: “Que isso sirva de aviso a qualquer um pensando em levar drogas aos EUA. CUIDADO!”.
Acompanhando o texto de Trump, foram divulgadas imagens que, supostamente, mostram o ataque. O vídeo tem início com uma pequena canoa em movimento, na qual é possível ver algumas pessoas a bordo. Poucos segundos após o início das imagens, o barco é atingido por um artefato que aparenta ser um míssil, provocando uma intensa explosão. Na sequência do vídeo, a lancha é mostrada em chamas em alto mar, envolta por fumaça e destroços. Essas imagens são o cerne da controvérsia levantada pela Venezuela.
### Confirmações e Falta de Provas do Pentágono
O episódio do ataque também foi confirmado pelo secretário de Estado Marco Rubio. Ele afirmou publicamente: “As Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque letal no sul do Carribe [sic] contra uma embarcação de drogas que havia partido da Venezuela”. Vale ressaltar que na declaração oficial de Rubio, a palavra “Caribe” foi grafada incorretamente. A despeito das confirmações de Trump e Rubio, até a noite de terça-feira, o Pentágono – sede do Departamento de Defesa dos EUA – não havia divulgado mais detalhes sobre a operação militar. Informações cruciais como a identidade das pessoas que morreram, provas concretas sobre a alegada carga de drogas da embarcação ou o seu destino exato não foram publicamente apresentadas pelo órgão. A ausência desses dados contribui para o debate e as suspeitas levantadas pela Venezuela sobre a veracidade do ocorrido e das imagens divulgadas.
Enquanto isso, a ditadura de Nicolás Maduro, embora representada por seu ministro de Comunicação na acusação de fraude de IA, não se manifestou oficialmente de maneira direta e institucional sobre o vídeo ou o ataque especificamente como na visão do governo. A reação mais abrangente veio do próprio Maduro.
### A Reação de Maduro e as Tensões Regionais
Na mesma noite de terça-feira, o líder venezuelano, Nicolás Maduro, se pronunciou em uma live transmitida através de suas redes sociais. Embora não tenha feito menção explícita ao ataque à embarcação divulgado por Trump, sua fala abordou a escalada de tensões na região e a presença de forças militares americanas. Maduro criticou abertamente o envio de navios de guerra dos Estados Unidos para o mar do Caribe, interpretando a movimentação como uma tentativa do secretário de Estado Marco Rubio de “manchar as mãos da família Trump de sangue”. O ditador venezuelano também rotulou Rubio, filho de exilados cubanos, como parte da “máfia de Miami”.
Maduro também reiterou as razões, de sua perspectiva, para a contínua pressão norte-americana sobre a Venezuela. Ele argumentou que os Estados Unidos buscam acesso irrestrito ao petróleo venezuelano. “Eles vêm pelo petróleo venezuelano, querem que ele seja grátis, temos a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta [maior] de gás, vêm pela terra fértil. Isso não é de Maduro, é do povo da Venezuela”, declarou. Essas afirmações ressaltam a visão de Caracas de que as ações dos EUA na região são motivadas por interesses econômicos e pelo controle de recursos naturais.
### O Poder e o Alcance do Tren de Aragua
O Tren de Aragua, o grupo criminoso narcotraficante venezuelano mencionado por Trump, é amplamente conhecido por sua atuação transnacional. A facção tem se expandido significativamente para além das fronteiras venezuelanas, estabelecendo parcerias e conexões com outras grandes organizações criminosas na América do Sul, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho, ambos poderosos grupos criminosos brasileiros. Essa capacidade de expansão e articulação rendeu-lhe o rótulo de “grupo terrorista” por parte dos Estados Unidos, ao lado de renomados cartéis mexicanos e influentes gangues salvadorenhas, sublinhando sua periculosidade e alcance global em atividades ilícitas. A acusação de Trump de que o grupo age sob controle de Maduro adiciona outra camada de gravidade às alegações.
### Aumento da Presença Militar dos EUA no Caribe
Os Estados Unidos têm reforçado consideravelmente sua presença militar nas águas próximas à Venezuela. Pelo menos sete navios de guerra foram enviados para a região, acompanhados de um submarino de ataque rápido com propulsão nuclear, o que demonstra uma robustez significativa de sua frota. A esquadra é tripulada por uma força conjunta de aproximadamente 4.500 marinheiros e fuzileiros navais. Além disso, Washington tem mantido operações com aviões espiões sobrevoando as águas adjacentes à Venezuela, indicando uma intensificação na coleta de inteligência e vigilância na área.
O governo Trump justifica esse movimento como uma ofensiva necessária contra o tráfico de drogas na região, um problema de segurança que afeta diretamente os EUA. No entanto, analistas políticos e de segurança internacional oferecem uma perspectiva diferente. Eles veem a vasta mobilização de recursos militares americanos na região não apenas como uma ação antidrogas, mas também como um gesto calculado para intensificar a pressão política e econômica sobre o regime de Nicolás Maduro, visando forçar mudanças ou exercer maior controle sobre o governo venezuelano em um contexto de disputa ideológica e estratégica.
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Até o momento, a Venezuela e os Estados Unidos mantêm posições divergentes sobre os fatos, com a ditadura venezuelana criticando a suposta manipulação de informações e Washington mantendo sua narrativa de combate ao narcoterrorismo, com as últimas acusações do ministro venezuelano trazendo a questão da inteligência artificial para o centro do debate sobre a autenticidade dos vídeos em meio a uma já complexa crise diplomática e geopolítica. A comunidade internacional aguarda mais detalhes e provas que possam esclarecer os múltiplos pontos de controvérsia em torno do ataque.
Com informações de Folha de S.Paulo

Imagem: www1.folha.uol.com.br
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