Varginha registra fechamento de 91 lojas em sete meses

O fechamento de lojas em Varginha atingiu um marco preocupante, com 91 estabelecimentos comerciais encerrando suas atividades no centro da cidade entre janeiro e julho deste ano. Os dados, compilados pela Receita Federal, evidenciam um cenário que acende um alerta para comerciantes e especialistas da região, reforçando a urgência de medidas por parte do poder público para revitalizar a área central e atrair o público consumidor.

A percepção de declínio na movimentação é visível nas ruas e avenidas que cortam o centro de Varginha (MG), onde placas de “Aluga-se” em imóveis comerciais vazios tornaram-se uma constante. Heliane Penha Ribeiro, uma aposentada que observa a transformação do local, destaca os desafios impostos pela infraestrutura: “A nossa estrutura de Varginha ainda ficou naquela estrutura antiga, com ruas estreitas, não tem muito espaço para estacionamento e aí isso complica bastante. […] O movimento do comércio diminuiu muito porque aí migrou-se para o outro lado da cidade”, avalia.

Varginha registra fechamento de 91 lojas em sete meses

A diminuição no fluxo de clientes impacta diretamente os resultados dos negócios. Apenas na Rua Deputado Ribeiro de Resende, por exemplo, seis salões comerciais permanecem vagos. No período analisado pela Receita Federal, de janeiro a julho, enquanto 91 empresas fecharam as portas, apenas 55 novas empresas foram abertas, resultando em um saldo negativo de 36 estabelecimentos ativos na região central da cidade.

Economia Local Sofre com Fechamento de Comércio

Para o professor e pesquisador de economia Guilherme Vivaldi, a situação atual inspira grande preocupação, em especial para os pequenos empreendedores. Ele ressalta as múltiplas consequências desse cenário. “A gente está falando de empresas que são familiares, então, está deixando um emprego formal às vezes para empreender. Temos os empregados que às vezes são desligados nesse momento. O próprio recolhimento de impostos que deixa de acontecer”, explica o especialista, apontando perdas em diversas frentes: empregos, geração de renda e arrecadação municipal, um panorama que pode fragilizar a economia da cidade.

As transformações nos hábitos de consumo impulsionadas pela tecnologia desempenham um papel relevante nesse panorama. O e-commerce surge como um competidor direto e robusto para as lojas físicas. Nos últimos dois anos, as vendas realizadas pela internet registraram um crescimento de 19% em território nacional, um fator que exige readaptação do varejo tradicional.

Desafios e Custos Imobiliários na Área Central

Além da concorrência online, outros entraves estruturais contribuem para a crise do comércio no centro de Varginha. A falta de estacionamento acessível, ruas estreitas e os elevados valores dos aluguéis comerciais são constantemente citados. Um levantamento feito pela EPTV, afiliada da Rede Globo, junto a sete imobiliárias, revela que os preços de aluguel para imóveis comerciais no centro podem oscilar significativamente, partindo de R$ 600 e alcançando mais de R$ 3.500, variando conforme a localização exata e o tamanho da propriedade.

Gabriela Gouvêa, uma empresária do ramo de roupas e calçados, ilustra a migração do comércio local. Sua loja, que contava com 50 anos de tradição no centro de Varginha, transferiu-se para o bairro Jardim Petrópolis em busca de condições mais favoráveis. Ela compara os custos e benefícios da mudança: “Pegamos uma loja relativamente mais nova, pagando em volta de R$ 5 mil de aluguel mais IPTU de R$ 2 mil, o IPTU comercial é um pouco mais caro, mais ou menos uns 100 m². Hoje em dia, estou em 140 m², pagando bem menos, na faixa de R$ 3.500, em um cômodo novo […] e com estacionamento incluído”, detalha Gabriela, reforçando a atratividade de imóveis com melhor estrutura e preços mais competitivos fora do núcleo central.

Imagem: g1.globo.com

Propostas e Reivindicações dos Comerciantes

Diante do quadro crítico, especialistas e comerciantes reiteram a necessidade de ações rápidas e eficazes por parte do poder público. Guilherme Vivaldi aponta a importância de “um trânsito que seja mais fluido, uma fiscalização com relação à limpeza local, uma infraestrutura para o consumidor poder descansar enquanto faz suas compras”. Ele sugere que, no curto prazo, a prefeitura se foque em fiscalizações e manutenções básicas de infraestrutura, como calçamento e gestão de resíduos, e, em um horizonte de médio e longo prazo, desenvolva “um plano mesmo para poder fazer uma reestruturação física sem perder as características locais”.

Fábio Carvalho, proprietário de uma loja de manutenção de celulares e representante do grupo “Comerciantes Unidos”, levou as preocupações do setor para uma audiência pública na Câmara de Vereadores. As reivindicações dos comerciantes são claras e abrangentes: “Está faltando estacionamentos, não tem vagas para as pessoas pararem. Está faltando segurança pública, iluminação, está faltando um atrativo para que as pessoas saiam de casa e venham até aqui ao centro”, declarou Carvalho, sintetizando os principais pontos de atrito.

Respostas e Análise da Prefeitura de Varginha

Em resposta às demandas crescentes e à visível crise comercial no centro da cidade, a Prefeitura de Varginha emitiu uma nota detalhando algumas de suas iniciativas. A administração municipal informou que a Guarda Civil Municipal intensificou as rondas na região, visando aprimorar a segurança. Além disso, destacou que o processo de revitalização do centro resultou em um aumento no número de vagas de estacionamento. A prefeitura também mencionou a realização de eventos específicos, buscando dinamizar a área central e atrair consumidores. Por fim, a nota ressalta que o executivo recebeu as solicitações da Associação Comercial local e está em processo de análise para implementar as medidas adequadas para solucionar os problemas apresentados pelos empresários.

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O cenário do comércio em Varginha revela uma complexidade de fatores que vão da mudança de hábitos de consumo à infraestrutura urbana, exigindo uma abordagem multifacetada do poder público e da iniciativa privada. Para mais análises sobre os desafios e oportunidades das economias locais, continue acompanhando nossa seção de Economia.

Crédito da imagem: Reprodução / EPTV