Pesquisadores do Reino Unido e do Brasil, com apoio da Fapesp, alcançaram um marco significativo na medicina veterinária com o desenvolvimento da primeira **vacina contra vírus fatal em filhotes de elefante**. Esta imunização pioneira combate um gênero do herpesvírus responsável por uma das maiores taxas de mortalidade em filhotes desses animais. O avanço, detalhado na prestigiada revista *Nature Communications* no dia 3 de outubro, representa uma esperança crucial para a preservação das populações de elefantes.
O estudo confirmou a segurança do imunizante por meio da abordagem conhecida como “prova de conceito”. Além disso, utilizando técnicas de imunologia de sistemas, os cientistas demonstraram que a vacina é capaz de gerar uma robusta resposta celular contra o agente infeccioso. Este patógeno é amplamente conhecido como herpesvírus endoteliotrópico dos elefantes (EEHV, na sigla em inglês), e tem sido uma ameaça constante, especialmente para os mais jovens da espécie.
Vacina inédita contra vírus fatal em filhotes de elefante
A pesquisa ressaltou a importância da resposta celular, que envolve as chamadas células T, consideradas fundamentais no combate viral. Conforme explicou Helder Nakaya, pesquisador sênior do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, e um dos principais autores da publicação, as vacinas tradicionais contra vírus muitas vezes priorizam a resposta humoral (de células B), focando na produção de anticorpos. No entanto, em infecções com múltiplos sorotipos, como é o caso do EEHV, uma resposta exclusivamente humoral poderia, paradoxalmente, agravar a condição da doença em caso de uma segunda infecção por outro sorotipo, similar ao que ocorre na dengue. A eficácia demonstrada das células T neste novo imunizante sugere um mecanismo de proteção mais complexo e duradouro.
O desenvolvimento da vacina contou com a fundamental participação de Nakaya, que recebeu apoio da Fapesp por meio dos programas Jovens Pesquisadores – Fase 2 e São Paulo Researchers in International Collaboration (Sprint), este último em colaboração direta com a Universidade de Surrey, no Reino Unido. Outro pesquisador brasileiro coautor do trabalho foi Frederico Moraes Ferreira, vinculado à Faculdade de Medicina da USP, que contribuiu significativamente para a pesquisa. O professor Falko Steinbach, da Escola de Veterinária da Universidade de Surrey e coordenador do estudo, elogiou a parceria. Ele afirmou que, em conjunto com os colaboradores de São Paulo, os testes que avaliaram as alterações sanguíneas antes e depois da imunização, com e sem o estímulo do antígeno, provaram “inequivocamente” que a vacina estava atingindo seu objetivo, estimulando de forma específica células T capazes de eliminar células infectadas e guiar o sistema imune na direção correta de combate ao EEHV.
Fases Rigorosas dos Testes
A fase experimental do estudo foi cuidadosamente delineada em duas etapas, tendo como voluntários três elefantes-asiáticos (Elephas maximus) adultos. Os animais, com idades que variavam entre 18 e 49 anos, residem no renomado Zoológico de Chester, localizado no norte da Inglaterra, local fundamental para a execução do trabalho prático.
Na primeira etapa da testagem, um dos elefantes recebeu a aplicação de um vetor viral, concebido para transportar duas proteínas específicas do herpesvírus dos elefantes. Após um período de três semanas, o mesmo animal recebeu uma dose de reforço (booster). Essa dose adicional consistia em proteínas purificadas, enriquecidas com um adjuvante, cuja função é potencializar a resposta imunológica. Decorridas mais três semanas, totalizando seis semanas desde a primeira aplicação, o protocolo foi repetido: uma nova administração da combinação original de vetor viral, seguida por outro reforço de proteínas e adjuvante três semanas depois. Essa sequência levou a uma observação inicial que totalizou nove semanas de estudo contínuo.
Com a notável ausência de efeitos colaterais nos elefantes testados e análises de sangue que confirmaram a ativação eficaz das células T pelos pesquisadores, uma segunda fase da investigação foi iniciada. Nesta nova etapa, o esquema de quatro ciclos foi integralmente replicado, porém, envolvendo dois elefantes distintos. Além disso, foi implementado um intervalo mais longo entre o primeiro e o segundo ciclos de imunização, estendendo a duração total do estudo para 14 semanas, permitindo uma análise mais prolongada da resposta imune. As amostras de sangue e plasma foram rigorosamente coletadas e analisadas em uma estrutura laboratorial especialmente instalada dentro do próprio zoológico, uma medida estratégica para assegurar a integridade das amostras e evitar qualquer comprometimento durante eventuais transportes, otimizando a qualidade dos dados.
Uma das análises realizadas foi a de transcriptoma completo, que permite verificar a expressão de todas as proteínas e, assim, identificar as vias imunológicas que foram ativadas pela vacina. Essa metodologia sofisticada contribuiu para um entendimento aprofundado sobre como o sistema imune dos elefantes respondia ao imunizante. Os resultados obtidos por meio dessas investigações sugerem fortemente que a vacina tem um grande potencial para prevenir a forma letal da doença do EEHV em filhotes com idades entre 1 e 8 anos, um grupo etário que representa o maior risco de fatalidade pela enfermidade.
Impacto na Conservação e Vantagens da Vacina
A pesquisa detalha que o EEHV provoca uma severa doença hemorrágica, capaz de levar os filhotes de elefante à morte em um período de apenas 24 horas, evidenciando a urgência da imunização. A letalidade em animais jovens ainda não é totalmente compreendida, mas o professor Steinbach sugere que o vírus é transmitido de elefantes mais velhos – que já desenvolveram imunidade natural – para os filhotes, provavelmente durante a fase de desmame. Nesse período crítico, quando os anticorpos fornecidos pelo leite materno diminuem e o sistema imune do filhote ainda está em desenvolvimento, há uma maior vulnerabilidade à infecção e ao rápido desenvolvimento da doença. Dessa forma, a vacina pode oferecer uma camada essencial de proteção, fortalecendo a sobrevivência dos mais jovens e apoiando diretamente programas de conservação que visam reverter o declínio dessas populações vulneráveis.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Outra característica altamente vantajosa da **vacina para filhotes de elefante** é a sua estabilidade e praticidade de logística. O imunizante pode ser estocado e transportado em temperaturas relativamente acessíveis, entre 2 e 8°C, ao menos por períodos mais curtos. Essa condição o torna particularmente adequado para uso em campo, superando obstáculos comuns que impedem a aplicação de vacinas em ambientes menos estruturados. Dessa forma, além dos elefantes mantidos em cativeiro, as grandes e muitas vezes dispersas populações selvagens também poderiam ser alvo de campanhas de vacinação, expandindo drasticamente o alcance e o impacto dos esforços de conservação.
Os pesquisadores envolvidos salientam ainda que a plataforma tecnológica utilizada no desenvolvimento desta vacina tem um potencial de adaptação que vai além dos elefantes. Essa mesma abordagem pode ser modificada e aplicada no combate a vírus emergentes e ainda desconhecidos que ameacem outras espécies em perigo de extinção, abrindo um leque de possibilidades para a proteção da biodiversidade global.
Desafios Atuais e o Futuro da Imunização
A situação dos elefantes-asiáticos é preocupante; a população selvagem é estimada em menos de 40 mil indivíduos, classificando-os como uma espécie em perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a autoridade máxima em avaliação de espécies ameaçadas. A espécie é a mais gravemente impactada pelo herpesvírus EEHV, embora relatos de casos tenham surgido também na espécie da savana africana, igualmente sob ameaça de extinção. Para mais detalhes sobre o status de conservação do elefante asiático, consulte o site da IUCN Red List.
Conforme Helder Nakaya, também pesquisador do Institut Pasteur de São Paulo, o próximo passo crucial para consolidar este avanço é a fase dois do estudo. Este estágio envolverá a repetição do procedimento em um grupo significativamente maior de animais, o que permitirá uma validação em larga escala dos resultados iniciais. Caso os resultados mantenham a mesma tendência positiva observada até agora, a perspectiva é que o interesse de outros zoológicos cresça consideravelmente, além de se abrir a porta para a imunização de populações selvagens, representando uma contribuição imensa e direta para a preservação destas majestosas espécies globais.
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Esta pesquisa promissora, que desenvolveu a primeira vacina para filhotes de elefante contra o devastador EEHV, não apenas eleva a esperança para a sobrevivência das espécies ameaçadas, mas também pavimenta o caminho para futuras inovações em saúde animal e estratégias de conservação. Continue explorando as análises detalhadas e as últimas notícias em nosso portal para se manter atualizado sobre os avanços científicos e os desafios enfrentados pela fauna global.
Crédito da imagem: Chester Zoo/Divulgação
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