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Trump Mente Sobre Tylenol e Autismo: Desmentindo Alegação

Trump Mente Sobre Tylenol e Autismo: Desmentindo Alegação A recente afirmação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o uso de Tylenol (cujo princípio ativo é o acetaminofeno ou paracetamol) durante a gravidez é uma das causas do autismo, tem gerado amplo debate. Essa declaração, que reverberou globalmente, alinha-se a narrativas conspiracionistas desprovidas […]

Trump Mente Sobre Tylenol e Autismo: Desmentindo Alegação

A recente afirmação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o uso de Tylenol (cujo princípio ativo é o acetaminofeno ou paracetamol) durante a gravidez é uma das causas do autismo, tem gerado amplo debate. Essa declaração, que reverberou globalmente, alinha-se a narrativas conspiracionistas desprovidas de qualquer base científica e tem sido energicamente refutada por órgãos de saúde e pela comunidade médica internacional. Especialistas destacam que o Tylenol continua sendo uma das poucas opções consideradas seguras para o tratamento de dor e febre em gestantes, sob orientação médica e com prudência.

Essa discussão ganhou força a partir da influência de Robert F. Kennedy Jr., figura conhecida por promover ideias sem comprovação científica sobre saúde pública, incluindo a controversa tese de que vacinas seriam responsáveis pelo autismo. Apesar de nenhuma evidência concreta corroborar tais afirmações, Kennedy Jr., atualmente no comando da Saúde dos EUA, é um mentor político de uma agenda que prioriza essas pautas, o que culminou na declaração de Trump, que chegou a classificá-la como “um dos maiores anúncios da história do país”. No entanto, é crucial separar espetáculo de ciência.

Conforme os fatos indicam, e para aprofundar na questão central do tema, **

Trump Mente Sobre Tylenol e Autismo: Desmentindo Alegação

**, a ciência tem sistematicamente descartado a suposta ligação. Em 2024, um estudo robusto conduzido na Suécia, com a participação de 2,48 milhões de crianças e publicado na revista *JAMA*, revelou uma diferença de risco mínima, de apenas 0,09%, para o desenvolvimento de autismo aos 10 anos entre crianças expostas e não expostas ao acetaminofeno. Após análises estatísticas aprofundadas, incluindo comparações intrafamiliares, essa diferença se tornou ainda mais insignificante, sugerindo uma mera associação, e não uma relação de causa e efeito.

A Rigorosa Análise Científica e a Ausência de Causalidade

A distinção entre associação e causalidade é fundamental para a compreensão científica. O fato de duas ocorrências coexistirem não implica que uma seja a origem da outra. Mesmo em casos de associação fraca, como a observada neste estudo, a relevância prática é nula. Dessa forma, as principais sociedades médicas dedicadas à gestação e à saúde fetal permanecem firmes em sua posição. A Society for Maternal-Fetal Medicine, em setembro de 2025, reiterou a segurança do acetaminofeno para dor e febre na gravidez, alertando que a febre não tratada representa riscos genuínos, enquanto os estudos que sugerem uma correlação com o autismo possuem severas limitações metodológicas e falham em estabelecer causalidade. O recado para as gestantes é simples: prudência sim, pânico não.

Um dado adicional que enfraquece a narrativa propagada por Trump provém do campo jurídico. Entre 2023 e 2024, a juíza federal Denise Cote, em um caso multidistrital envolvendo o Tylenol, rejeitou sucessivas testemunhas dos requerentes que alegavam causalidade geral, apontando falhas metodológicas e encerrando a maioria das ações. Em agosto de 2024, a mesma juíza voltou a barrar uma testemunha remanescente, desta vez sobre Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O veredito judicial foi inequívoco: não há embasamento científico robusto que sustente a tese de que o acetaminofeno cause autismo ou TDAH.

Por Que Mitos Como Este Persistem?

A persistência de boatos dessa natureza em círculos políticos e sociais levanta a questão do porquê tais afirmações, desprovidas de evidências, ganham ressonância. A resposta reside, em parte, na existência de estudos frágeis, de pequena escala e com vieses significativos, que acabam gerando manchetes impactantes e confirmando preconceitos existentes. Recentemente, algumas análises examinaram pesquisas onde os próprios pais, por meio de questionários online, relataram tanto o uso de acetaminofeno quanto sinais de autismo em seus filhos. Esse modelo de pesquisa apresenta sérios problemas, como a possibilidade de falhas na memória dos pais, imprecisões nas respostas e a não representatividade da amostra em relação à população geral.

Artigos que exploram essa abordagem, por exemplo, mostram casos onde pais foram questionados, no primeiro aniversário da criança, sobre o uso de antitérmicos e sintomas de autismo. Além disso, a baixa incidência de casos envolvendo meninas nestes estudos dificulta a análise comparativa confiável entre os sexos. Tais resultados, na linguagem científica, geram apenas correlações frágeis, ou seja, indicam eventos que parecem ocorrer juntos, mas sem a capacidade de inferir uma relação de causa e efeito.

Abordagens ainda mais tênues, conhecidas como análises ecológicas, utilizam compilações de dados secundários. Um artigo na revista *Entropy*, por exemplo, propôs que a combinação de alumínio, presente em vacinas como adjuvante, e acetaminofeno, poderia explicar a maior parte dos casos de autismo e TDAH. Para corroborar essa ideia, os autores recorreram ao VAERS, um sistema americano de notificações espontâneas de efeitos adversos. Este sistema, no entanto, é caracterizado por relatos voluntários, com inúmeras falhas, omissões e ruídos, carecendo de confirmação independente.

Esse tipo de raciocínio baseia-se em dados não verificados e correlações agregadas, transformando meras coincidências em bancos de dados pouco confiáveis em hipóteses causais. Nesse terreno, emergem erros clássicos da estatística, como confusão por indicação, viés de reporte e múltiplos testes, que podem fabricar ilusões em vez de revelar fatos científicos. Um argumento bastante antigo, por exemplo, sugeria que o crescimento no uso de acetaminofeno poderia justificar grande parte da chamada “epidemia de autismo”. Tal premissa é um raciocínio *pós hoc*, onde o aumento simultâneo de duas curvas é interpretado como causa e efeito, sem a apresentação de um mecanismo biológico plausível ou o controle de outros fatores que poderiam explicar a concomitância.

Incerteza e Evidências Inconclusivas

Até mesmo revisões mais especulativas que consideram o acetaminofeno como um possível fator de risco etiológico para Transtornos do Espectro Autista (TEA) e TDAH, no final das contas, reconhecem a falta de ensaios clínicos robustos e de métodos objetivos de medição da exposição durante a gestação. A conclusão honesta da ciência atual é de incerteza, com a presença de alguns sinais de associação em recortes muito específicos, mas sem qualquer causalidade estabelecida. Uma revisão sistemática publicada em *Environmental Health* em 2025, embora apontando evidências de associação, reconheceu diversas limitações: a heterogeneidade dos estudos, as disputas sobre fatores externos confusores, erros na mensuração da exposição ao medicamento, e o fato de que o efeito frequentemente desaparece ao comparar irmãos na mesma família.

De maneira didática, é imperativo compreender a diferença entre associação e causalidade. O aumento das vendas de limonada no verão não causa o aumento dos ataques de tubarões, embora ambos possam ocorrer concomitantemente. Reduzir as vendas de limonada não impactará os incidentes com tubarões. Assim, observar que dois fenômenos andam juntos não estabelece uma relação causal. Há indícios de coexistência em cenários muito pontuais, mas isso está muito distante de comprovar uma relação de causa e efeito, e políticas públicas sérias não podem ser embasadas em meras associações observacionais como se fossem verdades biológicas inquestionáveis. Para informações claras e baseadas em evidências sobre o autismo e o descarte de falsas causalidades, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oferece esclarecimentos abrangentes, reforçando o consenso científico e a prioridade em suporte e inclusão de indivíduos autistas.

O Perigoso Resgate de uma Lógica Eugenista

O papel de Robert F. Kennedy Jr. nessa narrativa é de um “vetor político”, com um longo histórico de distorcer a literatura sobre autismo e causas ambientais. Assumindo a cadeira de Secretário de Saúde americano, Kennedy Jr. promete um relatório “definitivo” e influencia o presidente Donald Trump a adotar medidas que contradizem o consenso clínico e regulatório vigente. O equívoco de Trump e Kennedy Jr. sobre a causalidade do autismo pelo uso de Tylenol não é apenas científico, mas também social, reintroduzindo no século XXI uma lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédias a serem combatidas.

Essa visão desumaniza o autismo, transformando-o em um vilão a ser erradicado e reduzindo pessoas autistas a meros sujeitos em uma “cruzada moral” por uma sociedade “pura” e homogênea, sem espaço para a diferença. A cobertura jornalística recente também ressalta que, diante do rumor sobre a ligação entre Tylenol e autismo, entidades renomadas como o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) reafirmaram a ausência de evidências diretas e confirmaram que o acetaminofeno figura entre as poucas opções seguras para dor e febre na gravidez, cujo não tratamento acarreta riscos conhecidos para o feto. Veículos como a CBS compilaram depoimentos de especialistas enfatizando a literatura conflitante e a centralidade do problema da “confusão por indicação”.

As Consequências Danosas da Desinformação para a Saúde Pública

O impacto prático de um anúncio presidencial dessa natureza, ao invés de proteger famílias, é o de ampliar o dano. Primeiramente, gera medo em gestantes que necessitam tratar febre e dor. É um fato que a febre alta durante a gravidez pode, de fato, aumentar riscos reais para o feto, e a orientação médica, há décadas, é utilizar o acetaminofeno com prudência, na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível. Ao semear pânico, o governo indiretamente impele pacientes a uma escolha prejudicial: não tratar a febre ou buscar analgésicos com perfis de risco mais problemáticos.

Em segundo lugar, essa retórica conspiratória reforça o estereótipo de que o autismo tem um culpado simples e recente, estimulando “caça às bruxas” domésticas, sentimentos de culpa materna e divisões em comunidades que militam pela inclusão. A grandiloquência discursiva desvia o foco do que realmente é essencial: o acesso a diagnósticos precisos, a intervenções baseadas em evidências e a políticas de suporte efetivas para as famílias.

Autismo: Dignidade, Não Doença, Não Cura

Autismo não é doença e não precisa de cura. Apresentar o autismo como um “erro biológico” a ser evitado não só distorce a ciência, mas legitima um “projeto de extermínio silencioso”. Não é casual que Kennedy Jr. tenha diminuído pessoas autistas a indivíduos que “nunca pagarão impostos, nunca terão um emprego, nunca jogarão beisebol, nunca escreverão um poema, nunca sairão em um encontro”. Tal discurso desumaniza, rebaixa pessoas autistas à condição de fardo social, e prepara o terreno para políticas que ignoram sua dignidade em prol de seu “apagamento”.

A conclusão dos dados científicos de maior qualidade aponta que, se existe alguma mínima e residual coexistência do acetaminofeno com o risco de TEA, ela é inconsistente entre diferentes designs de estudo, altamente sensível ao controle de fatores confundidores e não significa causalidade. As principais sociedades clínicas mantêm a recomendação de uso prudente do medicamento, quando clinicamente indicado. A justiça, por sua vez, desautorizou peritos que tentaram distorcer a associação em causalidade. No entanto, o governo, impulsionado por um promotor de teses desacreditadas, opta por intensificar a aposta no “bode expiatório” do momento. Chamar tal postura de “ciência” é um ultraje para pesquisadores, profissionais da saúde e, sobretudo, para aqueles que vivem com autismo diariamente.

Reafirmar que o autismo não é uma doença e não exige “cura” é essencial. O foco da sociedade deve estar em políticas públicas que promovam a emancipação: acessibilidade, educação inclusiva, cuidado humanizado e emprego apoiado. Discursos que tentam explicar o autismo por “causas misteriosas ou externas à genética” hoje não passam de especulação ou teorias da conspiração, pois inexiste pesquisa de qualidade que comprove consistentemente tais hipóteses.

Entendendo o Aumento dos Diagnósticos de Autismo

O aumento no número de diagnósticos de autismo é explicado pela evolução do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que passou a agrupar condições antes separadas em um mesmo espectro. Adicionalmente, grupos que foram historicamente negligenciados, como mulheres autistas e pessoas negras, têm hoje maior acesso a avaliações e diagnósticos, expondo desigualdades que mantinham essas populações invisíveis no debate público. Portanto, o aumento dos casos não é uma “epidemia” nem um “sinal de crise de saúde pública”, mas sim um indicativo de melhorias no diagnóstico, de um reconhecimento ampliado de pessoas autistas e de uma correção de décadas de exclusão – representando um avanço na democratização do acesso à saúde mental.

Infere-se que essa lógica patologizante em relação às deficiências já encontra eco no Brasil. Setores conectados ao lobby de “clínicas de autismo” importam esse discurso medicalizante e repressivo, vendendo a falsa promessa de “cura” e “normalização” como um “cuidado”. O roteiro é sempre o mesmo: transformar o autismo em um “problema a ser corrigido”, ao invés de reconhecer que pessoas autistas são sujeitos de direitos, com igualdade no direito à diferença e à dignidade. A ciência, contudo, não se curva a anúncios alarmistas ou conspiratórios. Embora Trump possa evocar estudos frágeis para sugerir uma associação, a verdade é que não existe prova de causalidade. Ao afirmar que o Tylenol causa autismo, o ex-presidente está difundindo uma inverdade.

Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona

Diante da complexidade das informações sobre autismo e saúde pública, é fundamental basear-se em fatos e evidências científicas sólidas, rejeitando narrativas conspiracionistas que visam desinformar. O debate em torno da alegação “Trump Tylenol Autismo” exemplifica como teorias infundadas podem desviar a atenção do que realmente importa para a comunidade autista: dignidade, inclusão e políticas de suporte eficazes. Para uma análise aprofundada sobre as nuances da política e saúde pública no cenário atual, convidamos você a explorar mais em nossa editoria de Política. Continue acompanhando Hora de Começar para se manter informado com credibilidade.

Foto: REUTERS/Kylie Cooper

Trump Mente Sobre Tylenol e Autismo: Desmentindo Alegação - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

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