Trump anuncia aumento de 10% em tarifas contra o Canadá

Economia

Donald Trump anuncia aumento de tarifas Canadá, especificamente elevando-as em 10%, foi a reação imediata do então presidente dos Estados Unidos. O anúncio, feito no sábado (25), surgiu como resposta direta a uma campanha publicitária promovida pela província canadense de Ontário, que utilizava o legado do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan em uma crítica às políticas de protecionismo comercial. Esta medida súbita escalou as tensões comerciais entre as duas nações vizinhas, já marcadas por negociações complexas sobre diferentes setores econômicos, adicionando mais uma camada de atrito a uma relação bilateral já delicada.

A peça publicitária, com a duração de 60 segundos, iniciou sua veiculação nos Estados Unidos em 16 de outubro. Nela, foram compilados trechos notáveis de um discurso proferido por Reagan em 1987, onde o ex-presidente americano se manifestava enfaticamente em defesa dos princípios do livre comércio. Visualmente, o anúncio trazia à tona uma série de imagens que remetiam a problemas econômicos: campos agrícolas americanos, estabelecimentos comerciais com as portas fechadas e famílias confrontando cenários de dificuldades financeiras. O ponto culminante da mensagem visual e auditiva ocorria com a sobreposição da frase “Ontario, Canada” ao panorama da Ponte Ambassador, um símbolo da conexão entre Windsor, no Canadá, e Detroit, nos EUA, sublinhando a proximidade geográfica e comercial.

Trump anuncia aumento de 10% em tarifas contra o Canadá

A propaganda elaborava essa conexão para um público-alvo muito específico dentro dos EUA, visando reforçar a mensagem contra o protecionismo. Essa estratégica campanha tinha como intuito principal questionar as posturas que vinham ganhando força na política americana. A reação incisiva por parte do presidente americano não demorou a vir, solidificando o embate entre as narrativas de livre comércio e protecionismo, e reorientando o debate sobre as relações econômicas bilaterais, que representam um pilar fundamental da interação entre os dois países.

A resposta de Trump à publicidade de Ontário não apenas foi célere, como também ocorreu em uma plataforma de sua escolha: a Truth Social. Através dessa mídia, o presidente dos EUA divulgou uma declaração contundente, na qual categorizava a propaganda canadense como uma “deturpação grave dos fatos” e um “ato hostil”. Em consequência direta a essa avaliação, ele ratificou a decisão de implementar um incremento de 10% nas tarifas já existentes sobre o Canadá, somando-se ao patamar tarifário vigente. Essa drástica ação teve um efeito imediato e paralisou negociações bilaterais sensíveis, focadas principalmente nas tarifas aplicadas aos produtos de aço e alumínio. Tal paralisação, em meio a uma complexa rede de comércio que, à época, contabilizava aproximadamente US$ 900 bilhões anualmente entre as duas nações, exacerbou consideravelmente as tensões comerciais preexistentes. A complexidade dessa relação, vital para ambos os países, tornava qualquer alteração no cenário tarifário um ponto de alta sensibilidade e impacto econômico.

Diante da forte reação e da subsequente ação tarifária de Washington, o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, prontamente comunicou uma alteração na estratégia da província. Ford anunciou a decisão de suspender a veiculação da campanha publicitária em território americano. Esta pausa seria efetivada a partir da segunda-feira seguinte, dia 27, e foi o resultado de uma coordenação direta e conversas com o então primeiro-ministro canadense Mark Carney. Contudo, apesar do anúncio da suspensão iminente, os veículos de comunicação ainda tinham contratos para exibir a propaganda em eventos de grande audiência, o que garantiu que os anúncios permanecessem no ar durante os dois jogos iniciais da World Series naquele mesmo fim de semana, alcançando uma vasta audiência antes de sua retirada definitiva do ar.

Curiosamente, a intensidade da retaliação do presidente Trump acabou por gerar um efeito oposto ao que possivelmente era esperado por Washington. De acordo com informações divulgadas pela agência Bloomberg, o ataque vocal e tarifário do próprio líder americano contribuiu significativamente para catapultar o alcance e a visibilidade da campanha publicitária canadense. Esse fenômeno é comumente referido como “Efeito Streisand”, no qual esforços para censurar ou reprimir um determinado conteúdo, paradoxalmente, resultam em sua amplificação e maior disseminação. O impacto desse fenômeno foi tangível: em um intervalo de tempo notavelmente curto, menos de 24 horas após a manifestação de Trump, o número de visualizações do vídeo nas plataformas de redes sociais do primeiro-ministro Doug Ford experimentou um salto expressivo. As visualizações que anteriormente estavam em torno de 578 mil dispararam para impressionantes 1,5 milhão, demonstrando a potência inesperada da controvérsia gerada e seu poder de chamar a atenção para o conteúdo originalmente contestado.

Derek Holt, economista do Bank of Nova Scotia, sublinhou a ironia da situação, apontando que a forte reação de Donald Trump teve a consequência de universalizar a mensagem da campanha canadense. Conforme Holt observou, o que seria inicialmente uma publicidade destinada exclusivamente ao público norte-americano, ganhou projeção global. O economista destacou que, devido à polarização gerada pelo conflito, “o mundo inteiro passou a ouvir o que Reagan dizia sobre tarifas”, transcendendo o alcance originalmente planejado e ampliando o debate sobre políticas comerciais e protecionismo em escala internacional. Essa repercussão demonstrou o poder amplificador de um conflito de alto nível envolvendo líderes políticos.

A estratégia de mídia por trás da campanha de Ontário revelava uma ambição significativa. O governo da província havia destinado um substancial investimento de C$ 75 milhões, o equivalente a aproximadamente US$ 54 milhões, para assegurar a ampla veiculação do anúncio. Essa alocação orçamentária garantia que a mensagem fosse exibida em algumas das maiores e mais influentes redes televisivas americanas, incluindo Fox, NBC, CBS, ABC, ESPN, Newsmax e Bloomberg Television, visando uma vasta e diversificada audiência. De acordo com declarações do primeiro-ministro Ford, o objetivo principal não era apenas a mera exposição, mas sim um movimento politicamente calculado: mirar em distritos eleitorais que historicamente pendiam para o lado republicano. A meta específica era dialogar e influenciar os autodenominados “Reagan Republicans” – uma vertente dentro do partido Republicano reconhecida por sua defesa fervorosa do livre comércio – para que se contrapusessem à linha de pensamento “MAGA”, então preponderante, que se alinhava mais diretamente às políticas protecionistas encampadas pelo presidente Trump. Esta nuance demonstrava a intencionalidade de explorar fissuras ideológicas internas ao partido Republicano dos EUA para avançar a agenda canadense contra as tarifas contra o Canadá. Para uma compreensão mais profunda das regulamentações e da dinâmica das disputas comerciais globais que permeiam casos como este, consultar as fontes da Organização Mundial do Comércio pode oferecer perspectivas valiosas sobre as complexidades do comércio internacional.

É relevante observar, no entanto, que o comercial veiculado por Ontário apresentava uma omissão estratégica de fatos históricos. Embora o anúncio de Ontário utilizasse o discurso de Reagan para condenar veementemente o protecionismo, ele convenientemente ignorava que o próprio Reagan, durante sua presidência, havia imposto tarifas específicas ao Japão em certas ocasiões, classificando tais medidas como “casos especiais” justificados por circunstâncias particulares. A Fundação Ronald Reagan prontamente manifestou-se, criticando a forma como os trechos do discurso de Reagan foram utilizados, qualificando o uso como “seletivo”. Paralelamente, Donald Trump foi ainda mais incisivo em sua crítica, tachando o vídeo publicitário como “falso”, intensificando a controvérsia em torno da validade e honestidade da campanha e de sua interpretação histórica.

Profissionais e analistas do setor publicitário não demoraram a ponderar sobre as implicações desse complexo episódio. Muitos avaliam que a situação representa um verdadeiro teste ao antigo aforismo que sugere que “não existe má publicidade”, uma vez que mesmo uma campanha contestada e atacada conseguiu um alcance extraordinário. Brian Wieser, um renomado consultor e especialista em mídia, com vasta experiência como ex-executivo de publicidade, enfatizou que a avaliação da real eficácia de uma campanha reside em uma “arte” complexa. Segundo ele, independentemente das críticas e do impacto direto nas negociações comerciais, esta particular campanha de Ontário indiscutivelmente se estabeleceu como o foco das conversas e do interesse geral no período, capturando a atenção pública de forma inesperada.

Em seguida à onda de polêmica deflagrada pela propaganda e as novas tarifas contra o Canadá, o presidente Trump concedeu declarações a jornalistas. Nelas, deixou claro que não possuía planos de realizar um encontro formal com o primeiro-ministro canadense Mark Carney durante os então próximos encontros internacionais que ocorreriam na Ásia. Sua justificativa para tal posicionamento foi a de que estava “satisfeito com o atual acordo comercial” estabelecido entre os Estados Unidos e o Canadá, dando a entender que, de sua perspectiva, o assunto estava temporariamente encerrado e não exigiria maiores deliberações em alto nível. Essa declaração reiterou a firmeza da sua postura frente ao incidente e às relações comerciais, indicando pouca flexibilidade em ceder no curto prazo.

Paralelamente às declarações de Trump, o governo canadense empreendia esforços persistentes para tentar reestabelecer as negociações bilaterais. A prioridade era retomar o diálogo com o objetivo de buscar uma redução das tarifas aplicadas aos seus produtos de aço e alumínio, setores estratégicos para a economia do Canadá. Em contrapartida, buscava-se também a obtenção de um acesso mais amplo para o setor energético canadense ao robusto mercado dos Estados Unidos. Contudo, dado o recente agravamento das tensões e as declarações do presidente americano, a perspectiva de avanços significativos nesse diálogo crucial parecia, àquele momento, notavelmente mais distante e desafiadora. O incremento das tarifas do presidente Trump e a postura mais rígida tornavam o cenário incerto para o comércio internacional e a resolução pacífica das divergências.

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Em resumo, a controvérsia das tarifas entre EUA e Canadá, desencadeada pela campanha publicitária de Ontário, ilustra a complexidade da diplomacia comercial contemporânea. Este episódio mostra como a comunicação estratégica e a retaliação política podem ter efeitos inesperados, amplificando o debate público através de fenômenos como o Efeito Streisand. As repercussões das decisões tarifárias e das manobras políticas impactam diretamente as economias e as relações bilaterais, moldando o cenário geopolítico e as interações econômicas que definem o nosso mundo. Para se manter informado sobre as dinâmicas governamentais e as repercussões de decisões políticas, explore nossa seção dedicada à política nacional e internacional, onde analisamos os principais eventos e suas consequências.

2025 Bloomberg L.P.

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