Tráfico Humano: Brasileira Presa no Camboja é Vítima, Diz Mãe

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A situação dramática de tráfico humano no Camboja expõe o caso de Daniela Marys de Oliveira, arquiteta brasileira de 35 anos, que se encontra detida no país do Sudoeste Asiático. De acordo com a denúncia de sua mãe, Myriam Marys, residente em João Pessoa, Daniela foi enganada por uma falsa promessa de emprego e agora enfrenta acusações injustas, além de ter a saúde debilitada na prisão e sua família ludibriada por um golpe financeiro.

Daniela está em detenção há sete meses, conforme o relato da família, sob a falsa acusação de tráfico de drogas. A saga começou com a busca por uma oportunidade de trabalho, que rapidamente se transformou em um pesadelo. Atualmente, presa em uma penitenciária cambojana, a jovem está sem contato com a mãe desde o início deste mês de outubro de 2025 e aguarda julgamento por tráfico de drogas no dia 23 de outubro de 2025.

Tráfico Humano: Brasileira Presa no Camboja é Vítima, Diz Mãe

A família de Daniela tem se desdobrado para conseguir representação jurídica a tempo do julgamento, mas enfrenta obstáculos financeiros e burocráticos. Paralelamente, há um apelo urgente por um posicionamento mais efetivo do Itamaraty, que, segundo a mãe, não tem respondido aos contatos desde o dia 6 de outubro de 2025. Este quadro destaca a vulnerabilidade de cidadãos brasileiros no exterior diante de armadilhas como o tráfico de pessoas, conforme alertam órgãos internacionais, como pode ser consultado no portal do Ministério das Relações Exteriores sobre o tráfico internacional de pessoas.

O Sonho do Emprego que Virou Pesadelo Asiático

Natural de Minas Gerais, Daniela chegou a João Pessoa em novembro de 2024 para passar um período com a mãe após sua família já ter se mudado para a Paraíba. Em busca de emprego, a arquiteta, fluente em inglês e com formação, aplicou para diversas vagas online. Uma oferta para atuar em telemarketing no Camboja por um período de até um ano despertou seu interesse, especialmente porque não havia conseguido outras oportunidades desde janeiro de 2025. Impulsionada pela chance e a carência de trabalho, aceitou a proposta e embarcou para a Ásia no final de janeiro de 2025, apesar da desaprovação inicial de sua mãe.

Myriam Marys, no entanto, manteve um acordo com a filha de comunicação constante através de mensagens e compartilhamento regular de fotos e vídeos. Essa rotina, contudo, começou a levantar suspeitas já nos primeiros dias. “Eu achei tudo estranho desde o começo. O lugar era isolado, cheio de beliches, e disseram que esperavam mais pessoas para começar o trabalho”, relatou Myriam. Embora o contato inicial aliviasse parte da desconfiança em fevereiro de 2025, a situação se agravou em março do mesmo ano.

“Recebi uma mensagem dizendo: ‘Oi, mãe, estou muito triste’. Não era ela. Daniela sempre me chama de mamãe”, lembrou Myriam. Logo, os criminosos teriam assumido o controle do celular e notebook de Daniela, solicitando dinheiro à mãe e à irmã, Lorena, sob o pretexto de uma rescisão contratual fraudulenta no trabalho de telemarketing. A família, acreditando na história de uma multa de US$ 4 mil por demissão, transferiu um total de R$ 27 mil, vítima de um golpe que se aproveitou do desespero e da incerteza.

Prisão Injusta e Agravamento da Saúde na Detenção

Pouco tempo depois de realizar as transferências financeiras aos supostos golpistas, a mãe de Daniela recebeu uma ligação da própria filha, que revelou estar detida injustamente por tráfico de drogas no Camboja. “Ela me ligou do telefone de um policial dizendo que estava presa. Disseram que encontraram três cápsulas de droga no banheiro e a acusaram de tráfico. Ela implorou para fazer um teste toxicológico, mas nunca deixaram”, desabafou Myriam.

Daniela explicou à mãe que as cápsulas de droga teriam sido implantadas no banheiro do local onde estava hospedada após ter recusado participar de um esquema de golpes pela internet, revelando a perversa conexão entre a proposta de emprego e a armadilha do tráfico. Desde sua prisão, Daniela está confinada em uma cela “superlotada” com cerca de 90 mulheres e seu estado de saúde deteriorou. A mãe relatou que um médico da prisão indicou exames externos, mas a autorização para realizá-los demorou quase 20 dias, agravando a situação da brasileira.

O Apelo Desesperado da Família e o Posicionamento do Itamaraty

Myriam Marys critica a inação que percebe por parte da embaixada brasileira, afirmando que “a embaixada não faz nada. Dizem que o governo do Camboja não permite contato.” Seus esforços para contatar o Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores, têm resultado apenas em “respostas protocolares”, sem ações concretas. “Mandei e-mails, documentos, tudo. A resposta é sempre a mesma: ‘Estamos acompanhando o caso’. Mas ninguém faz nada”, lamenta a mãe.

Myriam faz um apelo pungente às autoridades brasileiras para que intervenham no processo de defesa de Daniela no Camboja. Ela reitera que sua filha é uma profissional qualificada, vítima de criminosos. “Eu só quero que ela volte viva para o Brasil”, implora. O caso de Daniela, que ganhou destaque no programa Profissão Repórter, serve como um alerta trágico. “Espero que essa repercussão ajude outras famílias. Que os jovens pensem bem antes de aceitar propostas de trabalho fora do país. Que arrumem emprego aqui, onde é mais seguro”, concluiu a mãe.

Em nota datada de 7 de outubro de 2025, o Itamaraty confirmou ter conhecimento do caso de tráfico humano e de sua respectiva assistência consular. Embora não tenha detalhado as providências específicas, o Ministério declarou que a “Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.” Em 2024, o Ministério das Relações Exteriores informou ter prestado assistência a 63 brasileiros em situação de tráfico de pessoas, com 41 desses casos concentrados no Sudeste Asiático, região do Camboja.

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O dramático caso de Daniela Marys no Camboja sublinha os perigos do tráfico humano e a urgência de vigilância e apoio às vítimas. A situação evidencia a complexidade de atuar diplomaticamente em casos internacionais e a profunda dor que se estende às famílias envolvidas. Para mais notícias e análises sobre questões sociais e política externa, continue acompanhando a editoria de Política em Hora de Começar.

Foto: Arquivo Pessoal