Torre Brasília: Maior Altura do Santuário de Aparecida é Presente de JK

A imponente Torre Brasília do Santuário Nacional de Aparecida, o ponto mais elevado do maior templo católico do Brasil, revela uma fascinante história de amizade e fé. Com impressionantes 109 metros de altura, essa marcante construção, popularmente apelidada de ‘torre do relógio’, foi um presente do então presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961) ao Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, o primeiro arcebispo da conhecida ‘capital da fé’. A doação simbolizou um elo profundo entre a construção de Brasília e o Santuário, tendo sido formalmente inaugurada em 1961.

A relação entre o estadista Juscelino Kubitscheck e o líder religioso teve suas raízes na infância, ambos originários de Minas Gerais. Essa convivência inicial se desdobrou em uma parceria notável, que culminou com a generosa oferta presidencial aos católicos brasileiros. Conforme detalhado por Tereza Pasin, historiadora especializada na história de Nossa Senhora Aparecida, a conexão entre eles era robusta. Inclusive, Juscelino já havia convidado Dom Motta para oficiar a missa inaugural de Brasília em 3 de maio de 1957, um evento realizado com a venerada imagem de Nossa Senhora Aparecida, enquanto a nova capital federal ainda estava em processo de construção.

Torre Brasília: Maior Altura do Santuário de Aparecida é Presente de JK

O gesto do então chefe de estado em presentear o santuário com a Torre Brasília teve um momento de promessa oficial. Durante uma celebração em Aparecida, em 12 de setembro de 1958, data de seu aniversário, Juscelino Kubitscheck prometeu erguer a estrutura. Após a liturgia, ao ser conduzido ao nicho da imagem de Nossa Senhora Aparecida, ele manifestou o desejo do governo em contribuir com a edificação do Santuário Nacional. Na ocasião, o presidente já havia expedido ordens à Usina de Volta Redonda para iniciar a confecção da torre metálica, descrevendo-a como “uma das mais robustas demonstrações de fé do povo brasileiro”, com instruções para acelerar o processo.

A Concepção e Construção da Gigante

A estrutura imponente da torre foi meticulosamente fundida nas instalações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), localizada em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A engenharia e a arquitetura da obra contaram com talentos distintos: o projeto foi assinado pelo arquiteto Benedito Calixto de Jesus Neto, enquanto a construção foi supervisionada por profissionais norte-americanos e coordenada pelo engenheiro Paulo Franco Rocha. Este feito a colocou como o terceiro edifício construído inteiramente em aço no território brasileiro, destacando a modernidade e ousadia da época. A edificação conta com 16 andares e um total de 440 degraus, abrigando, além de áreas administrativas da basílica, um museu e um mirante que oferece uma vista panorâmica de Aparecida.

Inauguração e Homenagens

A Torre Brasília abriu suas portas oficialmente em 11 de janeiro de 1961. Para além da própria torre, uma placa de gratidão foi descerrada em homenagem a Juscelino Kubitscheck. A historiadora Tereza Pasin narra que a placa fixada na basílica registra a frase: “Torre Brasília: homenagem de gratidão ao senhor presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, construtor de Brasília e insigne benfeitor deste monumento, a Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida”. Em seu discurso inaugural, Kubitscheck enfatizou que sua presença não se devia a buscar agradecimentos, mas sim por cumprir uma vontade que transcendia sua pessoa, refletindo o sentimento de todo o povo brasileiro. A fé católica fervorosa de JK e de sua esposa, Dona Sarah, foi um fator relevante para o valioso presente ao Santuário de Aparecida.

Fé e Esfera Política: Uma Análise Perene

A doação da torre por Juscelino Kubitscheck também é compreendida, sob uma perspectiva do professor Dr. Moacir José dos Santos, historiador e docente da Universidade de Taubaté (Unitau), como uma expressão pública de sua religiosidade. À semelhança da maioria dos presidentes brasileiros, Juscelino era católico, um reflexo da grande adesão da população à fé católica àquela altura. A Catedral Nossa Senhora Aparecida em Brasília, outra obra impulsionada por JK, coaduna-se com essa interpretação, servindo como uma demonstração explícita de sua crença. O professor ainda salienta a persistência de governantes e autoridades brasileiras no Santuário Nacional de Aparecida no dia 12 de outubro, ilustrando a continuidade das manifestações de fé no cenário político atual.

Recentemente, no dia da padroeira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esteve presente nas celebrações de 2023 e 2024. Em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro também visitou o templo na data festiva. Adicionalmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) frequentemente organiza debates com candidatos presidenciais no Centro de Eventos do próprio Santuário Nacional, evidenciando o constante entrelace entre fé e o espaço público.

Imagem: g1.globo.com

A Cruz, o Santo Lenho e o Grande Relógio

Dois anos após sua inauguração, em 1963, a Torre Brasília recebeu um elemento simbólico fundamental: uma cruz foi instalada em seu ápice. Dentro dessa cruz, uma cápsula selada guarda uma relíquia do Santo Lenho, um pequeno fragmento da Cruz na qual Jesus Cristo teria sido crucificado. Conforme o Santuário Nacional, a peça possui autenticidade e foi trazida de Roma. Muito tempo depois, em 2007, a torre foi enriquecida com um imponente relógio de quatro toneladas, manufaturado em Madrid, Espanha. Este relógio possui ponteiros de horas que medem 5,3 metros e pesam 190 quilos cada, e ponteiros de minutos com 7,4 metros e 248 quilos. Sua iluminação é um espetáculo à parte, contando com 12 mil LEDs distribuídos em 400 metros de tiras que contornam os ponteiros e os numerais, realçando sua grandiosidade à noite.

O Museu e o Mirante: Janelas para a Fé e a História

Atualmente, a Torre Brasília não é apenas uma estrutura administrativa, mas um polo de atração cultural e devocional. Ela abriga um museu e um mirante, que figuram entre os principais destinos para os mais de 10 milhões de romeiros que visitam o Santuário anualmente. O museu, cuja fundação remonta a 1956 nas antigas Oficinas Gráficas de Arte Sacra de Aparecida antes de ser transferido para o santuário, guarda um vasto acervo de 770 itens de valor histórico inestimável. Coleciona obras relacionadas a Nossa Senhora Aparecida e objetos que narram testemunhos de milagres, constituindo um elo tangível com a rica herança da fé católica no Brasil.

No 16º andar da torre, o mirante ocupa uma área de 324 metros quadrados e oferece uma perspectiva privilegiada de 360 graus do entorno da basílica. Deste ponto elevado, os devotos e visitantes podem contemplar o Rio Paraíba, cenário do histórico encontro da imagem de Nossa Senhora em 1717, bem como a Rodovia Presidente Dutra e diversos marcos urbanos da cidade de Aparecida, incluindo partes do Rio Paraíba do Sul, conectando a fé e a natureza circundante em uma só vista.

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A Torre Brasília transcende a funcionalidade de uma estrutura, consolidando-se como um testemunho duradouro da fé brasileira e da marcante colaboração entre figuras proeminentes da história do país. Seu legado, entrelaçado com a biografia de Juscelino Kubitscheck e do Cardeal Carlos Motta, continua a encantar e a inspirar milhões de visitantes. Para mais artigos sobre a história, a fé e os importantes marcos arquitetônicos do Brasil, continue explorando a editoria de Política em nosso site.

Crédito da imagem: Foto: Arquivo/ Santuário Nacional de Aparecida