A crescente demanda global por energias limpas e tecnologias avançadas coloca as terras raras no centro das atenções estratégicas mundiais. Este grupo de 17 elementos químicos, complexos de extrair e refinar, são insumos indispensáveis para a fabricação de componentes vitais, como ímãs permanentes, cruciais para veículos elétricos e sistemas de defesa. Nos últimos anos, estes minerais críticos se tornaram um foco principal para nações desenvolvidas que buscam segurança em suas cadeias de suprimentos e independência tecnológica.
Esses elementos são caracterizados por sua complexidade geológica e química, exigindo processos intrincados desde a mineração até a obtenção de seus óxidos e, finalmente, os metais purificados. A importância desses materiais para a economia global é sublinhada pela crescente concorrência por seu controle e pela capacidade de processamento.
Terras Raras: Domínio da China e Posição Estratégica do Brasil
No cenário global atual do mercado de terras raras, a China detém uma hegemonia notável. O país asiático é responsável por mais da metade da extração mundial e, ainda mais significativamente, controla quase a totalidade da capacidade global de refino desses elementos. Esta concentração confere à China uma considerável influência em negociações comerciais e geopolíticas com outras potências mundiais, incluindo Estados Unidos e União Europeia, que dependem fortemente do abastecimento chinês para manter suas indústrias de alta tecnologia e de transição energética.
Por outro lado, o Brasil, apesar de possuir a terceira maior reserva global desses valiosos minerais, tem uma produção muito limitada. Atualmente, o país conta com apenas uma mineradora em plena operação, a Serra Verde, cuja capacidade está significativamente abaixo da das grandes empresas que dominam este setor a nível mundial. Esta discrepância entre o potencial e a realidade da produção brasileira destaca um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade estratégica.
Este tema faz parte de uma série dedicada a aprofundar o conhecimento sobre os “Minerais Críticos”, que abordará um total de oito elementos essenciais para a fabricação de produtos vinculados à transição energética. Além das terras raras, serão examinados o níquel, lítio, nióbio, cobalto, cobre, manganês e grafite.
O Que São as Terras Raras e Como São Encontradas?
As terras raras são compostas por 17 elementos específicos: cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, lantânio, escândio e ítrio. Deste conjunto, alguns se destacam pela sua alta cobiça industrial, como o neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, devido às suas propriedades magnéticas superiores.
Geologicamente, os elementos terras raras não são tão “raros” em termos de abundância crustal, mas sua ocorrência em concentrações economicamente viáveis é escassa, e sua extração é frequentemente desafiadora. São geralmente encontrados como produtos secundários em depósitos de outros minerais críticos, como nióbio e fosfato. Os minerais mais comuns de onde se obtêm as terras raras são a bastnasita e a monazita. Adicionalmente, também são encontrados em argilas iônicas, uma fonte significativa para a produção chinesa e a única em atividade no Brasil.
Aplicações Essenciais e o Complexo Processo até o Uso
A maior parte da produção de terras raras hoje é direcionada para a fabricação de ímãs permanentes de alta performance. Estes ímãs são componentes cruciais para diversas tecnologias modernas, especialmente na área de energia limpa, como motores de carros elétricos, turbinas eólicas e, também, em equipamentos eletrônicos e de defesa.
O processo desde a extração do mineral bruto até a obtenção do produto final, apto para uso industrial, é longo e quimicamente intensivo. Ele envolve múltiplas etapas, incluindo a separação mineral, dissolução dos óxidos de terras raras em água através da injeção de ácidos e processos de purificação complexos que exigem tecnologia e expertise elevadas. Essa complexidade do refinamento é um dos fatores que contribuem para a concentração da indústria em poucos países.
Cenário Global: Reservas e Produção de Terras Raras
Em termos de reservas mundiais comprovadas, a China detém a segunda maior jazida de terras raras. O Brasil, por sua vez, aparece como a terceira maior reserva. Em seguida, o Vietnã também se destaca entre os detentores de grandes depósitos. Embora as reservas não se traduzam diretamente em capacidade de produção, elas indicam o potencial geológico dos países.
Na produção, no entanto, a hegemonia chinesa é indiscutível, sendo responsável por quase 70% da extração global de terras raras. Estados Unidos e Mianmar seguem com participações menores. O cenário é ainda mais acentuado na etapa de refino: em 2024, a Agência Internacional de Energia (AIE) apontou que a China respondeu por impressionantes 91% da capacidade mundial de refino de elementos de terras raras. O percentual restante está concentrado, principalmente, na Malásia, ressaltando o gargalo de processamento fora da China.
A Realidade do Brasil no Mercado de Terras Raras
A história do Brasil com as terras raras é de grande potencial, mas com um desempenho de produção abaixo de suas vastas reservas. O país já foi um ator mais relevante na indústria global, mas perdeu ímpeto ao longo do tempo. Atualmente, as principais reservas brasileiras de terras raras estão localizadas no estado de Goiás, que concentra grande parte do potencial de mineração. Outras reservas significativas também existem em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Amazonas, demonstrando a ampla distribuição geográfica do recurso no território nacional.
Em operação, o Brasil possui apenas uma mineradora capaz de extrair e concentrar os elementos terras raras: a Serra Verde, que opera em Goiás. Esta empresa é controlada por fundos de investimento britânicos e americanos, representando a principal face da produção brasileira de terras raras. Há também a empresa brasileira ADL, que extrai monazita no Rio de Janeiro. Embora a ADL não execute o processo de concentração dos elementos terras raras atualmente, a empresa manifesta planos de expandir suas operações para incluir esta etapa.
O futuro da indústria de terras raras no Brasil promete movimentações. Diversas empresas listadas na Bolsa de Sydney – Viridis, Meteoric Resources, St. George e Brazilian Rare Earths – têm planos de iniciar a extração de terras raras em Minas Gerais e na Bahia nos próximos anos. Estes desenvolvimentos podem ser cruciais para que o Brasil capitalize seu vasto potencial e se posicione de forma mais robusta no cenário global.
Grandes Players Globais no Setor
As maiores empresas do setor de terras raras são, em sua maioria, baseadas na China, o que reforça o domínio do país na cadeia de suprimentos. Entre as principais destacam-se a China Rare Earth Group e a China Northern Rare Earth Group High-Tech, ambas chinesas, que atuam tanto na extração quanto no refino.
Fora da China, outros grandes players incluem a australiana Lynas e a americana MP Materials. Estas companhias representam esforços de outras nações para diversificar as fontes de terras raras e reduzir a dependência da China, embora enfrentem desafios significativos, principalmente na fase de refino.
É importante destacar que a busca por minerais críticos é um dos pilares para a construção de um futuro mais sustentável e tecnologicamente avançado. Entender a dinâmica do mercado de terras raras e a posição estratégica de cada país é fundamental neste contexto. Para mais informações detalhadas sobre as capacidades de refino de minerais críticos no mundo, você pode consultar as publicações da Agência Internacional de Energia, uma fonte respeitada no campo energético.
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O mercado de terras raras é complexo e dinâmico, com a China na vanguarda da produção e do refino, moldando a economia global de alta tecnologia e energias limpas. O Brasil, com suas consideráveis reservas, enfrenta o desafio de transformar seu potencial geológico em produção industrial competitiva. Acompanhe nossas análises aprofundadas sobre economia e mercados em nossa editoria de Economia para se manter atualizado sobre estes e outros desenvolvimentos estratégicos. Esteja por dentro das inovações e dos desafios que moldam o futuro de setores vitais para o desenvolvimento global.
Crédito da imagem: David Becker/Reuters
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