Um marco significativo na medicina nacional foi alcançado com a realização de uma telecirurgia robótica inovadora, onde um profissional de saúde em São Paulo executou com sucesso um procedimento para tratar um câncer de próstata em um paciente localizado em Porto Alegre. A distância de mais de mil quilômetros foi superada pela tecnologia, permitindo que o paciente, um idoso de 73 anos, recebesse alta no dia seguinte à intervenção.
Este procedimento pioneiro, que representa a primeira telecirurgia robótica não experimental na América Latina, foi acompanhado de perto em São Paulo pela Folha de São Paulo e ocorreu no dia 6 deste mês de outubro. A complexa operação envolveu a conexão direta entre o Hospital Nove de Julho, em São Paulo, e o Hospital Mãe de Deus, na capital gaúcha, utilizando uma conexão por fibra óptica, embora a mesma tecnologia seja compatível com a rede 5G.
Telecirurgia Robótica em Câncer de Próstata une SP e RS
O sistema robótico empregado na telecirurgia atua como uma extensão avançada das mãos do cirurgião. Do console, o médico comanda movimentos precisos do robô, que por sua vez está equipado com braços mecânicos e uma câmera capaz de ampliar as imagens em até vinte vezes. Essa configuração se divide em duas partes principais: uma porção que fica posicionada diretamente sobre o paciente, realizando intervenções por meio de pequenas incisões, e outra, que corresponde à estação de controle do cirurgião, podendo ser operada tanto à distância quanto na mesma sala cirúrgica.
De acordo com o urologista Rafael Coelho, o cirurgião responsável pela telecirurgia realizada em São Paulo, a garantia de uma conectividade impecável foi a prioridade máxima. O principal receio era evitar qualquer latência significativa entre os comandos do cirurgião e a execução dos movimentos robóticos na outra cidade. Contudo, essa preocupação foi minimizada, pois o intervalo registrado foi de meros 30 milissegundos, um lapso de tempo praticamente imperceptível para o controle humano. Coelho enfatizou que a experiência foi equivalente a operar na mesma sala que o paciente.
O foco da intervenção foi a remoção da próstata, um procedimento indicado para tratar um tumor localizado de agressividade intermediária. A detecção precoce foi crucial, identificada por meio de exame de sangue que analisa os níveis de PSA, uma proteína ligada à próstata. O especialista afirma que, com a cirurgia, mais de 90% dos pacientes com esse perfil tumoral conseguem a remissão completa da doença, ficando livres do tumor.
O Dr. Rafael Coelho também sublinhou as vantagens da plataforma robótica na preservação das estruturas anatômicas sensíveis localizadas ao redor da próstata. Essa capacidade é vital para diminuir os riscos de complicações pós-operatórias que podem impactar diretamente a qualidade de vida do paciente, como a incontinência urinária e a disfunção erétil. Ele mencionou que a imagem tridimensional de alta resolução e os instrumentos miniaturizados, que replicam os movimentos da mão com exatidão, são fatores que otimizam os resultados para quem recebe o tratamento.
Para assegurar a segurança da telecirurgia que conectou São Paulo a Porto Alegre, ambos os hospitais envolvidos mantinham equipes cirúrgicas de prontidão, aptas a intervir caso houvesse qualquer necessidade emergencial. Olhando para o futuro, o Dr. Coelho vislumbra um imenso potencial para a telecirurgia não apenas no tratamento direto, mas também como ferramenta para levar especialistas a regiões carentes desses profissionais. A telementoria e o ensino a distância são outras áreas de aplicação promissoras. Através do console de controle, cirurgiões em fase de treinamento poderiam ser remotamente orientados, garantindo a segurança nos seus primeiros procedimentos e expandindo o acesso à robótica para um número maior de pacientes, inclusive em hospitais sem a presença física de especialistas experientes.
Carlos Eduardo Domene, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Videocirurgia, Robótica e Digital (Sobracil) e professor da USP (Universidade de São Paulo), apontou o sistema público de saúde como o próximo grande desafio para a implementação dessa tecnologia. Domene argumenta que o SUS, com sua estrutura descentralizada e vasto número de profissionais distribuídos pelo país, poderia se beneficiar enormemente. Em um projeto governamental bem articulado, a telecirurgia permitiria que centros de excelência oferecessem atendimento de alta complexidade a pacientes em localidades remotas. Você pode saber mais sobre a entidade em Sobracil.org.br.
Contudo, Domene ressaltou que há entraves significativos, especialmente o custo elevado dos equipamentos robóticos, que variam entre US$ 2 milhões (equivalente a R$ 10,8 milhões) e US$ 3 milhões (cerca de R$ 16,2 milhões). Além disso, a demanda por uma infraestrutura de conexão de internet extremamente estável é fundamental para garantir a segurança e a eficácia das operações.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O paciente que foi operado em Porto Alegre era Paulo de Almeida, um aposentado de 73 anos, cujo diagnóstico de câncer de próstata ocorreu há pouco mais de um mês. Segundo seu relato, ele não precisou fazer uso de medicamentos para dor nem se submeteu a tratamentos como quimioterapia ou radioterapia. Almeida revelou que o câncer de próstata em sua família é de natureza hereditária; seu irmão, infelizmente, faleceu em decorrência do mesmo tumor cerca de doze anos antes, descoberto em estágio avançado.
Paulo de Almeida expressou sua admiração pela tecnologia de telecirurgia, demonstrando gratidão e alegria por sua recuperação, que já lhe permitiu retomar atividades de baixo impacto, como caminhadas pela vizinhança. O sistema robótico utilizado na operação foi o Toumai, desenvolvido pela empresa chinesa Microport, e sua aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ocorreu em agosto de 2024.
O Hospital Nove de Julho confirma que esta é a primeira telecirurgia do tipo não experimental na América Latina, embora outra equipe brasileira também reivindique um feito similar. No mês passado, foi realizada uma operação semelhante, mas para tratar uma hérnia inguinal, conectando o Paraná e o Kuwait. Neste caso, a cirurgia ocorreu no dia 23 de setembro no Hospital Cruz Vermelha, em Curitiba, sendo comandada por um médico brasileiro enviado ao Hospital Jaber Surgery, no Kuwait. O procedimento também foi um sucesso.
Essa telecirurgia de 12 mil quilômetros entre médico e paciente foi reconhecida pelo Guinness Book, o livro mundial dos recordes, no último dia 3 de outubro, como a telecirurgia robótica de maior distância já registrada. O recorde anterior era de uma operação realizada entre Marrocos e China. A ferramenta empregada nessa telecirurgia foi o robô cirúrgico MP1000, da empresa chinesa Edge Medical, e a conexão foi estabelecida via fibra óptica. Nesse caso, o atraso entre o comando do médico e o movimento efetivo do robô foi de 155 milissegundos.
Carlos Eduardo Domene reiterou que o limite máximo aceitável de atraso em telecirurgias robóticas é de 200 milissegundos, uma diferença que, do ponto de vista da percepção humana, é praticamente inexistente, garantindo a precisão necessária para tais procedimentos delicados.
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A telecirurgia robótica, ao romper barreiras geográficas e otimizar tratamentos complexos como o câncer de próstata, redefine o cenário da medicina moderna, abrindo caminhos para uma saúde mais acessível e eficaz. Continue acompanhando as inovações e as últimas notícias em saúde e tecnologia no portal Hora de Começar.
Crédito da imagem: Divulgação Rede Américas



