A recente fala do governador Tarcísio de Freitas sobre Coca-Cola, feita em meio à crise de intoxicação por metanol que afeta o estado de São Paulo, gerou uma série de reações negativas. Parlamentares da base do governo Lula (PT) e membros da oposição teceram duras críticas ao chefe do executivo paulista, enquanto aliados buscaram minimizar o impacto da declaração.
A controvérsia emergiu durante uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 6 de novembro. Na ocasião, Tarcísio de Freitas, abordando o delicado tema da contaminação por metanol em bebidas alcoólicas, proferiu a seguinte declaração em tom de brincadeira: “Não vou me aventurar aqui nessa área [de bebidas alcoólicas], que não é minha praia, está certo? No dia em que começarem a falsificar a Coca-Cola, eu vou me preocupar”. O governador ainda adicionou, durante o momento de informalidade, que seu consumo pessoal se restringe à versão normal da bebida, e não à opção zero.
Tarcísio de Freitas Recebe Críticas por Fala sobre Coca-Cola
O episódio rapidamente escalou nas redes sociais, com diversas personalidades políticas expressando seu descontentamento. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e membro do Partido dos Trabalhadores, manifestou-se criticamente, qualificando a declaração como “um deboche com todas as vítimas, seus familiares e prejuízos causados por essa ação criminosa, que o governador sabe-se lá porque já descartou ser do crime organizado”. A forte crítica sublinha a percepção de falta de sensibilidade do governador frente a uma crise de saúde pública de grande impacto.
Outros parlamentares da esfera federal também vocalizaram sua reprovação. Guilherme Boulos (PSOL-SP), uma figura proeminente e com especulações sobre possível ocupação de ministério, fez uma comparação direta e incisiva, equiparando a fala de Tarcísio com a controversa declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19: “E daí? Eu não sou coveiro”. A associação ressaltou, para os críticos, uma aparente atitude de descaso em um momento de vulnerabilidade social e sanitária.
Na mesma linha, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) expressou profunda indignação, destacando a gravidade da situação. “É inconcebível que alguém trate isso como piada ou desdém, enquanto vidas são ceifadas”, afirmou a parlamentar em suas redes sociais. Erika Hilton (PSOL-SP), por sua vez, articulou a dificuldade em descrever seu sentimento diante do pronunciamento do governador. A deputada pontuou que “Há paulistas perdendo a visão, a vida ou sofrendo sérios danos à saúde por conta dessa crise no nosso estado”, ao mesmo tempo em que criticou Tarcísio por, em sua percepção, “negar o envolvimento do crime organizado e tirar sarro do sofrimento das vítimas do metanol”. Hilton também observou a ausência de um “plano de ação e comunicação para que a população não beba” por parte do governo estadual.
Adicionalmente, os deputados federais Ivan Valente (PSOL) e Orlando Silva (PCdoB) somaram-se ao coro de críticas, classificando a declaração como “inaceitável” em um contexto onde indivíduos estão sendo envenenados. Marcelo Freixo, que preside a Embratur e é filiado ao Partido dos Trabalhadores, gravou um vídeo reforçando a censura: “Falta seriedade. Falta compaixão. Sobra oportunismo. Com vidas não se brinca”. As múltiplas vozes contrárias demonstram a amplitude do desconforto gerado pela observação de Tarcísio de Freitas no cenário político.
Em contraste, os aliados do governador adotaram uma postura de atenuação, interpretando a repercussão negativa da fala como exagerada, especialmente as comparações com a conduta do governo Bolsonaro durante a pandemia. Segundo a visão desses apoiadores, a declaração de Tarcísio não indicou descaso com a situação envolvendo o metanol. Contudo, admitiram que, dado o ambiente de pânico generalizado na população, o momento talvez não fosse oportuno para piadas.

Imagem: metanol deixou via www1.folha.uol.com.br
Um auxiliar do governo paulista, que preferiu manter o anonimato, revelou que o governador “não mediu o impacto de sua fala e que ela fugiu ao roteiro” previamente estabelecido. O mesmo auxiliar explicou que a “brincadeira” teria sido uma tentativa espontânea de “aliviar a tensão”, já que o consumo de Coca-Cola por Tarcísio de Freitas é frequente e, inclusive, objeto de gracejos internos no Palácio dos Bandeirantes.
Enquanto o debate político se desenrolava, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo divulgou, nesta terça-feira, 7 de novembro, uma atualização dos dados referentes à intoxicação por metanol. O balanço apontou para um total de 176 casos notificados até o momento, dos quais 18 foram oficialmente confirmados. Outros 158 casos permanecem em processo de investigação. Em relação aos óbitos, foram registrados 10 no total, com 3 deles confirmados como decorrentes da intoxicação e 7 ainda sob análise. Além disso, 85 casos já foram descartados após a condução de análises clínicas e epidemiológicas. Somente na data da atualização, 38 novas notificações foram descartadas, ao passo que 35 outras foram incorporadas à lista de casos sob investigação. A gravidade dos dados oficiais da saúde pública brasileira evidencia o cenário preocupante enfrentado pelo estado de São Paulo.
Importante ressaltar que a intoxicação por metanol não é um problema recente; há registros de crises semelhantes no passado, como a de 1992, quando bebidas contaminadas causaram quatro óbitos na Grande São Paulo, reforçando a urgência na gestão da crise atual.
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A repercussão em torno da fala do governador Tarcísio de Freitas, somada aos números alarmantes da crise do metanol em São Paulo, demonstra a sensibilidade das questões de saúde pública e a forma como líderes lidam com elas em momentos de crise. Para mais informações e análises sobre temas políticos e econômicos que impactam nosso dia a dia, explore a editoria de Política em nosso portal.
Crédito da imagem: João Valério/Divulgação Governo do Estado SP
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