A investigação sobre a execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes ganhou novos desdobramentos com a identificação de Umberto Alberto Gomes, o oitavo indivíduo apontado como participante do crime ocorrido em Praia Grande, no litoral paulista. Durante uma ação policial em seu endereço na capital, a filha do suspeito, uma adolescente de 14 anos, protagonizou um momento tenso ao alertar o pai por telefone, clamando para que ele não revelasse qualquer informação, um detalhe crucial capturado pelos policiais em meio à operação.
Ruy Ferraz Fontes foi assassinado na noite do dia 15 do mês anterior, logo após finalizar seu expediente como secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande. Este trágico evento desencadeou uma ampla investigação que já resultou na prisão de Dahesly Oliveira Pires, Luiz Henrique Santos Batista (conhecido como Fofão), Rafael Marcell Dias Simões (o Jaguar) e Willian Silva Marques. Paralelamente, outros três suspeitos – Felipe Avelino da Silva, Flávio Henrique Ferreira de Souza e Luiz Antonio Rodrigues de Miranda – permanecem foragidos, juntamente com Umberto Alberto Gomes, cuja prisão foi decretada pela Justiça paulista na última terça-feira, 23 de abril.
Suspeito de Execução de Ex-Delegado: Filha Alerta Pai
A identificação de Umberto Alberto Gomes ocorreu por meio de impressões digitais coletadas em um imóvel localizado em Mongaguá, também na região litorânea de São Paulo. Esta residência é considerada uma das bases logísticas utilizada pelos criminosos envolvidos no assassinato do ex-delegado. A busca por Umberto intensificou-se após este vínculo com o local ser estabelecido.
Detalhes do Mandado de Busca e Apreensão: O Alerta da Filha
Um boletim de ocorrência, ao qual a imprensa teve acesso, descreve os pormenores da operação policial realizada na manhã de 23 de abril na capital paulista. O mandado de busca e apreensão tinha como alvo diversos endereços ligados a Umberto. Inicialmente, a equipe se dirigiu a um apartamento no bairro Jardim Novo Jau, onde foram apreendidos cartões bancários, chips e caixas de celulares, um aparelho de DVR e documentos como contratos e cheques. O proprietário do imóvel, no entanto, afirmou desconhecer Umberto.
Alertados por outros moradores do condomínio, os policiais descobriram que Umberto residia em outro apartamento no mesmo edifício. No novo local, apenas a filha de 14 anos do suspeito foi encontrada. A menina informou que o pai havia estado na casa no domingo anterior, dia 21, mas desconhecia seu paradeiro atual. Investigações subsequentes revelaram que Umberto também mantinha ligações com um endereço no Grajaú, para onde outra equipe policial foi deslocada.
Enquanto os agentes aguardavam no Grajaú, o irmão de Umberto chegou e foi informado sobre o mandado de prisão em aberto. Pouco tempo depois, o irmão recebeu uma chamada telefônica do foragido, mas a comunicação foi abruptamente interrompida pelo grito da filha de Umberto ao fundo: “Não fala nada, a polícia está aqui.” O telefonema foi imediatamente encerrado. O irmão de Umberto foi levado à delegacia para prestar depoimento e acompanhar a apreensão de materiais.
No desenrolar da operação, os policiais que retornaram ao primeiro apartamento ligado a Umberto, após relatos de compartimentos secretos, constataram que a filha havia desaparecido. Apesar da ausência da menor, os agentes conseguiram acessar o compartimento secreto em um armário, encontrando apenas documentos. O registro policial enfatizou a legitimidade da execução do mandado em múltiplos endereços, justificando-a pela necessidade de assegurar a eficácia da decisão judicial.
O Extenso Histórico Criminal de Umberto Alberto Gomes
A trajetória criminal de Umberto Alberto Gomes revela um histórico de envolvimento com o crime organizado. Levantamentos apurados pela imprensa indicam que sua ficha remonta a dezembro de 2008. Aos 22 anos, ele foi indiciado por tentativa de roubo, associação criminosa e corrupção de menores na capital paulista, resultando em sua prisão e posterior condenação no ano seguinte. Umberto permaneceu detido até janeiro de 2010, quando sua pena foi convertida para prisão domiciliar.
Contudo, a liberdade durou pouco. Em junho de 2014, ele foi novamente detido, desta vez por roubo, também na capital. Ele cumpriu um período de reclusão de um ano e três meses, obtendo o benefício da liberdade condicional em setembro de 2015. Este passado demonstra um padrão de infrações graves e sua possível conexão com estruturas criminosas mais amplas.
A Casa em Praia Grande: Base de Operações da Quadrilha
As investigações sobre a execução de Ruy Ferraz Fontes começaram a se aprofundar a partir de uma casa em Praia Grande, o primeiro imóvel apontado como tendo ligação direta com a quadrilha. A polícia chegou a este local com base no depoimento de Dahesly Oliveira Pires, até o momento a única mulher detida sob suspeita de envolvimento no assassinato.
De acordo com informações do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Dahesly viajou de Diadema, no ABC Paulista, até a casa em Praia Grande com a finalidade de resgatar um dos fuzis utilizados no atentado. Essa ordem teria sido emanada por Luiz Antonio Rodrigues de Miranda, um dos foragidos. Embora os fuzis não tenham sido localizados no imóvel, a residência, situada na Rua Campos de Jordão, no bairro Jardim Imperador, fica a aproximadamente dez minutos do palco do crime, indicando sua estratégica localização.

Imagem: g1.globo.com
A fachada do imóvel foi alvo de pichações, exibindo frases como ‘Justiça tarda + não falha’, além de símbolos e códigos como ‘D+S’, ‘É Noix’ e ’25’, um ato que, segundo vídeos e fotos, foi realizado por um homem que marcou o portão com tais grafismos. As imagens da perícia, realizadas em 18 de setembro, revelam os diferentes cômodos da casa, com a presença de garrafas de bebidas alcoólicas, sujeira em paredes, móveis e eletrodomésticos, elementos que ajudam a compor o cenário da investigação.
Identificação dos Demais Envolvidos na Execução
Além de Umberto Alberto Gomes, a polícia identificou outros sete indivíduos com diferentes níveis de participação na execução do ex-delegado. São eles:
- **Felipe Avelino da Silva**, conhecido como Mascherano (33 anos): Foragido, membro do PCC, teve seu DNA encontrado em um dos veículos usados no crime.
- **Luiz Antonio Rodrigues de Miranda** (43 anos): Foragido, suspeito de ter orquestrado a busca por um dos fuzis utilizados.
- **Flávio Henrique Ferreira de Souza** (24 anos): Foragido, também teve seu DNA detectado em um dos carros.
- **Willian Silva Marques** (36 anos): Preso, é o proprietário da residência em Praia Grande, apontada como base da facção.
- **Dahesly Oliveira Pires** (25 anos): Presa em 18 de setembro, suspeita de ser a mulher que buscou o fuzil na Baixada Santista.
- **Luiz Henrique Santos Batista**, conhecido como Fofão (38 anos): Preso em 19 de setembro em São Vicente, suspeito de envolvimento na logística do assassinato.
- **Rafael Marcell Dias Simões**, conhecido como Jaguar (42 anos): Preso em 20 de setembro após se entregar em São Vicente, também suspeito de participação no homicídio.
A Cronologia e a Dinâmica do Assassinato de Ruy Ferraz Fontes
A execução de Ruy Ferraz Fontes foi um evento planejado, com uma ação rápida que durou menos de 40 segundos. O ex-delegado foi emboscado imediatamente após concluir sua jornada de trabalho como secretário de Administração na Prefeitura de Praia Grande. Câmeras de segurança registraram o momento em que três indivíduos armados com fuzis desembarcaram de uma caminhonete, que seguia logo atrás do carro de Fontes, e efetuaram múltiplos disparos contra ele, configurando uma emboscada fatal.
O Legado de Ruy Ferraz Fontes: Um Combate ao Crime Organizado
Ruy Ferraz Fontes dedicou mais de quatro décadas de sua vida à Polícia Civil de São Paulo, tornando-se uma figura proeminente no combate ao crime organizado e nas investigações pioneiras sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC). Com formação em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo e pós-graduação em Direito Civil, ele ocupou posições de grande relevância, como diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e do Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de ter dirigido o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
No início dos anos 2000, no Deic, liderando a 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, Fontes iniciou uma fase decisiva na luta contra o PCC, sendo instrumental na prisão de lideranças da facção e na decodificação de sua complexa estrutura criminosa. Sua atuação foi vital durante a onda de ataques promovidos pelo PCC em maio de 2006, contra as forças de segurança paulistas. Entre 2019 e 2022, ele ascendeu à posição de Delegado-Geral da Polícia do Estado de São Paulo, período em que comandou a transferência estratégica de chefes do PCC de presídios estaduais para unidades federais, uma medida fundamental para enfraquecer o controle da facção dentro do sistema carcerário. Fontes, que também era professor de Criminologia e Direito Processual Penal, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande em janeiro de 2023, cargo que ocupava até o seu assassinato.
Para mais informações sobre as ações e históricos do combate ao crime organizado no Brasil, você pode consultar fontes de alta autoridade como o G1, que frequentemente atualiza notícias e análises sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e outras organizações criminosas.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
Acompanhe os próximos capítulos dessa investigação que continua em curso. Mantenha-se informado sobre os desdobramentos de crimes de grande repercussão e questões de segurança pública acessando regularmente nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Reprodução e Reprodução/TV Globo; g1 Santos e Reprodução/TV Globo; Polícia Civil/Divulgação; Arte/g1
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados