A incrível trajetória de Li Chuangye, de 37 anos, tem emocionado e inspirado pessoas em toda a China, tornando-se um símbolo de perseverança e paixão. Nascido em 1988 na província de Henan, filho de agricultores com poucos recursos, Li foi atingido pela poliomielite aos sete meses de idade, uma doença que o impediu de andar de forma convencional, obrigando-o a se mover agachado sobre os calcanhares. Essa condição, somada a uma infância de privações e humilhações, não o impediu de realizar seu sonho: tornar-se médico e dedicar sua vida a salvar outras pessoas.
Desde muito cedo, Chuangye enfrentou o cruel bullying. Enquanto sonhava em ter uma mochila e ir à escola como as outras crianças, era rotulado por alguns colegas como um “peso morto” e “inútil”, palavras que causavam profunda dor. Aos nove anos, seus pais, movidos pela esperança, endividaram-se para pagar uma cirurgia que, teoricamente, permitiria ao filho andar. Apesar da fé e otimismo de Chuangye, o procedimento foi mal-sucedido, mergulhando-o em uma profunda depressão. As palavras de encorajamento de sua mãe, que o incentivava a viver não apenas por si, mas pela família, foram cruciais para que ele reencontrasse um propósito, superando o desespero e compreendendo o sacrifício de seus pais.
Superação: Pedinte com Pólio Se Torna Médico na China
Aos 9 anos, uma proposta surgiria como uma falsa promessa de alívio para o fardo familiar. Um homem ofereceu levá-lo para outra cidade, onde supostamente trabalharia vendendo incensos. Apesar da resistência inicial dos pais, Chuangye, com a determinação de contribuir para a casa, aceitou. Contudo, a realidade revelou-se um pesadelo. Pelos próximos sete anos, foi forçado a integrar um esquema de mendicância, junto com outras crianças e adultos com deficiência. Era instruído a exibir sua perna de forma a despertar piedade e obrigado a pedir esmolas, entregando todo o dinheiro ao “chefe”. O abuso físico e a vergonha eram constantes, mas o desejo de ajudar a família o fez persistir.
A rotina de mendicância forçada era desoladora. Sem camisa e com a tigela de moedas, Li Chuangye era largado nas calçadas em posições que induzissem à compaixão. Ele conta que não entendia de imediato a natureza de seu “trabalho”, até que os transeuntes começaram a questionar por que um jovem estava na rua em vez de ir à escola. Essa percepção o “destruiu”, pois mendigar era considerado vergonhoso em sua cidade natal. Apesar de faturar centenas de yuans por dia (uma quantia significativa na década de 1990), o valor total era entregue ao explorador, que o acusava de preguiça e o agredia se não arrecadasse o suficiente. O sofrimento físico, a vergonha e a persistência do trauma, que ainda hoje o faz acordar de pesadelos, marcaram profundamente sua vida. Em cada véspera de Ano Novo, ligava para casa, assegurando aos pais que estava bem, enquanto chorava sozinho sem poder revelar sua verdadeira situação. Mais detalhes sobre as consequências da poliomielite podem ser encontrados no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um Novo Capítulo: O Resgate Pela Educação
A mudança em sua vida começou a se desenhar quando Chuangye pegou um jornal na rua e percebeu que só conseguia ler os caracteres de seu próprio nome. Aos 16 anos, tomado pela convicção de que apenas a educação poderia transformar seu destino, decidiu retornar à casa. Coincidentemente, uma nova política governamental tornava crime a exploração de crianças com deficiência na mendicância, e sua família, felizmente, havia melhorado sua condição financeira. Ele conseguiu a permissão do “chefe” para visitar seus pais e, ao se reunir com a família, finalmente pôde revelar os anos de exploração e descobrir que o explorador havia enviado bem menos dinheiro do que prometera. Indignado, mas determinado a seguir em frente, matriculou-se no segundo ano do ensino fundamental, juntando-se a crianças dez anos mais jovens.
No ambiente escolar, o foco de Li Chuangye era inabalável. Apesar da curiosidade inicial dos colegas, ele já havia enfrentado tanto sofrimento e ridículo que não se importava. Tornou-se o aluno mais dedicado, superando obstáculos como a dificuldade em tarefas básicas como ir ao banheiro, o que muitas vezes o levava a não beber água na escola. Com imensa força de vontade, concluiu o ensino fundamental e médio em nove anos. Utilizava de sua influência como o “aluno mais velho” para convidar crianças para brincar e, em troca, pedia ajuda com os deveres de casa, aproveitando cada oportunidade de aprendizado.
O Caminho para a Medicina e a Paixão Pela Escalada
Ao se preparar para a faculdade, a mobilidade limitada de Chuangye restringia suas opções. No entanto, ele vislumbrou a medicina como um caminho. “Se eu me tornar médico, talvez possa pesquisar minha própria condição, ajudar minha família, salvar vidas e contribuir para a sociedade”, pensou. Aos 25 anos, Li Chuangye ingressou na faculdade de medicina. Embora as instalações fossem mais acessíveis, as aulas práticas representavam um grande desafio. Enquanto colegas se movimentavam facilmente entre setores e pacientes, sua dificuldade de locomoção tornava o aprendizado mais demorado e exaustivo.

Imagem: g1.globo.com
Para fortalecer seu corpo e sua mente, Chuangye abraçou um novo desafio: a escalada de montanhas. Em sua primeira grande jornada, levou cinco dias e noites para alcançar o cume do Monte Tai, uma das montanhas sagradas mais famosas da China, com mais de 1.500 metros acima do nível do mar. Mesmo com as mãos e os pés feridos e sangrando, ele não desistiu, subindo cada degrau de pedra com persistência e bravura. A escalada se tornou uma verdadeira paixão, ganhando destaque nas redes sociais com seus vídeos inspiradores.
Salvando Vidas e Quebrando Paradigmas
Atualmente, Li Chuangye dirige uma pequena clínica rural na região de Xinjiang, no noroeste da China, onde trabalha dia e noite. Seus pacientes o chamam carinhosamente de “médico milagroso”, um título que reflete a gratidão e a confiança que ele inspira. “Cuidar dos pacientes com minhas próprias mãos, melhorar a saúde dos meus vizinhos… Isso me satisfaz mais do que qualquer outra coisa”, declara. Surpreso com a vasta repercussão de sua história nas comunidades chinesas e em todo o mundo, ele nutre a esperança de que sua trajetória ajude a mudar percepções negativas sobre pessoas com deficiência. Apesar de já ter sido confundido com um mendigo em restaurantes, devido à sua forma de locomoção, e ser negado o atendimento, ele mantém a serenidade, consciente de que “a maioria das pessoas é gentil”.
Uma Vida de Confiança e Propósito
Indagado sobre a decisão de não denunciar seu explorador, Li Chuangye optou por deixar o passado para trás. “Aqueles sete anos foram dolorosos, mas fazem parte da minha vida”, afirma. A sua jornada transformou sua visão de mundo, libertando-o da preocupação com o julgamento alheio após seu retorno à escola. Ele percebeu que a opinião dos outros era insignificante perto de seu propósito de vida. Sua mensagem ao público é clara e poderosa: “Nossas vidas são como montanhas: subimos uma, e há outra à frente. Estamos constantemente nos esforçando e progredindo. Acredito que uma pessoa deve sempre permanecer positiva, otimista e nunca desistir de seus sonhos.” Para Chuangye, superar o medo de ser julgado é essencial, e ele se move com confiança, seja para as aulas ou para ajudar outras pessoas com deficiência, independentemente de como ele é visto. “Não me importo mais com o olhar dos outros”, ele conclui, transmitindo uma inabalável convicção.
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A história de Li Chuangye é um testamento de resiliência e dedicação, mostrando que barreiras físicas e sociais podem ser superadas com educação, esforço e um forte propósito de vida. Sua jornada do mendicante ao médico milagroso inspira e desafia a todos nós a repensar os limites do possível. Continue acompanhando outras jornadas inspiradoras e análises profundas em nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: Dr Li Chuangye/BBC
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