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Suicídios no Acre Aumentam: Escuta Chave na Prevenção

O aumento preocupante de casos de suicídio no Acre demanda atenção urgente, especialmente quando dados recentes apontam para um crescimento expressivo. No período de janeiro a agosto, o estado registrou um salto de mais de 29% na quantidade de óbitos por autoextermínio em comparação com o ano anterior, conforme o relatório de mortes violentas intencionais […]

O aumento preocupante de casos de suicídio no Acre demanda atenção urgente, especialmente quando dados recentes apontam para um crescimento expressivo. No período de janeiro a agosto, o estado registrou um salto de mais de 29% na quantidade de óbitos por autoextermínio em comparação com o ano anterior, conforme o relatório de mortes violentas intencionais do Departamento de Inteligência da Polícia Civil. Esta escalada ressalta a importância de debater a saúde mental e estratégias eficazes de prevenção, destacando a necessidade primordial de ouvir quem sofre.

A análise detalhada do cenário revela que, em 2024, 57 indivíduos faleceram por suicídio no Acre, número que subiu para 74 vítimas em 2025. Predominantemente, o perfil das vítimas aponta para homens, correspondendo a 74% dos casos, com 55 deles no último período analisado. Além disso, a faixa etária mais afetada abrange pessoas entre 30 e 39 anos em todo o território acreano, sublinhando a complexidade das causas.

Suicídios no Acre Aumentam: Escuta Chave na Prevenção

Para Ana Cristina Sales de Messias, que atua como coordenadora estadual da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), um dos pontos cruciais a ser abordado é a diferença na busca por auxílio entre os gêneros. “As mulheres procuram mais ajuda. Os homens, por uma questão conservadora, machista, se fecham mais. Ele não se permite sentir e expor o que está sentindo, isso é um fato”, salienta a especialista. Ela ainda ressalta a nova diretriz da Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, que propõe uma mudança de foco na comunicação sobre a problemática. Ao invés de priorizar taxas e estatísticas, a meta é enfatizar que a prevenção do suicídio no Acre, assim como em outras regiões, se inicia com a prática da escuta atenta às pessoas próximas.

A coordenadora explica que a prevenção ao suicídio vai além dos diagnósticos de transtornos mentais graves. Ela destaca que fatores sociais desempenham um papel significativo no agravamento do sofrimento psíquico, podendo levar ao suicídio mesmo em pessoas sem um transtorno mental pré-existente. Desemprego, questões socioeconômicas em idade mais avançada e conflitos em relacionamentos são exemplos de gatilhos capazes de intensificar um estado de angústia. “Não são só as pessoas que têm transtorno que chegam num grau tão intenso de sofrimento mental que tiram a própria vida”, adverte Ana Cristina, sublinhando a natureza multifacetada do problema.

Diante de qualquer manifestação de sofrimento mental, seja um transtorno diagnosticado ou uma sensação persistente de angústia, insônia prolongada ou desejo de isolamento, a busca por apoio é fundamental. A recomendação da especialista é procurar ajuda profissional ou, no mínimo, conversar com alguém de confiança. Aqueles que são procurados por indivíduos em sofrimento têm um papel vital: escutar sem emitir julgamentos, encorajar a busca por assistência especializada ou até mesmo acompanhar a pessoa a um profissional. “Mesmo que a pessoa não queira procurar ajuda profissional, o fato dela falar é um pedido de ajuda. Então, cabe a gente ir ajudando dentro das possibilidades”, acrescenta, reforçando o poder da interação humana.

Ana Cristina reforça a importância de que pacientes com sintomas mais agudos não recebam alta de unidades de saúde sem um plano de referência ou encaminhamento adequado. A disponibilidade do outro deve atender às necessidades do indivíduo em sofrimento, e não às expectativas do ouvinte. Compreender o adoecimento psíquico como um processo que exige suporte contínuo é crucial. “É uma questão de adoecimento, então essa pessoa precisa de um suporte por um tempo, é preciso que a gente fique atento, tanto os familiares quanto os amigos, não exigindo coisas, dizendo: ‘vamos lá, você consegue’, nada disso, isso não motiva”, esclarece. A orientação é oferecer proximidade e apoio incondicional: “olha eu tô aqui, você pode me ligar a hora que você quiser, eu venho aqui dormir com você”, pontua, destacando a importância da presença efetiva.

Um aspecto frequentemente negligenciado na saúde mental contemporânea é a influência dos dispositivos eletrônicos e redes sociais. A coordenadora alerta para a observação do tempo excessivo gasto com celulares. Embora a televisão fosse um padrão de consumo antes, o acesso constante via celular agrava a situação, criando uma dependência similar a de substâncias, em razão do prazer imediato e da produção de serotonina. “Esse é um cuidado que a gente precisa ter e que causa uma dependência tão grande quanto qualquer substância. É um prazer imediato que o celular causa. Produz serotonina e a pessoa fica desejando e não consegue viver o hoje”, detalha, alertando para a fuga da realidade e o foco no imediato, um desafio relevante na discussão da saúde mental e na prevenção ao suicídio no Acre.

Suicídios no Acre Aumentam: Escuta Chave na Prevenção - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Para um trabalho eficaz em saúde mental e na prevenção do suicídio, a especialista delineia três pilares fundamentais: acolhimento, vínculo e acompanhamento. O processo inicia com um acolhimento caloroso e empático, proporcionando um ambiente seguro. Em seguida, é estabelecido um vínculo de confiança, uma vez que “Você fala com qualquer pessoa sobre a sua vida? Não”, contextualiza, demonstrando a seletividade para o desabafo. Uma vez estabelecida essa conexão, um projeto de cuidado individualizado é construído em conjunto com o paciente, respeitando suas possibilidades e efetivamente acompanhando sua implementação.

Para indivíduos que reconhecem a necessidade de assistência, o primeiro ponto de contato deve ser a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa, onde será realizada a “primeira escuta”. Em situações de sofrimento mais intenso e quadros graves que demandem acompanhamento multiprofissional, o encaminhamento é feito para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Ana Cristina informa que o Acre dispõe de CAPS em oito municípios: Brasiléia, Epitaciolândia, Sena Madureira, Rodrigues Alves, Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Acrelândia e Capixaba. Essas unidades são voltadas primariamente para casos moderados e graves, mas também estão aptas a acolher pacientes com sofrimento psíquico agudo, que receberão suporte por um período antes de serem reintegrados à atenção básica.

A coordenadora expressa também a sua contrariedade em relação a práticas manicomiais e noções conservadoras, que defendem o tratamento de transtornos em instituições fechadas por longos períodos. Ela enfatiza que essa abordagem está desalinhada com os princípios atuais de cuidado humanizado em saúde mental. “Hoje em dia não existe mais isso. Não deveria mais existir”, opina Ana Cristina, reforçando a urgência de uma perspectiva progressista e inclusiva na abordagem da prevenção ao suicídio no Acre. Para mais informações sobre as diretrizes e políticas de saúde mental no país, é fundamental consultar fontes oficiais como o Ministério da Saúde.

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Diante do alarmante crescimento dos casos de suicídio no Acre e da complexidade envolvida na prevenção ao suicídio, torna-se imperativo que a sociedade esteja mais atenta e solidária. A fala da coordenadora da RAPS ressalta que a escuta ativa, o acolhimento e o estabelecimento de vínculos são ferramentas poderosas que, somadas ao acesso a serviços como as UBS e os CAPS, podem salvar vidas. A abordagem humanizada e a desmistificação do sofrimento mental são pilares essenciais para construir um futuro onde o apoio seja mais acessível e eficaz. Continue acompanhando nossa editoria de Cidades para mais notícias e análises sobre questões sociais e de bem-estar na região.

Crédito da imagem: Reprodução/TV Globo

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