Neste domingo, 19 de maio, a notícia da liberação da ex-chefe de gabinete do ex-prefeito de Teresina Dr. Pessoa (PRD), Suellene Pessoa é solta, veio à tona, conforme informou seu advogado de defesa, Djalma Filho. A medida, segundo a defesa, decorreu da ausência de renovação do pedido de prisão temporária pela Polícia Civil do Piauí. Este desenvolvimento marca uma nova fase nas investigações da Operação Gabinete de Ouro, que apura um complexo esquema de desvio de recursos públicos e suas ramificações no cenário político da capital piauiense.
Após a liberação, Suellene Pessoa, que estava detida, pôde retornar às suas atividades. “A Srta. Suellene Pessoa foi liberada pela polícia e justiça, nas primeiras horas do dia, e se encontra de volta aos seus estudos, aguardando os próximos passos da investigação”, declarou seu advogado, reiterando o compromisso da defesa em cooperar com os desdobramentos processuais. Ela figura como uma das principais suspeitas de envolvimento em um intrincado esquema de corrupção que, conforme apontam as apurações, teria movimentado uma quantia aproximada de R$ 75 milhões, representando um grave dano aos cofres públicos municipais. Sua participação, investigada desde o início da operação, é crucial para a compreensão do fluxo de dinheiro e da dinâmica dos desvios que impactaram a administração pública.
Suellene Pessoa é solta e investigações prosseguem em Teresina
A ex-chefe de gabinete prestou depoimento à Polícia Civil na última quinta-feira, 16 de maio, por meio de videoconferência, demonstrando a adaptabilidade das autoridades diante das circunstâncias da investigação em Teresina. Além dela, outros três ex-servidores públicos, que também foram alvos de prisões na Operação Gabinete de Ouro, foram ouvidos pelo Departamento de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Deccor). Esses depoimentos são peças fundamentais para elucidar a participação de cada indivíduo e a hierarquia dentro da suposta organização criminosa, buscando interligar todas as pontas do esquema denunciado e rastrear a origem e destino dos valores movimentados indevidamente.
O Berço da Investigação: A Operação Gabinete de Ouro
A investigação conduzida pela TV Clube obteve acesso direto aos documentos do inquérito policial que detalham minúcias dos desvios financeiros. A origem da apuração remonta a uma denúncia anônima recebida pelo site oficial da Polícia Civil em outubro de 2024. Anexa à denúncia, foi encontrado um arquivo de texto intitulado sugestivamente de “O Gabinete de Ouro”, o qual apresentava acusações formais contra Suellene Pessoa, também identificada como Sol Pessoa, e contra Marcos Almeida. Essa expressão acabou por batizar a operação que se desdobraria em ampla escala, expondo um complexo mecanismo de corrupção na prefeitura de Teresina.
De acordo com os apontamentos preliminares da polícia, Marcos Almeida desempenhava um papel central e estratégico como operador financeiro para Sol Pessoa. Sob suas ordens e coordenação direta, ele era encarregado de manter o controle rigoroso e a subsequente indicação de funcionários terceirizados para diversas secretarias e outros órgãos vinculados à Prefeitura de Teresina. Essa função estabelecia um intrincado mecanismo de manipulação e influência sobre as contratações públicas e a alocação de pessoal. Interceptações de conversas telefônicas e trocas de mensagens entre os dois investigados foram consideradas provas contundentes e cruciais para desvendar a mecânica e a arquitetura do suposto esquema, servindo como elementos primordiais para as acusações de transações e combinações ilícitas que afetaram a gestão municipal.
O Protagonismo de Sol Pessoa nas Transações Ilícitas
Um dos diálogos interceptados, amplamente detalhado no inquérito policial, exemplifica com clareza a maneira pela qual as negociações ilegais supostamente ocorriam. Em uma dessas conversas, Sol Pessoa inquire Marcos Almeida sobre a disponibilidade de uma vaga com remuneração de R$ 2,5 mil na Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi). Diante da resposta negativa de Marcos, ele então questiona se seria viável realocar a contratação para outro órgão da prefeitura, ao que a ex-chefe de gabinete prontamente confirma a possibilidade. Este intercâmbio de mensagens revela a grande flexibilidade e o elevado nível de controle que o esquema supostamente possuía sobre a distribuição de cargos e a gestão de recursos dentro da estrutura municipal.
O delegado Ferdinando Martins, coordenador do Deccor, ratificou a posição de que Sol Pessoa era, de fato, a “protagonista do grupo criminoso”. Sua liderança no esquema era marcada por uma série de funções estratégicas e cruciais para o funcionamento das irregularidades. “Ela era a pessoa que dialogava diretamente com fornecedores, com um empresário que também fazia interlocução com os terceirizados. Ela tinha protagonismo dentro do trabalho. Ela centralizava os pagamentos, realocava terceirizados”, explicou o delegado. Tal centralização de poder e de decisões permitia uma manipulação eficiente dos recursos e a perpetuação das ilegalidades por um longo período.

Imagem: g1.globo.com
Uma outra conversa relevante interceptada entre Suellene Pessoa e Marcos Almeida demonstra claramente a capacidade de Sol Pessoa de direcionar Marcos sobre as contas bancárias para as quais os valores supostamente desviados deveriam ser destinados. Marcos, em cumprimento às orientações recebidas, prontamente atendeu aos comandos, enviando a ela os comprovantes referentes a dois depósitos distintos, cada um no valor de R$ 2,3 mil. A Polícia Civil também alega que Sol Pessoa fazia uso de verbas públicas que teriam sido desviadas para aquisições de itens pessoais de luxo e para quitar suas despesas privadas. Durante a fase da operação, diversos bens foram apreendidos, incluindo uma casa residencial, um apartamento, um sítio, variados aparelhos eletrônicos e bolsas de grife de alto valor, o que corrobora a tese de um sistemático enriquecimento ilícito às custas do erário.
Conexão e Ramificações com a Operação Interpostos
É importante ressaltar que a Operação Gabinete de Ouro não se desenvolve de forma isolada, possuindo ramificações importantes e conexões diretas com outra frente investigativa, denominada Operação Interpostos. Esta segunda operação, que investiga um grupo distinto mas correlato, concentra-se em possíveis desvios e movimentações financeiras consideradas suspeitas, envolvendo, neste caso, ex-vereadores da capital piauiense. Entre os alvos notáveis dessa operação, destaca-se o ex-vereador Stanley Freire, que exerceu a presidência da Fundação Municipal de Cultura (FMC) no ano de 2024, um período que correspondeu ao último ano da gestão do então Dr. Pessoa.
No âmbito específico da Operação Interpostos, as autoridades policiais realizaram diligências e buscas no escritório particular de Stanley Freire, além de estender a investigação a outros dois ex-vereadores de Teresina, cujos nomes não foram divulgados pelas fontes oficiais. A delegada Bernadete Santana detalhou à imprensa que o foco central da investigação reside nas movimentações financeiras consideradas atípicas e suspeitas. Um dos ex-parlamentares envolvidos teria, de acordo com as apurações, movimentado uma soma expressiva de R$ 14 milhões entre os anos de 2020 e 2023. Tal valor levanta sérios questionamentos e necessita de esclarecimentos sobre a origem lícita e a finalidade desses fundos. Em defesa de seu cliente, o advogado de Stanley Freire, Deomar Fonseca, afirmou publicamente já ter fornecido todos os documentos e comprovações necessárias que, segundo ele, atestam a plena legalidade de todas as transações financeiras do ex-vereador, buscando, assim, refutar as acusações e preservar a imagem do seu representado.
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Em suma, a liberação da ex-chefe de gabinete Suellene Pessoa configura mais um capítulo de uma intrincada teia de investigações que buscam desmantelar um suposto e vasto esquema de corrupção que teria operado na Prefeitura de Teresina. Enquanto a ex-chefe de gabinete aguarda os próximos passos processuais em liberdade, a Polícia Civil continua a aprofundar as apurações nas Operações Gabinete de Ouro e Interpostos, demonstrando o rigor e a persistência na busca pela transparência e accountability pública em todos os níveis da gestão municipal. Para se manter sempre atualizado sobre estes e outros importantes acontecimentos no cenário político e de segurança pública do Piauí e do país, clique aqui e explore nossa editoria de Política, onde você encontra análises, notícias detalhadas e a cobertura mais completa sobre os desdobramentos desses casos e de outras notícias relevantes para a sociedade.
Crédito da imagem: Reprodução/TV Clube


