Uma confusão em um jogo da Women’s National Basketball Association (WNBA) transformou Sophie Cunningham, armadora do Indiana Fever, em uma figura notável para segmentos conservadores nos Estados Unidos. O episódio, que culminou na expulsão de três atletas, marcou um ponto de virada para Cunningham, atraindo milhões de seguidores em plataformas de mídia social e gerando oportunidades comerciais substanciais.
O incidente ocorreu em 17 de junho, durante o embate entre o Indiana Fever e o Connecticut Sun, partida caracterizada por faltas intensas e provocações. A estrela do Fever, Caitlin Clark, foi alvo de jogadoras do Sun, com empurrões e até um toque no olho, cometido por Jacy Sheldon. Em resposta a essa sequência de agressões percebidas e à falta de proteção dos árbitros para sua companheira de equipe, Sophie Cunningham demonstrou sua natureza “temperamental”. Com menos de um minuto restante no relógio, e após Sheldon roubar a bola e correr em direção à cesta adversária, Cunningham a interceptou bruscamente, derrubando-a ao chão em uma falta clara e proposital. O gesto acirrou os ânimos; Sheldon e outra jogadora do Sun, Lindsay Allen, confrontaram Cunningham, que reagiu ao avanço. As três jogadoras foram prontamente excluídas da partida pela arbitragem.
👉 Leia também: Guia completo de Noticia
A repercussão da ação de Cunningham foi imediata e de grande escala, catapultando-a para o centro das atenções. Em poucos dias, seus perfis no Instagram e TikTok viram um aumento explosivo no número de seguidores, passando de centenas de milhares para mais de um milhão. A armadora, que na época contava com 29 anos, passou a ser celebrada como uma espécie de protetora de Clark, recebendo aplausos efusivos de torcedores durante os jogos de sua equipe, ao mesmo tempo em que atraía vaias acaloradas e entusiásticas dos torcedores adversários. Apesar da repentina ascensão à popularidade, Cunningham declarou que sua atitude não teve motivação em busca de visibilidade ou engajamento online. “Eu não fiz isso para ganhar cliques. Eu defendo minhas companheiras”, afirmou a atleta, ressaltando sua lealdade aos seus pares no time.
Mesmo que as motivações declaradas da jogadora não estivessem centradas no ganho pessoal, o episódio com o Connecticut Sun abriu um vasto leque de oportunidades financeiras. Nos dias e semanas seguintes ao evento, Cunningham viu um incremento notável em seu interesse midiático, particularmente por parte de um ecossistema conservador que, recentemente, tem direcionado sua atenção para o basquete feminino. Este interesse surgiu em parte devido à forma como o tratamento de Caitlin Clark por outras atletas da liga foi enquadrado. Para comentaristas de direita, a questão tornou-se uma “causa célebre”, sendo interpretada, sem evidências explícitas, como uma questão racial, com o Wall Street Journal inclusive publicando um artigo de opinião que alegava violação dos direitos civis de Clark, atribuindo o tratamento diferenciado ao fato de ela ser branca.
Dentro desse novo cenário de atenção, o apelido “Maga Barbie” começou a ganhar força entre os fãs da WNBA para se referir a Sophie Cunningham. O termo é uma fusão do famoso slogan “Make America Great Again” – associado ao presidente Donald Trump – e da aparência da jogadora. Embora Cunningham tenha declarado publicamente que se considera “bem no meio” do espectro político, esta associação a veículos conservadores notou prontamente sua crescente popularidade nesse meio. Essa ascensão de perfil aconteceu apesar das adversidades pessoais; lesões, incluindo uma cirurgia no joelho, afastaram Cunningham temporariamente das quadras. Contudo, sua influência cultural e o engajamento com seu público não diminuíram.
No dia seguinte ao embate com o Sun, um executivo da PRP, agência que representa Cunningham, estabeleceu contato com o CEO da Ring, uma proeminente empresa de segurança residencial amplamente reconhecida por suas campainhas equipadas com câmeras. Rishi Daulat, presidente da PRP, relembrou a conversa, citando que o executivo destacou o fato de que “Sophie é conhecida como uma espécie de protetora”. Em um período de menos de duas semanas após esse contato inicial, Cunningham publicou um anúncio patrocinado pela Ring em sua conta do TikTok. Este foi um dos sete novos acordos comerciais que a jogadora firmou nas semanas que se seguiram ao incidente na quadra. A atleta também se aventurou em uma nova empreitada no campo do entretenimento, lançando um podcast em julho ao lado de West Wilson, amigo de longa data desde o ensino médio e conhecido por sua participação no reality show “Summer House”, exibido pelo canal Bravo. Cunningham expressou que essas iniciativas recentes visam a abrir portas para o que ela pretende fazer “quando a bola parar de quicar”, indicando planos de transição para além de sua carreira como atleta profissional. Ela já possui alguma experiência, tendo atuado em algumas ocasiões como comentarista em transmissões de jogos da NBA.
Embora Cunningham tenha preferido não divulgar os números exatos relativos aos valores que recebe desses acordos publicitários e empreendimentos fora da quadra, ela confirmou que a receita gerada por essas parcerias deverá “superar em muito” seu salário de atleta na WNBA. Em seu contrato mais recente com a liga, a jogadora teve um salário anual de US$ 100 mil, equivalente a aproximadamente R$ 543 mil na cotação cambial atual. A professora Cara Hawkins-Jedlicka, da Universidade Estadual de Washington, que pesquisa a comunicação de esportes femininos e a cultura dos influenciadores, aponta que as atletas femininas muitas vezes “têm que se apoiar” nas mídias sociais devido à percepção de que não recebem promoção equivalente à de seus colegas masculinos. Como ilustração desse desequilíbrio, enquanto Hawkins-Jedlicka falava, ela observou que a página principal da ESPN apresentava majoritariamente artigos sobre beisebol e futebol americano, com uma única exceção focada em Sophie Cunningham. “Esta é a única manchete sobre mulheres que está na página inicial da ESPN agora”, afirmou a professora, sublinhando a escassez de destaque para o esporte feminino.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O conteúdo que Cunningham compartilha em seu TikTok abrange desde as últimas tendências de dança até postagens com fotos de roupas, criando uma presença online diversificada. Contudo, ela também se engajou em mostrar a fisicalidade intensa do basquete profissional, exibindo seu dente da frente lascado e um dedo visivelmente deformado – ambos resultados diretos do contato e da intensidade das disputas durante os jogos. Além disso, a jogadora demonstrou uma habilidade de interagir com o público de maneira irônica e perspicaz em outras plataformas. No final de julho, por exemplo, em meio a uma série de incidentes em que objetos inusitados foram jogados em quadras da WNBA, incluindo brinquedos sexuais, Cunningham publicou em seu perfil no X (antigo Twitter), de forma sarcástica: “Parem de jogar vibradores na quadra… Vocês vão machucar uma de nós”. Poucos dias depois, durante uma partida em Los Angeles, o próprio pé de Cunningham foi atingido por um desses objetos enquanto era arremessado no gramado. Conforme observado por Spain, “Ela claramente está interessada no tipo de coisa que impulsiona audiência e inflama as pessoas”, o que aponta para uma consciente gestão de sua imagem e engajamento online.
Sophie Cunningham cresceu na cidade de Columbia, localizada no estado do Missouri, e posteriormente defendeu a Universidade do Missouri em sua trajetória acadêmica e esportiva. Foi precisamente durante sua passagem pelo basquete universitário que seu estilo de jogo intenso e agressivo, marcado por muitos empurrões e agarrões, começou a ser alvo de controvérsias. A Universidade da Carolina do Sul, uma rival de peso para a Universidade do Missouri, teve seu jornal local, The State, publicando uma manchete questionadora: “Sophie Cunningham é uma jogadora suja? Não é mais só a Carolina do Sul que está perguntando”. Até mesmo a renomada emissora ESPN dedicou debates e análises à questão. Foi aproximadamente nessa época que os fãs e a mídia começaram a associar o apelido “Maga Barbie” à atleta. Refletindo sobre o apelido e sua conotação política, Cunningham mencionou: “Eu sou claramente branca e de Missouri, então acho que houve muita suposição aí”, considerando que na eleição presidencial mais recente na sua região, o então candidato Donald Trump obteve uma vantagem significativa sobre a candidata democrata, Kamala Harris, com 58,49% dos votos contra 40,08%, respectivamente.
Embora Sophie Cunningham evite discorrer amplamente sobre suas próprias preferências políticas em público, ela mantém uma atividade discreta nas redes sociais que denota algumas de suas inclinações. A jogadora segue algumas contas reconhecidamente conservadoras, entre elas a da comentarista Candace Owens e a do conglomerado de mídia The Daily Wire. Além disso, ela já se engajou em interações com postagens de cunho politicamente conservador. No entanto, ela persiste em afirmar que sua postura política é mais centralizada. “Tudo o que tenho a dizer é que realmente estou no meio, e acho que grande parte da América é assim”, disse Cunningham, enfatizando sua visão sobre o cenário político atual e sua própria posição dentro dele. “Na nossa cultura atual, você tem que escolher e tem que ser extremista, e isso simplesmente não sou eu. Então, concordo com coisas dos dois lados; discordo de coisas dos dois lados”, explicou a atleta, defendendo uma perspectiva moderada em um ambiente polarizado.
📌 Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona
O incidente de 17 de junho e seus desdobramentos solidificaram Sophie Cunningham não apenas como uma atleta determinada na WNBA, mas também como uma figura de interesse cultural e político nos Estados Unidos, navegando a intersecção entre esporte, mídia social e ideologias.
Com informações de Folha de S.Paulo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados