Artigos Relacionados

📚 Continue Lendo

Mais artigos do nosso blog

PUBLICIDADE

Maria Hermínia Tavares: A Solidão dos Progressistas no Brasil

A discussão sobre a polarização política no Brasil tem sido intensa nas redes sociais, mas a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, uma autoridade no cenário acadêmico nacional, lança uma nova perspectiva. Em sua análise, a solidão dos progressistas no Brasil emerge como um ponto central, com apenas uma fração dos cidadãos efetivamente engajada nos […]

A discussão sobre a polarização política no Brasil tem sido intensa nas redes sociais, mas a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, uma autoridade no cenário acadêmico nacional, lança uma nova perspectiva. Em sua análise, a solidão dos progressistas no Brasil emerge como um ponto central, com apenas uma fração dos cidadãos efetivamente engajada nos extremos políticos. Se a percepção popular é de um país dilacerado por conflitos ideológicos irreconciliáveis, dados de uma recente pesquisa de opinião indicam que essa imagem não reflete a totalidade do eleitorado.

De acordo com os insights apresentados pela professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisadora do conceituado Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), apenas 10% dos brasileiros se movem ativamente nos polos, divididos igualmente entre a esquerda e a extrema direita. Estes são os grupos que fomentam as bolhas virtuais e as manifestações de rua, seja clamando por anistia para figuras como Bolsonaro e participantes dos atos de 8 de janeiro ou se opondo a elas.

Maria Hermínia Tavares: A Solidão dos Progressistas no Brasil

Essas revelações provêm de uma pesquisa de opinião pública intitulada “O papel dos invisíveis na divisão política do Brasil”, patrocinada pelo braço brasileiro da ONG More in Common. O estudo meticuloso categorizou a população em seis segmentos distintos, com opiniões políticas consistentemente definidas em uma variedade de tópicos cruciais para o debate nacional. Nesta composição, os extremos são ocupados pelos “progressistas militantes”, que representam 5% do eleitorado, e pelos “patriotas indignados”, que formam um grupo de 6%. Na sequência, estão a “esquerda tradicional” e os “conservadores tradicionais”. Contudo, o grande e frequentemente ignorado contingente é formado pelos 54% da população, que os pesquisadores batizaram de “invisíveis”, pois raramente são representados nas narrativas correntes sobre a divisão política.

Esses “invisíveis” não se enquadram nas classificações políticas tradicionais, sendo descritos pelos autores como “desengajados” e “cautelosos”. A análise detalhada das características desse segmento aponta que, em aspectos como renda e escolaridade, suas convicções políticas demonstram maior proximidade com o grupo dos “conservadores tradicionais”. Essa maioria silenciosa contrasta com os perfis de outros agrupamentos analisados na pesquisa.

Perfil dos Progressistas Militantes e o Cenário Eleitoral

Uma observação crítica do estudo recai sobre o perfil dos “progressistas militantes”: este grupo se distingue dos demais por sua condição social mais elevada, maior nível de escolaridade, predomínio de brancos e menor adesão a práticas religiosas. A “esquerda tradicional” compartilha de algumas dessas características, mas de forma menos acentuada. Em conjunto, a totalidade dos grupos progressistas não alcança 20% da população, mantendo uma significativa diferença em relação ao resto da sociedade no que tange a renda, formação educacional e cor da pele. É relevante notar que essa proporção se assemelha à porcentagem de votos válidos angariados pelos partidos de esquerda para a Câmara dos Deputados nas eleições de 2022, confirmando uma tendência de limitação da base eleitoral.

O isolamento das esquerdas, tal como descrito no Brasil, não é um fenômeno exclusivo do cenário nacional. O economista francês Thomas Piketty identificou uma similaridade na relação entre alta escolaridade e voto em partidos socialistas entre seus compatriotas. Esse achado o levou a criar a expressão “esquerda brâmane”, destacando a distância crescente entre os partidos progressistas e as classes trabalhadoras. Paralelamente, nos Estados Unidos, muitos analistas observam um processo semelhante ameaçando a base eleitoral do Partido Democrata, reforçando a ideia de um desafio global enfrentado pelos movimentos progressistas.

O Fator Lula e o Futuro dos Progressistas

No Brasil, a liderança carismática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviu como um importante fator de compensação para o isolamento social e a relativa fraqueza eleitoral das esquerdas. Com uma base de apoio popular que transcende a adesão partidária, e a constante disposição de incorporar a direita pragmática em seu governo de coalizão, Lula conseguiu que o progressismo, embora minoritário, ascendesse ao poder. Sua trajetória, origem humilde e sua aguda intuição política são apontadas como os elementos que tornaram possível essa notável façanha.

Entretanto, Maria Hermínia Tavares sugere que as próximas eleições podem representar a última oportunidade para que essa dinâmica se repita. Ela adverte que os partidos de esquerda deverão encontrar novos caminhos para estabelecer uma conexão mais profunda com a maioria do eleitorado brasileiro. Caso contrário, arriscam-se a amargar um inevitável e cada vez mais acentuado isolamento político, o que dificultaria sobremaneira a continuidade de projetos progressistas no cenário nacional.

Confira também: crédito imobiliário

A reflexão de Maria Hermínia Tavares aponta para a urgência de uma redefinição estratégica por parte dos progressistas. O desafio é reconectar-se com a maioria da população que não se enquadra nos polos extremos. Para se aprofundar em mais análises e desdobramentos sobre o cenário político nacional, explore nossa seção de política e acompanhe as últimas novidades.

Crédito da imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Links Externos

🔗 Links Úteis

Recursos externos recomendados

Leia mais

PUBLICIDADE

Plataforma de Gestão de Consentimento by Real Cookie Banner