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Sobrado Machado de Assis no Rio: Patrimônio Ameaçado

O sobrado Machado de Assis no Rio de Janeiro, localizado no número 147 da Rua dos Andradas, na região central da capital fluminense, encontra-se em grave estado de degradação estrutural e em risco iminente de colapso. Esta situação motivou uma ação civil pública por parte do Ministério Público, que busca responsabilizar o município e o […]

O sobrado Machado de Assis no Rio de Janeiro, localizado no número 147 da Rua dos Andradas, na região central da capital fluminense, encontra-se em grave estado de degradação estrutural e em risco iminente de colapso. Esta situação motivou uma ação civil pública por parte do Ministério Público, que busca responsabilizar o município e o proprietário atual do imóvel, exigindo a tomada de providências imediatas para conter a deterioração deste relevante bem cultural brasileiro.

De acordo com informações fornecidas pela 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural da Capital, a residência histórica que abrigou o célebre escritor Machado de Assis apresenta descaracterização acentuada e um preocupante estado de conservação. O edifício, onde Machado de Assis residiu entre os anos de 1869 e 1871, possui reconhecimento oficial de sua importância, sendo tombado pelo patrimônio histórico e cultural municipal desde 2008, data que marcou o centenário de sua morte.

A iniciativa legal para a proteção deste legado histórico, intitulada Sobrado Machado de Assis no Rio: Patrimônio Ameaçado, foi formalizada e distribuída à 15ª Vara de Fazenda Pública da Capital. A ação civil pública reivindica, entre outras medidas, a aplicação de uma multa diária no valor de R$ 10 mil em caso de não cumprimento das determinações judiciais. O propósito é compelir os responsáveis a agir efetivamente para reverter o cenário de abandono.

A promotoria sustenta a necessidade de intervenção imediata, sublinhando a existência de risco real de colapso da fachada do que resta da edificação. Por essa razão, as exigências encaminhadas à Justiça incluem a realização de obras de restauração na fachada, na cobertura e na volumetria original do imóvel. Adicionalmente, o Ministério Público requisitou ações emergenciais destinadas a assegurar a segurança estrutural do local, bem como medidas de limpeza, conservação, guarda e uma restauração integral do sobrado, que, lamentavelmente, é utilizado como estacionamento em sua condição atual.

Inserido em uma Zona de Proteção do Ambiente Cultural, o imóvel onde Machado de Assis viveu também se encontra nas proximidades de outros bens protegidos e tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A preservação desse tipo de área é crucial para a identidade cultural do Rio de Janeiro e do Brasil, reforçando a importância da pronta ação diante da iminente perda de uma edificação tão significativa.

A conexão de Machado de Assis com este endereço na Rua dos Andradas é particularmente notável. Foi neste sobrado que o escritor estabeleceu residência logo após seu matrimônio com Carolina Augusta Xavier de Novais. Registros históricos, como um bilhete datado de 19 de novembro de 1869 e descoberto em 1955 pela biógrafa Lúcia Miguel Pereira, revelam relatos do próprio escritor ao amigo Ramos Paz sobre as dificuldades financeiras enfrentadas pelo casal durante a moradia na então “casa da Rua dos Andradas”. Tais informações aprofundam a relação do imponente sobrado com a vida pessoal e a trajetória de um dos maiores nomes da literatura brasileira.

O processo de tombamento municipal, concretizado em 2008 em homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis, deveria ter conferido ao sobrado a proteção legal necessária para sua conservação. No entanto, o descaso posterior demonstra as falhas na fiscalização e na execução das políticas de preservação. O imóvel, por sua história e seu valor, mereceria atenção contínua e investimentos para manutenção.

Além da residência na Rua dos Andradas, estudos conduzidos pela Prefeitura do Rio, também publicados por ocasião do centenário do falecimento do autor, indicam a existência de outros sete endereços potenciais onde Machado de Assis pode ter residido ao longo de sua vida na cidade. Entre eles, destaca-se um imóvel localizado na Rua da Lapa, número 242, que igualmente é tombado. Conforme dados apurados pelo biógrafo Raymundo Magalhães Jr., o segundo andar deste sobrado foi o lar do casal Machado e Carolina entre os anos de 1874 e 1875.

Sobrado Machado de Assis no Rio: Patrimônio Ameaçado - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

A jornada residencial do escritor não se restringiu ao centro e à Lapa, abrangendo outras áreas do Rio de Janeiro. Machado de Assis também morou no Catete, no bairro das Laranjeiras e, finalmente, no Cosme Velho, local onde ele veio a falecer. Essa diversidade de endereços espalhados pela cidade reflete a intensa relação do autor com o cenário urbano carioca, que frequentemente servia de pano de fundo e inspiração para suas obras. Mais informações sobre as responsabilidades em proteger o patrimônio histórico podem ser encontradas no site do Iphan, a principal autarquia responsável pela preservação no Brasil.

Essa profunda conexão entre o escritor e a capital fluminense é magistralmente resumida em um parecer da conselheira Natércia Rossi, relatora do processo que resultou na declaração da obra de Machado como patrimônio cultural carioca em 2008. Em suas palavras, “Não tem como fugir: por todos os cantos do Rio de Janeiro há um Machado atravessando a rua. As lentes do Bruxo do Cosme Velho não deixaram escapar nada. Os costumes, a moral, a falta de moral, a elite e a ralé, a mediocridade, os grandes sonhos e os pequenos pecados, os palácios e as modestas construções, tudo foi visto, revisto e previsto por ele.”

A visão de Rossi reforça a presença indelével de Machado de Assis no imaginário e na geografia da cidade. Cada sobrado, cada rua onde ele deixou sua marca, representa não apenas um ponto geográfico, mas um elo vital com o vasto universo de sua obra e de sua percepção da sociedade. Proteger esses espaços, como o sobrado da Rua dos Andradas, é preservar não só tijolos e argamassa, mas a própria memória literária e cultural do Brasil. A degradação do imóvel de Machado na Rua dos Andradas representa uma perda cultural inestimável para a história brasileira e para a identidade carioca.

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A ação judicial do Ministério Público, portanto, emerge como um esforço crucial para reverter o avanço da ruína sobre um patrimônio tão valoroso. Acompanhe mais notícias sobre a preservação de locais históricos e as ações cívicas para proteger nosso legado cultural em nossa editoria de Cidades, e mantenha-se informado sobre os desafios e vitórias na salvaguarda da história brasileira.

Crédito da Imagem: Reprodução/Google Street View

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