Síria um ano pós-Assad: o desafio da estabilidade

Economia

Nesta segunda-feira (8), a Síria um ano pós-Assad marca um ponto crucial em sua trajetória recente, celebrando o primeiro aniversário da queda do regime autoritário de Bashar al-Assad. Um ano após o fim de décadas de um governo centralizado, a nação se encontra fragmentada e engajada em uma árdua busca por estabilidade e unidade nacional, um objetivo complexo em um cenário ainda marcado pelas cicatrizes de anos de conflito, conforme noticiado por agências internacionais e veículos locais.

A capital Damasco é o epicentro das celebrações oficiais que comemoram o fim do regime. A Praça Omíada, local histórico de diversas manifestações políticas e sociais, foi palco de efusivas manifestações festivas nos dias que antecederam esta data significativa e agora se prepara para eventos ainda maiores, programados para esta segunda-feira. As festividades se estendem por outras regiões do país, simbolizando a esperança de um novo capítulo e uma renovada aspiração por um futuro mais promissor para o povo sírio.

Síria um ano pós-Assad: o desafio da estabilidade

A fuga de Bashar al-Assad para a Rússia, ocorrida precisamente há doze meses, culminou com a tomada de Damasco por forças rebeldes. Estas eram lideradas por Ahmed al-Sharaa, figura que hoje preside a Síria e cuja ascensão encerrou um ciclo de governo que se arrastava por mais de treze anos. O conflito que detonou em 2011, inicialmente uma revolta popular, escalou para uma guerra civil devastadora que agora se tenta superar. As comemorações da virada, um momento de transição e redefinição nacional, já ressoavam há dias em certas áreas, antecipando o clima de libertação e mudança profunda que paira sobre o país.

Em um claro sinal do apoio popular à recente mudança, a sexta-feira (5) viu milhares de sírios ocuparem as ruas de Hama. Vibrantes com a nova bandeira nacional, os manifestantes festejavam a captura da cidade pelas forças insurgentes, sob a liderança do grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham, encabeçado pelo atual presidente Sharaa, durante a ofensiva relâmpago que o levou à capital. Essas demonstrações de fervor e celebração têm sido ativamente incentivadas por todo o país, visando reforçar um sentido coletivo de unidade e pertencimento após um longo período de divisão e conflito interno que minou a coesão social e política da Síria.

A Trajetória de Ahmed al-Sharaa e as Novas Diretrizes Políticas Sírias

Enquanto a maior parte do país se junta às festividades e ao entusiasmo da transição, outras regiões abordam o aniversário com notável cautela e apreensão. No nordeste, a administração curda emitiu felicitações pela data, mas, em contraste, optou por proibir eventos públicos. A medida foi justificada por prementes questões de segurança, com a administração citando um notório aumento da atividade de células terroristas que, segundo ela, poderiam aproveitar a ocasião para desestabilizar a ordem e a segurança dos cidadãos locais. Esse cenário complexo revela a persistência de tensões e ameaças à paz em certas áreas do território sírio, mesmo com a mudança de regime em Damasco.

O próprio Ahmed al-Sharaa, que antes exerceu a função de ex-comandante da Al-Qaeda, já havia abordado a população síria em um discurso proferido no final de novembro. Naquela ocasião, marcando o primeiro aniversário da vitoriosa campanha rebelde, ele convocou os cidadãos a se reunirem nas praças como um gesto eloquente de alegria e um símbolo visível de união nacional. Sua liderança, portanto, tem se pautado na tentativa de construir um novo pacto social e político, prometendo um futuro distinto daquele forjado sob a ditadura dos Assad.

Desde sua ascensão ao poder, o presidente Sharaa implementou transformações significativas, sobretudo na redefinição da política externa síria. Seu governo buscou e conseguiu estreitar laços diplomáticos e estratégicos com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que obteve o valioso apoio de importantes países árabes do Golfo Pérsico, como forma de estabilizar a região. Essa movimentação estratégica contrasta nitidamente com o afastamento dos antigos e tradicionais aliados do regime de Assad, o Irã e a Rússia, reorientando de forma fundamental a geopolítica do país em nível internacional. Concomitantemente, uma grande parcela das sanções ocidentais que paralisavam severamente a economia síria foi suspensa, abrindo caminhos e perspectivas concretas para uma recuperação econômica muito esperada e necessária. A nova administração de Sharaa prometeu substituir o aparato repressivo e a máquina de um estado policial, legados opressores do governo de Bashar al-Assad, por uma ordem mais inclusiva e justa para todos os sírios, garantindo mais liberdade e oportunidades.

Desafios e Instabilidades Internas na Reconstrução Síria

Apesar das promessas de inclusão e justiça que buscam delinear um futuro mais pacífico para a nação, o caminho para a plena estabilidade tem se mostrado longo e tortuoso. O período pós-Assad, marcado por intensas expectativas e desafios, foi também permeado por surtos contínuos de violência sectária. Tais conflitos resultaram, infelizmente, na perda de centenas de vidas e provocaram novos deslocamentos de populações vulneráveis em várias regiões do território sírio, perpetuando o ciclo de sofrimento humano. Incidentes dessa natureza alimentaram uma crescente desconfiança entre as diversas minorias étnicas e religiosas em relação ao novo governo de Sharaa, que ainda enfrenta o imenso desafio de restabelecer a autoridade de Damasco sobre a totalidade do território sírio, hoje fragmentado e com múltiplos focos de poder e influência regional.

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Imagem: valor.globo.com

Além da persistente violência interna, o novo governo precisa lidar com aspirações regionalistas intrínsecas à complexa formação da Síria. A administração curda no nordeste do país persiste e reforça seus esforços para preservar e ampliar sua autonomia regional, uma demanda de longa data que precede a queda do antigo regime e reflete a busca por autodeterminação de sua população. Simultaneamente, no sul, alguns grupos drusos, aderentes a uma seita minoritária do Islã, têm expressado abertamente seu desejo de independência, complicando ainda mais a tarefa já monumental de unificação nacional sob a égide do novo governo. Essas reivindicações distintas ressaltam a profunda heterogeneidade da sociedade síria e a complexidade inerente em forjar um consenso nacional duradouro após anos de conflito generalizado.

Durante um fórum no Catar, realizado no último fim de semana, Ahmed al-Sharaa reiterou sua visão otimista para o futuro da nação. Ele afirmou publicamente que a Síria estaria vivendo seus “melhores momentos”, uma declaração que, embora imbuída de esperança, contrasta visivelmente com a realidade dos episódios de violência reportados em algumas áreas do país. No mesmo evento, Sharaa prometeu veementemente responsabilizar os culpados por tais atos de instabilidade e de desordem. O presidente de transição também delineou um ambicioso plano de quatro anos para seu governo provisório, período em que buscará ativamente estabelecer novas instituições governamentais mais eficientes, formular novas leis que contemplem os anseios populares e redigir uma nova constituição democrática. Este documento fundamental será, posteriormente, submetido a um referendo popular abrangente antes da realização de eleições gerais, visando solidificar os alicerces democráticos do novo estado sírio e legitimar as novas estruturas de poder.

O Legado de um Conflito Devastador e as Esperanças de um Novo Começo

É fundamental recordar que a família Assad, pertencente à minoria alauíta, exerceu um domínio férreo sobre a Síria por mais de cinco décadas, governando o país por 54 longos anos. Esse longo período foi interrompido por um conflito que teve início em 2011, detonado por manifestações que reivindicavam mais liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos. A guerra civil que se seguiu devastou o país e deixou um legado sombrio de destruição e perda. O conflito ceifou a vida de centenas de milhares de pessoas, forçou o deslocamento interno e externo de milhões de sírios, levando aproximadamente 5 milhões a buscar refúgio em nações vizinhas, criando uma das maiores e mais complexas crises humanitárias da história recente.

Em uma perspectiva econômica, dados recentes apontam para alguns sinais de recuperação, embora tímidos e localizados. Na semana anterior, durante a influente conferência Reuters Next, o presidente do banco central sírio declarou que o retorno de cerca de 1,5 milhão de refugiados ao país tem contribuído ativamente para impulsionar a economia nacional. Este influxo de população, com sua mão de obra e potencial de consumo, representa um vetor de crescimento, mas não resolve, por si só, todos os problemas econômicos estruturais. Segundo dados alarmantes do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), as necessidades humanitárias na Síria permanecem extremamente graves, com estimativas de que aproximadamente 16,5 milhões de pessoas precisarão de assistência vital em 2025. Para mais informações detalhadas sobre a complexidade da crise humanitária na Síria e as operações de assistência em curso, consulte o site oficial do OCHA, que fornece atualizações e relatórios aprofundados.

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O primeiro ano da Síria um ano pós-Assad representa um complexo mosaico de esperança e desafios contínuos. Enquanto o governo de transição liderado por Ahmed al-Sharaa avança com suas reformas e planos de estabilização, a nação ainda enfrenta profundas divisões internas e uma imensa crise humanitária que demanda atenção e apoio global. Para se aprofundar nas nuances políticas e sociais do Oriente Médio e entender como o futuro da Síria pode impactar a região e o cenário geopolítico mundial, continue acompanhando as análises e notícias detalhadas em nossa editoria de Política.

Crédito da imagem: Agências Internacionais.

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