Setor Produtivo Reage à Selic e Pede Corte Imediato dos Juros

Economia

A manutenção da Taxa Selic em 15% ao ano, o patamar dos juros básicos da economia brasileira, gerou uma série de manifestações e críticas por parte do setor produtivo nacional. Apesar de a decisão ter sido amplamente antecipada pelos analistas de mercado e economistas, a persistência do Banco Central (BC) em reter os juros em níveis tão elevados é vista por empresários e entidades sindicais como um obstáculo significativo ao avanço da economia, especialmente em um cenário de queda da inflação, desaceleração econômica geral e redução do ímpeto no mercado de trabalho.

Organizações representativas da indústria, do comércio e das centrais sindicais expressaram publicamente sua insatisfação, argumentando que as evidências macroeconômicas atuais já justificariam o início de um ciclo de redução dos juros. Elas enfatizam que a política monetária atual tem impactado negativamente a capacidade de investimento das empresas, encarecido o crédito e diminuído o poder de consumo da população, componentes essenciais para a retomada do crescimento sustentável do país.

Setor Produtivo Reage à Selic e Pede Corte Imediato dos Juros

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) posicionou-se de forma crítica à postura do Banco Central. Em um comunicado oficial, a entidade apontou que a instituição monetária não levou em consideração uma base sólida de dados que indicaria a possibilidade de iniciar a redução da Taxa Selic. O presidente da CNI, Ricardo Alban, manifestou que manter os juros nos atuais níveis representa uma medida excessiva e contraproducente para a economia. Alban detalhou que esta política monetária agrava a desaceleração da atividade econômica, eleva o custo dos empréstimos e desestimula a realização de novos investimentos por parte do setor privado. Para o presidente da CNI, existe um espaço seguro para um ajuste gradual das taxas, sem comprometer os esforços para que a inflação retorne à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Seguindo na mesma linha de preocupação, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também demonstrou inquietude diante da persistência de juros em patamares elevados. Em nota divulgada, o presidente da CBIC, Renato Correia, reiterou que a manutenção do crescimento do setor de construção civil, vital para a economia e geração de empregos, no ano de 2026 está diretamente atrelada a uma rápida e efetiva queda nas taxas de juros.

A Perspectiva do Comércio Nacional Diante da Alta dos Juros

O setor comercial também se manifestou sobre a decisão do Banco Central. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), caracterizou a política do BC como “desconectada” tanto da realidade econômica doméstica quanto do cenário internacional. Queiroz fez um paralelo com a política monetária de outras grandes economias, como os Estados Unidos, que já iniciaram movimentos de corte de juros, enquanto o Brasil mantém uma das taxas reais mais elevadas do mundo. O economista destacou que essa estratégia penaliza os investimentos produtivos e o consumo das famílias, além de aprofundar gargalos estruturais da economia brasileira e dificultar a gestão da política fiscal governamental.

Com um posicionamento um pouco mais comedido, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) avaliou a manutenção dos juros como algo esperado, mas ressaltou que reflete um contexto econômico ainda instável. De acordo com o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, os indicadores de inflação e as expectativas futuras ainda se encontram acima da meta, e o cenário macroeconômico é complexo, com fatores como a expansão fiscal, a notável resiliência do mercado de trabalho e incertezas no ambiente internacional. Gamboa sublinhou que a comunicação divulgada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela decisão, será crucial para decifrar as possíveis direções da política monetária nos próximos períodos.

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Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br

As Centrais Sindicais e a Rejeição aos Juros Altos

O setor trabalhista, por meio de suas representações, também se manifestou com veemência contra a decisão do Banco Central. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) classificou a manutenção da Selic como um desrespeito às necessidades urgentes tanto da população em geral quanto do conjunto do setor produtivo do país. Juvandia Moreira, que é presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT) e também vice-presidenta da CUT, argumentou que a taxa Selic em patamar tão elevado direciona indevidamente recursos que poderiam ser empregados em investimentos produtivos, desviando-os para o que ela denominou “rentismo”. Economistas associados à central sindical reforçam a tese de que a inflação está sob controle e que o atual rigor da política monetária já está produzindo uma redução significativa no consumo, freando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e impactando negativamente a dinâmica do mercado de trabalho.

De forma ainda mais incisiva, a Força Sindical não hesitou em classificar a decisão do Copom como uma “vergonha nacional”. Para o presidente da entidade, Miguel Torres, a continuidade dos juros elevados beneficia exclusivamente os especuladores financeiros e asfixia a economia brasileira. Torres afirmou que a atual estratégia monetária compromete as campanhas salariais dos trabalhadores, limita severamente o poder de compra da população e impõe obstáculos praticamente intransponíveis ao desenvolvimento socioeconômico do país. Em um comunicado à imprensa, o presidente da Força Sindical sintetizou a situação: “Estamos vivendo a era dos juros extorsivos”, pontuou.

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As reações do setor produtivo e das centrais sindicais à manutenção da Taxa Selic em 15% ao ano demonstram um consenso crescente sobre a urgência de uma mudança na política monetária. Os argumentos centram-se na queda da inflação, desaceleração econômica e impactos negativos nos investimentos, crédito e emprego. A expectativa é que o Banco Central considere essas críticas em futuras decisões. Para se manter atualizado sobre os desdobramentos da economia brasileira e os debates em torno da política de juros, continue acompanhando nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: CNI/José Paulo Lacerda/Direitos reservados

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