Uma metanálise recente, divulgada na terça-feira, 28 de novembro, na renomada revista científica “Gut”, revelou um dado impactante sobre a saúde populacional: uma em cada dez pessoas tem sensibilidade ao glúten ou ao trigo, mesmo sem apresentar doença celíaca diagnosticada ou alergia confirmada ao trigo. Essa condição, que afeta significativamente a qualidade de vida, agora ganha maior atenção e compreensão a partir deste estudo abrangente.
A pesquisa esclarece que esta manifestação é conhecida formalmente como sensibilidade ao glúten/trigo não celíaca (NCGWS, na sigla em inglês). Observa-se que a prevalência é notavelmente mais alta em indivíduos do sexo feminino e está frequentemente correlacionada a outras condições de saúde, como a síndrome do intestino irritável, além de quadros de ansiedade e depressão, sugerindo uma complexa interconexão fisiológica e mental.
Sensibilidade ao Glúten Atinge Uma a Cada Dez Pessoas
Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores analisaram 25 estudos publicados no período de 2014 a 2024, compreendendo um vasto conjunto de dados de aproximadamente 50 mil participantes provenientes de 16 nações distintas. A abrangência do estudo permitiu uma visão global da NCGWS. Os resultados apontaram uma prevalência média de 10,3% para a condição em todo o mundo. Contudo, essa taxa demonstrou grande variabilidade regional, com índices que vão de 0,7% no Chile até impressionantes 23% no Reino Unido, indicando fatores geográficos ou culturais ainda a serem explorados na manifestação da sensibilidade.
Sintomas Associados e Desafios Diagnósticos
Os sintomas relatados por aqueles que sofrem de NCGWS assemelham-se de perto aos experimentados por pessoas com doença celíaca ou alergia ao trigo, o que dificulta o diagnóstico preciso. Entretanto, uma das características distintivas da sensibilidade ao glúten/trigo não celíaca é a ausência de marcadores sanguíneos específicos que possam identificá-la de forma conclusiva por meio de exames laboratoriais padrões. Esta particularidade torna o processo diagnóstico um verdadeiro desafio para a comunidade médica e para os próprios pacientes em busca de respostas.
Os principais incômodos citados pelos participantes da pesquisa que apresentaram a sensibilidade foram predominantemente gastrointestinais. Dentre eles, destacam-se a distensão abdominal, desconforto e dor na região do abdômen, e uma fadiga persistente que afeta o dia a dia. Outros sintomas mencionados incluem episódios de diarreia, dores de cabeça frequentes e dores nas articulações, evidenciando o caráter sistêmico da condição e como ela pode se manifestar de diversas maneiras no organismo.
Uma observação fundamental feita no estudo é a tendência de melhora dos sintomas quando o glúten e o trigo são removidos da dieta. A reintrodução desses alimentos, por sua vez, leva ao retorno do desconforto, um padrão que ajuda a identificar a sensibilidade por meio da exclusão dietética controlada. Mohamed Shiha, um dos autores principais do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina e Saúde Populacional da Universidade de Sheffield, ressalta a importância de uma abordagem estratégica. “Uma avaliação dietética estruturada é essencial e, na maioria dos casos, restrições alimentares rigorosas não são necessárias nem úteis”, pontua Shiha, indicando a necessidade de personalização no manejo.
A Interligação com a Saúde Mental e Manejo Dietético
Além dos sintomas físicos, o levantamento aprofundou-se na conexão entre a sensibilidade ao glúten/trigo e a saúde mental. Os resultados mostraram que indivíduos com NCGWS autodeclarada tinham quase três vezes mais probabilidade de manifestar ansiedade e mais do que o dobro de chances de desenvolver depressão, quando comparados a pessoas sem a condição. Esta descoberta ressalta a importância de uma visão holística no tratamento. Segundo Shiha, essa correlação “sugere uma forte ligação entre esses sintomas e a saúde mental”, indicando que a sensibilidade vai além dos componentes alimentares, relacionando-se profundamente com a complexa interação entre o intestino e o cérebro. Para mais informações sobre a sensibilidade ao glúten não celíaca (NCGWS), um termo técnico amplamente reconhecido, é possível consultar recursos médicos especializados como a Mayo Clinic, que oferece informações detalhadas sobre condições gastrointestinais e alergias.

Imagem: g1.globo.com
A ausência de exames sanguíneos conclusivos para o diagnóstico de NCGWS faz com que o método atual de identificação seja por exclusão. Isso implica em descartar a doença celíaca e a alergia ao trigo, além de investigar outras possíveis condições intestinais, como a doença inflamatória intestinal, colite microscópica e diarreia por ácido biliar, que podem apresentar sintomatologia semelhante. As causas precisas e as características clínicas da NCGWS permanecem ainda desconhecidas, abrindo portas para futuras pesquisas.
Um aspecto revelado pelo estudo é que uma parcela considerável dos indivíduos com essa sensibilidade decide implementar modificações na dieta sem supervisão profissional. Aproximadamente quatro em cada dez pessoas com NCGWS afirmaram seguir uma dieta livre de glúten para mitigar os desconfortos gastrointestinais e outros sintomas. Apesar de tais mudanças serem válidas para o alívio imediato, o pesquisador alerta que nem sempre dietas restritivas são as soluções mais eficazes a longo prazo. Ele enfatiza que o reconhecimento da NCGWS como um distúrbio da interação intestino-cérebro é um passo crucial para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas que transcendam a mera restrição alimentar. “Isso ajudará pacientes e profissionais de saúde a compreender e gerenciar melhor os sintomas, sem recorrer a restrições alimentares desnecessárias”, conclui Mohamed Shiha.
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Em suma, a sensibilidade ao glúten ou ao trigo é uma realidade que afeta uma parcela significativa da população global, impactando tanto a saúde física quanto a mental. A pesquisa ressalta a necessidade de abordagens diagnósticas e terapêuticas mais refinadas, focadas não apenas na dieta, mas também na complexa interação entre o intestino e o cérebro. Para mais análises e novidades do universo da saúde e outras editorias relevantes, confira as últimas publicações em nosso blog e mantenha-se informado sobre os temas que moldam o bem-estar contemporâneo.
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