Saúde pede protagonismo na COP30 como eixo estratégico climático

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Organizações não governamentais (ONGs) e uma vasta rede de profissionais do setor de **saúde na COP30** enviaram um apelo formal à presidência do evento, defendendo que a área da saúde pública seja estabelecida como um pilar estratégico central nas discussões e ações climáticas. O documento, assinado por 250 entidades e indivíduos, foi protocolado na última sexta-feira, 17 de maio, em Brasília. A entrega foi direcionada a Ethel Maciel, enfermeira, epidemiologista e atual enviada especial para a Saúde da COP30, que previamente atuou como secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde de 2023 a 2025.

A iniciativa sublinha a necessidade imperativa de reconhecer a interconexão intrínseca entre as condições climáticas do planeta e o bem-estar da população. Ao advogar por esta perspectiva, as organizações buscam garantir que as futuras decisões tomadas na conferência de Belém reflitam a urgência de integrar a pauta da saúde em todas as frentes da ação contra as alterações climáticas.

Saúde pede protagonismo na COP30 como eixo estratégico climático

Intitulado “Pela Saúde no Centro da Ação Climática”, o manifesto entregue detalha propostas concretas para elevar o status da saúde pública nas mesas de negociação. A argumentação central do documento é que a saúde, frequentemente relegada a um segundo plano, deve ser abordada como um eixo estratégico incontornável devido aos múltiplos danos que as mudanças climáticas já infligem e continuarão a infligir à população global, desde a degradação causada pela poluição atmosférica até a fragilização provocada por eventos meteorológicos extremos.

Impactos alarmantes da crise climática na saúde pública

A correlação entre o clima e a saúde transcende as questões ambientais, manifestando-se de maneira contundente no cotidiano das populações. A poluição do ar, um dos subprodutos mais evidentes e deletérios do desenvolvimento industrial não regulado e da queima de combustíveis fósseis, causa milhões de mortes prematuras anualmente e agrava doenças respiratórias e cardiovasculares. Paralelamente, a intensificação de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, enchentes e ondas de calor recordes, eleva a vulnerabilidade social e compromete diretamente a infraestrutura de saúde e a capacidade de resposta humanitária.

Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) sublinham a gravidade da situação. A entidade estima que, entre os anos de 2030 e 2050, a crise climática poderá ser responsável por aproximadamente 250 mil óbitos anuais. Essas mortes estariam ligadas a diversas causas, incluindo desnutrição, que se acentua com a perda de lavouras e a dificuldade de acesso a alimentos; a malária, cuja incidência pode se expandir com a alteração dos padrões de chuvas e temperatura; a diarreia, agravada pela falta de saneamento básico em cenários de cheias e pela contaminação da água; e o estresse térmico, especialmente crítico para idosos e trabalhadores expostos a altas temperaturas. Além do custo humano incalculável, a OMS prevê que os sistemas de saúde globais enfrentarão despesas da ordem de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões anuais para lidar com estes desafios, refletindo a dimensão econômica do problema global da saúde. Mais detalhes sobre as iniciativas globais de saúde podem ser encontrados no portal oficial da Organização Mundial da Saúde.

Engajamento de profissionais e entidades pela saúde no clima

A concepção da carta foi liderada pelo Movimento Médicos pelo Clima, uma articulação de profissionais da saúde engajados na questão climática. O movimento, por sua vez, foi instituído pelo Instituto Ar, uma organização que há anos pesquisa e atua na intersecção das mudanças climáticas com a saúde humana e a poluição. A entrega do documento à representante da COP30 ocorreu em um encontro especial na Universidade de Brasília (UnB), marcando um ponto importante na mobilização de diversos setores da sociedade civil.

A comitiva presente no ato da entrega era composta por figuras notáveis no campo da saúde e ativismo climático. Dentre elas, destacam-se a médica embaixadora pelo clima e pneumologista Danielle Bedin, uma das vozes mais ativas na defesa de políticas de saúde sensíveis ao clima; Brenda Kauane, que lidera o Movimento Médicos pelo Clima e tem sido uma peça fundamental na organização e articulação do setor; e Swedenberger Barbosa, professor do Centro Internacional de Bioética e Humanidades da UnB, cuja atuação na área contribui para o embasamento ético e científico das demandas. A presença dessas personalidades reforçou a legitimidade e a urgência do pleito.

Saúde pede protagonismo na COP30 como eixo estratégico climático - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

O extenso rol de signatários da carta é um testemunho da ampla coalizão formada para a causa. O documento reuniu a adesão de 70 organizações, movimentos e empresas, ao lado de um vasto contingente de médicos, outros profissionais de saúde, líderes da sociedade civil e ativistas. Entre as entidades mais proeminentes que chancelaram a iniciativa, figuram a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, cujas áreas de atuação são diretamente impactadas pelas alterações ambientais. Outras organizações importantes como a Fundação José Luiz Setúbal, a Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA), o Projeto Hospitais Saudáveis e a Rede de Trabalho Amazônico (GTA), que integra mais de 600 entidades focadas na Amazônia Legal, também somaram esforços, mostrando a diversidade e o alcance do engajamento.

Estratégias e perspectivas para a COP30

Ao receber o documento, Ethel Maciel reiterou seu papel estratégico como interlocutora do tema da saúde dentro da COP30. Sua função primordial será representar as preocupações e propostas da área nas diferentes esferas da conferência, buscando traduzir as evidências científicas e as demandas dos profissionais em diretrizes e políticas climáticas efetivas. Ela salientou a importância de uma construção coletiva: “Ainda vamos ter alguns congressos até a COP, falando para os profissionais de saúde e formadores de opinião dentro da área da saúde, para que a gente crie esse grande movimento, que é a ideia do presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, para chegarmos alinhados nesta ideia de que saúde é clima e clima é saúde. Não tem como dissociar isso mais”, declarou, enfatizando a inseparabilidade entre os dois campos.

Maciel detalhou ainda que a COP30 dedicará eventos específicos à discussão da **saúde e ação climática**. Esses eventos não contarão apenas com a participação do Ministério da Saúde, mas também de parceiros estratégicos de peso no cenário global. Entre os financiadores e colaboradores previstos, mencionou fundações com ampla atuação e entrada na área da saúde e da adaptação, como a Fundação Gates, a Fundação Rockefeller e a Wellcome Trust, cujos históricos de investimento em questões humanitárias e científicas são expressivos. A presença dessas fundações visa ampliar a discussão e buscar soluções de financiamento para as iniciativas propostas.

A médica Danielle Bedin, umas das participantes da comitiva, reforçou a importância do papel do médico na conscientização: “Os médicos precisam estar expostos e cientes de que esse é um assunto sobre o qual temos que falar entre outros médicos e também com a população geral, com nossos pacientes”. Sua colocação destaca que a ação climática não é uma pauta restrita aos ambientalistas ou formuladores de políticas, mas uma questão central para todos os profissionais de saúde. A urgência da ação foi enfatizada: “A mudança climática está acontecendo agora, o calor está aumentando agora e se a gente não cuidar agora, os estragos serão ainda maiores no futuro”, alertou, conclamando à mobilização imediata e efetiva para mitigar os impactos futuros e proteger a saúde global.

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Em síntese, o pedido pela inclusão da saúde como eixo estratégico na COP30 é um passo crucial para enfrentar a crise climática de forma integral, reconhecendo os seus profundos reflexos na vida e no bem-estar humano. A mobilização de um grupo tão expressivo de especialistas e organizações demonstra a seriedade e a urgência da pauta, projetando uma conferência mais abrangente e humanizada. Para se manter atualizado sobre outras discussões relevantes e seus desdobramentos na esfera pública e governamental, continue acompanhando a editoria de Política em nosso site.

Crédito da imagem: Jordan Vonderhaar – 22.jul.22/NYT

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