Em um passo estratégico para o combate à doença no Brasil, o Ministério da Saúde assina a compra de vacina da dengue do Butantan. O ministro Alexandre Padilha oficializou na última sexta-feira, 19 de dezembro de 2025, na capital paulista, o acordo para a aquisição das primeiras remessas da vacina contra a dengue produzida integralmente pelo renomado Instituto Butantan. O montante inicial deste contrato para as doses pioneiras alcança aproximadamente R$ 368 milhões, marcando um investimento significativo na saúde pública nacional.
O imunizante em questão, conhecido como Butantan-DV, recebeu a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início do mesmo mês de dezembro. Este produto representa um avanço global, sendo o primeiro imunizante contra a dengue a oferecer proteção em dose única no mundo. Desenvolvido para atender a população brasileira, o teste e a aprovação abrangem a faixa etária de 12 a 59 anos, focando em uma ampla parcela da população vulnerável à doença.
Saúde assina compra de vacina da dengue do Butantan
Nos próximos dias subsequentes à assinatura, o Instituto Butantan está previsto para entregar ao Ministério da Saúde um lote inicial de 300 mil doses. Estas vacinas serão empregadas estrategicamente no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para duas finalidades principais: imunizar voluntários que participaram ativamente das fases de estudo clínico da vacina e iniciar a cobertura em municípios específicos. Os primeiros locais a receberem as doses incluem Botucatu, em São Paulo, e Maranguape, no Ceará. Existe ainda a possibilidade de extensão para Nova Lima, em Minas Gerais, onde estão planejados estudos aprofundados para monitorar e avaliar o impacto da vacinação em massa na população local. A projeção do ministro Alexandre Padilha é que as aplicações dessas primeiras doses tenham início já entre os dias 17 e 18 de janeiro de 2026.
Alexandre Padilha, à frente da pasta da Saúde, ressaltou o potencial de transformação dessa iniciativa. Ele enfatizou que especialistas indicam que alcançar uma cobertura vacinal entre 40% e 50% da população pode resultar em uma capacidade considerável de controlar tanto a infecção quanto o cenário epidêmico da dengue. “Começaremos a vacinação nessas cidades para acompanhar o impacto que isso tem nelas. Vamos monitorar isso por um período de anos para avaliar o que pode ser uma parte importante da estratégia e do resultado da aceleração da vacinação no país”, detalhou o ministro, apontando para um monitoramento contínuo e de longo prazo.
Estratégia de Distribuição e Ampliação da Vacinação
Ainda no calendário de entregas, o Butantan tem um compromisso estabelecido para fornecer um volume adicional de 1 milhão de doses ao Ministério da Saúde até o final de janeiro de 2026. Esta segunda remessa será destinada especificamente aos profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde, incluindo equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e aqueles envolvidos em visitas domiciliares, reforçando a proteção dos agentes essenciais na linha de frente do sistema de saúde.
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, confirmou a prontidão e o compromisso da instituição. “Esperamos fazer o envio já nos próximos dias para o Ministério da Saúde através do Programa Nacional de Imunizações para a implementação da vacinação, além do compromisso já assumido de que mais 1 milhão de doses chegarão às mãos do ministério do PNI até o fim de janeiro”, afirmou Kallás. Ele também reiterou os esforços para uma ampliação contínua da capacidade produtiva. “Todos sabem também que a gente vem trabalhando duramente para ampliar nossa capacidade produtiva com parceiros e fazer esse numerário crescer bastante, especialmente a partir do segundo semestre de 2026. Com isso, a gente espera atender uma grande quantidade de pessoas no enfrentamento da dengue”, complementou o diretor, projetando um cenário de maior disponibilidade vacinal nos próximos anos.
À medida que novas entregas de doses pelo Butantan se concretizem, o Ministério da Saúde planeja expandir gradualmente a vacinação para o público geral. Conforme declarado pelo ministro, a campanha priorizará os adultos com 59 anos de idade, avançando progressivamente em faixas etárias até atingir os jovens com 15 anos. Essa estratégia escalonada visa maximizar o impacto da vacinação e alcançar os grupos mais prioritários dentro da população apta.
Outros Imunizantes e Populações Específicas no Plano Nacional
É importante notar que os adolescentes brasileiros com idades entre 10 e 14 anos já vêm recebendo imunização contra a dengue por meio de um outro imunizante. Esta vacina, desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda, é administrada em duas doses e faz parte do esquema vacinal público. Desde o ano de 2024, quando o Brasil se tornou pioneiro na incorporação desse imunizante japonês na rede pública de saúde, mais de 7,4 milhões de doses foram aplicadas. Para 2026, o Ministério da Saúde já garantiu a aquisição de um adicional de 9 milhões de doses desta vacina, garantindo a continuidade da proteção para este grupo específico.
No entanto, a vacina do Butantan ainda não será aplicada em idosos acima de 60 anos. A razão é a ausência de estudos clínicos específicos com este público. O Instituto Butantan informou que as pesquisas voltadas para a população acima dos 60 anos estão previstas para ter início em janeiro de 2026, com o objetivo de futuramente estender a segurança e eficácia comprovadas também a essa faixa etária.
Tecnologia e Produção da Vacina Butantan-DV
A vacina Butantan-DV é o resultado de uma tecnologia avançada, empregando vírus vivo atenuado. Sua concepção e desenvolvimento foram uma iniciativa do Instituto Butantan, articulada por meio de uma parceria estratégica intermediada pelo Ministério da Saúde com a empresa chinesa WuXi Vaccines. Esta colaboração internacional é fundamental para a projeção de entregas ambiciosas. Com base nesse acordo, a expectativa é que cerca de 30 milhões de doses adicionais da vacina Butantan-DV possam ser disponibilizadas ao Ministério da Saúde até o segundo semestre de 2026.
O ministro Padilha fez questão de sublinhar o caráter singular do novo imunizante durante o evento de assinatura do contrato. “Essa é uma vacina 100% nacional, 100% brasileira, desenvolvida pela obstinação, teimosia, capacidade técnica, otimismo, crença e muito trabalho de um conjunto dos pesquisadores, trabalhadores e servidores do Instituto Butantan”, enfatizou o ministro, celebrando a conquista da ciência e tecnologia brasileiras no cenário global da saúde.
Segurança e Eficácia da Vacina e Cenário Epidemiológico
Durante a cerimônia de assinatura, o ministro da Saúde fez um pronunciamento robusto sobre a segurança da vacina contra a dengue do Butantan, tranquilizando a população. “Eu sou infectologista e especialista em infecções e em vacinação. Tenho uma filha de 10 anos de idade e ela toma todas as vacinas que a gente procura no SUS [Sistema Único de Saúde]. Eu não aplicaria na minha filha uma vacina que eu não tivesse a segurança, a qualidade e a eficácia. Então, a primeira coisa que eu quero dizer para a população é que a vacina que estamos comprando hoje, através desse contrato, é uma vacina que é segura, tem qualidade e passou por vários processos de avaliação antes do registro da Anvisa”, afirmou. Ele também ressaltou os dados dos estudos clínicos, que apontam que mais de 70% das pessoas vacinadas não apresentaram sinais de sintomas da doença, e mais de 90% não desenvolveram casos graves, com nenhum participante hospitalizado devido à dengue após a vacinação. A transparência e os critérios rigorosos são essenciais no processo de liberação de medicamentos e vacinas no país, como pode ser consultado no portal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Após a fase de estudos clínicos, o imunizante do Butantan foi submetido a uma rigorosa análise e subsequentemente aprovado pela Anvisa para uso na população. A avaliação técnica da agência indicou que a Butantan-DV possui uma eficácia global de 74,7% contra a dengue sintomática na faixa etária de 12 a 59 anos. Esse percentual significa que a vacina foi capaz de prevenir a doença em aproximadamente três quartos dos casos. Adicionalmente, o imunizante demonstrou uma robusta proteção de 89% contra formas graves da doença e contra quadros de dengue com sinais de alarme, conforme detalhado em publicação especializada na conceituada revista The Lancet Infectious Diseases, reiterando a qualidade e a importância do avanço.
Cenário da Dengue no Brasil e a Prevenção Contínua
O cenário epidemiológico da dengue no Brasil nos últimos anos tem sido de alta preocupação. Em 2024, o país registrou um número alarmante de 6,5 milhões de casos prováveis da doença, um aumento de quatro vezes em comparação com os dados de 2023, segundo o Ministério da Saúde. Embora haja uma redução aparente em 2025, com 1,6 milhão de casos prováveis notificados até meados de novembro do ano corrente, a gravidade da situação persiste. Desde o início dos anos 2000, mais de 20 milhões de brasileiros foram afetados pela dengue, sublinhando a natureza endêmica e desafiadora da enfermidade em território nacional.
Apesar da chegada e implementação das novas vacinas, que representam uma ferramenta poderosa, o ministro alertou enfaticamente que a população brasileira não pode descuidar das ações essenciais de combate aos criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença. “A vacina da dengue é algo para a gente celebrar e comemorar. Ela é uma arma poderosa, mas não é motivo para a gente baixar a guarda no controle de criadouros [do mosquito]”, afirmou Padilha. Ele reforçou a necessidade de manter e intensificar as medidas preventivas diárias, como a eliminação de água parada e objetos que podem acumular água, a exemplo de pratos de plantas ou pneus usados, essenciais para evitar a proliferação do mosquito. A conscientização e a ação individual e coletiva permanecem cruciais na luta contra a dengue, complementando os avanços científicos com práticas ambientais simples e eficazes.
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A aquisição da vacina contra a dengue do Butantan representa um marco para a saúde pública do Brasil, abrindo caminho para uma proteção mais ampla contra a doença que tanto impacta o país. Esta iniciativa, juntamente com a manutenção das práticas de prevenção ao mosquito, é fundamental para reduzir o número de casos e preservar vidas. Para mais informações e atualizações sobre as políticas de saúde e outras decisões governamentais, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: João Risi/MS


