Sarah Mullally foi nomeada arcebispa de Canterbury na última sexta-feira, 3 de maio, um marco histórico que a posiciona como a líder espiritual de milhões de anglicanos globalmente e a primeira mulher a chefiar a Igreja da Inglaterra. A bispa de Londres assume a importante posição, consolidando uma nova fase para a instituição religiosa britânica.
O anúncio oficial da nomeação de Sarah Mullally foi feito pelo governo britânico através de um comunicado. No documento, informou-se que o Rei Charles III, em sua capacidade como líder supremo da Igreja Anglicana, concedeu sua aprovação à escolha proposta pelo Colégio de Cônegos da Catedral de Canterbury, situada no sudeste da Inglaterra. Este processo segue a tradição de que a monarquia endossa a nomeação do primaz anglicano.
Sarah Mullally é a primeira mulher a liderar Igreja Anglicana
Mullally, de 63 anos, é mãe de dois filhos e tem uma trajetória notável que inclui uma carreira como enfermeira antes de se dedicar ao sacerdócio. Ela abandonou a enfermagem em 2004 para se empenhar em tempo integral na vida religiosa. Agora, ela se torna a 106ª arcebispa de Canterbury, assumindo uma das mais respeitadas posições na hierarquia anglicana. A sua ascensão ocorre em um momento de transição e desafios para a igreja.
A nova arcebispa reconheceu publicamente a magnitude da “grande responsabilidade” que seu cargo representa. Em um comunicado divulgado, Sarah Mullally expressou, contudo, um sentimento de “paz e confiança em Deus” para cumprir as expectativas e demandas da função. Sua declaração reflete a seriedade com que encara o desafio de liderar a comunidade anglicana em nível nacional e internacional.
Repercussão e Importância da Escolha
A nomeação de uma mulher para a mais alta posição da Igreja Anglicana foi amplamente celebrada. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, emitiu uma declaração expressando seu entusiasmo pela escolha. Starmer ressaltou a “profunda importância” da Igreja Anglicana para o Reino Unido, destacando o papel essencial de suas igrejas, catedrais, escolas e instituições de caridade na estrutura das comunidades. A chegada de Sarah Mullally, segundo ele, garantirá que a nova arcebispa “desempenhará um papel fundamental na nossa vida nacional”, enfatizando a relevância contínua da igreja na esfera pública e social.
Mullally substitui Justin Welby, que anunciou sua renúncia em novembro, com saída oficial marcada para 6 de janeiro. Welby, de 68 anos, enfrentou intensa pressão pública para deixar seu posto, motivada por acusações de que a instituição encobriu por muitos anos casos de agressões físicas e sexuais contra menores por parte de um advogado associado à Igreja. Essa série de eventos tumultuados pavimentou o caminho para a mudança na liderança anglicana.
O Escândalo que Precedeu a Mudança de Liderança
A renúncia do ex-arcebispo Justin Welby estava diretamente conectada ao caso de John Smyth, um advogado que presidia uma instituição de caridade ligada à Igreja Anglicana. Smyth, conhecido por organizar acampamentos de férias para jovens, foi posteriormente exposto como um agressor. Entre as décadas de 1970 e meados de 2010, Smyth abusou sexualmente de cerca de 130 crianças e jovens no Reino Unido, e, posteriormente, em países africanos como Zimbábue e África do Sul, onde se estabeleceu e veio a falecer em 2018, aos 75 anos, sem jamais ter sido levado à justiça.
Uma investigação independente, encomendada pela própria Igreja Anglicana, revelou detalhes perturbadores sobre o conhecimento e a omissão da instituição. O relatório concluiu que, embora a Igreja tenha sido oficialmente informada desses fatos em 2013, muitos de seus membros já tinham ciência dos abusos desde os anos 1980 e optaram por silenciá-los, caracterizando uma “campanha de encobrimento”. A investigação também apontou falhas na conduta de Justin Welby, indicando que ele “poderia e deveria ter denunciado” à polícia a violência cometida pelo advogado a partir de 2013, período em que já atuava como primaz da Igreja da Inglaterra.
Compromisso com a Cultura de Segurança
Em seu discurso proferido na Catedral de Canterbury, logo após sua nomeação, Sarah Mullally abordou os delicados casos de agressão sexual que abalaram a instituição. Ela fez um compromisso claro e direto de “promover uma cultura de segurança e bem-estar para todos” dentro da Igreja. Mullally reconheceu as falhas do passado, declarando: “Como Igreja, muitas vezes deixamos de reconhecer ou levar a sério os abusos de poder em todas as suas formas”, sinalizando uma mudança de paradigma na abordagem dessas questões.
A Igreja da Inglaterra tem uma história complexa e relevante. Ela se tornou o órgão religioso estatal no século XVI, após a ruptura do Rei Henrique VIII com o catolicismo romano. A entrada das mulheres na liderança eclesiástica tem sido gradual e desafiadora. Sarah Mullally já havia feito história em 2018 ao se tornar a primeira bispa de Londres, uma conquista possível após a Igreja Anglicana começar a permitir mulheres nesse cargo em 2014, após anos de intensas discussões internas. Hoje, mais de 40 dos 108 bispos na Inglaterra são mulheres, uma proporção semelhante observada entre os padres, desde que o clero feminino foi autorizado no início da década de 1990. Para mais informações sobre o funcionamento e a história da Igreja da Inglaterra, a Igreja da Inglaterra oferece detalhes em seu site oficial.
O Rei Charles III continua sendo o líder supremo da Igreja Anglicana. Dados de 2022 estimam que a instituição conta com 20 milhões de fiéis batizados, embora o número de praticantes regulares seja menor, próximo de 1 milhão. A nomeação de Sarah Mullally reflete uma busca por renovação e adaptação aos valores contemporâneos, mantendo sua relevância no cenário religioso e social britânico.
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A ascensão de Sarah Mullally a arcebispa de Canterbury representa não apenas um avanço significativo na história da Igreja Anglicana, mas também um momento de reflexão sobre a diversidade, inclusão e o compromisso da instituição com a segurança e a transparência. Continue acompanhando as notícias sobre política e religião em nossa editoria de Política para mais atualizações e análises profundas.
Crédito da imagem: Agence France-Presse
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