Em um movimentado ponto da cidade, próximo ao terminal central de Sorocaba, o trabalho da sapateira em Sorocaba Ana Maria Silva, de 57 anos, vai muito além da simples manutenção de sapatos. Ao longo de duas décadas, sua sapataria se tornou um refúgio para quem busca resgatar peças que carregam consigo um profundo valor sentimental e a lembrança de pessoas queridas.
Com uma entrada distintiva pintada de rosa, o estabelecimento acolhe clientes que confiam à Ana Maria não apenas calçados desgastados, mas pedaços de sua própria história. Rodeada por cães amorosos de diferentes tamanhos, a artesã enfatiza a responsabilidade e o respeito inerentes à restauração de itens tão significativos. “Cuidar de sapatos é também zelar pelas lembranças das pessoas. Exige paciência e delicadeza no atendimento, pois muitas vezes estamos lidando com emoções, e não apenas com objetos materiais”, pontua Ana Maria.
Sapateira em Sorocaba Restaura Memórias e Calçados Antigos
Ana Maria compartilha que, ao receber um calçado antigo, nunca desaconselha a restauração de imediato. A experiência de anos a ensinou que a escuta atenta e o cuidado são cruciais para estabelecer confiança. Ela recorda um episódio em que um cliente, visivelmente agitado, perguntou se um sapato velho tinha conserto. Apesar de o custo da restauração, cerca de R$ 80, ser quase o dobro do valor de um par novo similar no centro da cidade, R$ 49, o homem insistiu no reparo.
O cliente pagou adiantado e deixou o calçado, fornecendo seu contato e pedindo para ser avisado quando estivesse pronto. Ao retornar à sapataria para buscar o sapato já restaurado, o semblante antes alterado deu lugar à calma e a um pedido de desculpas sincero. Ele explicou à sapateira que, em outra ocasião, um calçado idêntico havia sido desprezado como “lixo” em outro estabelecimento, o que gerou sua irritação.
Naquela revelação emocionante, o homem confessou que sua mãe havia comprado aquele par de sapatos para seu pai, cinco dias antes do Dia dos Namorados. O pai, por sua vez, utilizou o calçado incessantemente por cinco anos, até o seu falecimento. Ana Maria testemunhou que o cliente possuía diversos outros pares de sapatos novos no porta-malas de seu carro, que jamais haviam sido usados pelo pai. No entanto, o desejo era restaurar aquele exemplar desgastado, um presente singelo da mãe para o pai, uma representação tangível da memória de seus entes queridos.
Antes de se tornar proprietária de seu próprio negócio, Ana Maria trabalhou por um período em uma sapataria onde sua função era pintar e atender clientes, sem realizar a restauração propriamente dita. Diversos motivos a levaram a seguir a profissão de sapateira em Sorocaba de forma autônoma. Entre eles, questões de saúde, que tornariam sua permanência em empresas difícil, e o falecimento de seu pai, que a motivou a ter flexibilidade para cuidar de sua mãe, que enfrentou depressão.
Ao longo desses 20 anos, a prática se revelou sua principal mestra, e Ana Maria aprendeu as técnicas de restauração por conta própria. Inicialmente, sua sapataria contava com um espaço modesto e prateleiras de madeira rústicas. Naquela época, ela operava com uma máquina de pedal, bem diferente das máquinas elétricas disponíveis hoje.
Com a evolução tecnológica e aprimoramento da prática, o tempo de execução dos serviços melhorou consideravelmente. “Atualmente, levo apenas 20 minutos para fazer algo que antes me consumia um dia inteiro de trabalho. Um simples saltinho, que demorava bem mais há uma década, hoje consigo finalizar sozinha com agilidade”, detalha a profissional. As máquinas de conserto, em si, não sofreram grandes transformações tecnológicas, mas os produtos de acabamento, como graxas e tintas, avançaram, permitindo à artesã restaurar sapatos com maior rapidez e eficiência, inclusive em emergências.
Os prazos de atendimento variam de acordo com o material do calçado e o tipo de serviço escolhido. Sapatos de couro, por exemplo, podem ser restaurados em um dia, enquanto outros materiais exigem mais tempo devido às etapas de limpeza, pintura e secagem. Serviços como ajuste de saltos, polimento e restaurações complexas podem demandar de 30 minutos a mais, dependendo da necessidade e da complexidade da intervenção.

Imagem: g1.globo.com
Além da restauração e pintura, Ana Maria também realiza compensação em calçados, isto é, quando o cliente tem uma das pernas mais curtas e precisa de um calçado com elevação. Essa técnica, geralmente realizada por ortopedistas, é feita sob medida e conforme orientação médica. “Tive receio de começar essa técnica, mas comecei a fazer sob medida conforme as instruções. Hoje, faço as adaptações, e os médicos aprovam todo o processo antes que a pessoa utilize o calçado, garantindo a correção, pois, infelizmente, o serviço ortopédico pode ser muito caro e inacessível para muitos”, explica a sapateira artesã.
Atualmente, Ana Maria trabalha em parceria com o marido. Sua jornada como sapateira em Sorocaba, operando com o próprio negócio, permitiu-lhe criar suas três filhas, que hoje possuem 39, 35 e 30 anos e já construíram suas próprias vidas. Ela valoriza as boas lembranças de sua loja, onde pôde cuidar e sustentar sua família com dedicação.
Contudo, a realidade pós-pandemia de Covid-19 trouxe desafios significativos a partir de 2020. Os custos dos materiais dispararam e a procura pelos serviços da sapataria sofreu uma queda considerável. Ana Maria observa que o isolamento e as novas rotinas de trabalho impactaram o fluxo de clientes, especialmente os mais idosos. “Muitos que vinham a cada quinze dias, agora só aparecem a cada quatro ou seis meses. A mentalidade mudou, o tempo para sair diminuiu. Além disso, alguns clientes faleceram ou se mudaram de cidade, o que reduziu bastante o fluxo”, lamenta.
Apesar dessas adversidades, a demanda por serviços da sapataria em Sorocaba persiste, especialmente entre os mais velhos e, surpreendentemente, também entre os mais jovens que buscam preservar itens com valor afetivo, como presentes ou heranças familiares. “Já restaurei calçados que ninguém usaria mais, apenas para serem guardados como parte de uma história familiar ou de uma memória específica”, conclui a profissional.
Para mais informações sobre iniciativas de pequenos negócios na região, você pode consultar fontes de notícias locais sobre empreendedorismo e economia, como as reportagens publicadas no G1 Sorocaba e Jundiaí.
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A história da sapateira Ana Maria Silva em Sorocaba é um testamento de como a paixão pelo ofício, o respeito pelas histórias humanas e a resiliência podem sustentar um negócio mesmo diante dos desafios. Este empreendedorismo local reforça o valor dos serviços artesanais. Continue acompanhando as notícias e histórias inspiradoras em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Foto: Fernanda Cordeiro/g1


