O lançamento do álbum “Eu apenas queria que você soubesse” por Sandra Pêra marca uma emocionante homenagem à obra de Gonzaguinha. Composto por doze canções cuidadosamente selecionadas do repertório do renomado compositor, o disco se destaca pela originalidade na produção e pela intensidade da interpretação da cantora. O projeto emerge como uma declaração de amor vital de Sandra Pêra ao legado de Gonzaguinha, capturando a essência pulsante que sempre definiu o trabalho do “eterno aprendiz”.
A produção musical do álbum ficou a cargo de Amora Pêra, filha da união de Sandra com Gonzaguinha, em colaboração com Paula Leal, ambas integrantes do grupo Chicas. Essa união familiar adiciona uma camada extra de afeto e profundidade ao trabalho, resultando em um som que respeita o passado e inova no presente. As faixas incluem regravações e composições que, em algumas vozes, se tornam ineditas, celebrando não apenas o talento do músico, mas também seu oitavo decênio de nascimento.
Sandra Pêra Homenageia Gonzaguinha em Novo Álbum Musical
Uma das pérolas do álbum é a faixa-título, “Eu apenas queria que você soubesse” (1981), que conta com a participação de mãe e filha, Sandra e Amora, unindo suas vozes em um dueto carregado de emoção. A gravação é enriquecida com um áudio de uma entrevista de Gonzaguinha concedida a uma emissora de rádio carioca, transportando o ouvinte para a memória do artista de forma íntima e comovente. Sandra Pêra, revelada nacionalmente em 1976 com o icônico grupo As Frenéticas, onde simbolizou o “desbunde feminino” dos dancin’ days, também tem uma notável carreira como atriz, uma faceta que permeia suas performances neste projeto musical, adicionando profundidade às suas interpretações.
A versatilidade da artista é evidente na interpretação teatral de “Ser, fazer e acontecer” (1982), uma composição menos conhecida de Gonzaguinha que, sob os arranjos de Sandra Pêra, ganha contornos de tango. Lançado em 22 de agosto pela gravadora Biscoito Fino, o álbum “Eu apenas queria que você soubesse” ganhou impulso especial neste mês de setembro, somando-se às celebrações dos 80 anos do nascimento de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que completaria oito décadas em 22 de setembro. Esta homenagem fonográfica transcende o convencional, evitando a mera execução de “covers”, e opta por abordagens inovadoras para cada uma das doze músicas, valorizando a criatividade e a inventividade das produtoras para dar novas roupagens às clássicas e às menos exploradas canções do repertório do ícone brasileiro.
A intensidade é a tônica de “Maravida” (1981), cuja instrumentação ressoa com a intrínseca sede de viver que anima a canção. Originalmente lançada por Maria Bethânia, a faixa é revivida no álbum de Sandra Pêra em um emotivo dueto com Chico Chico, filho de Cássia Eller, criando uma ponte entre gerações de músicos brasileiros e de apaixonados pela obra do cantor e compositor. O disco abre com o vibrante samba “Com a perna no mundo” (1979), canção de autoria de Gonzaguinha com versos carregados de referências autobiográficas, originalmente uma mensagem dedicada à Dina, sua mãe de criação já falecida, transmitindo uma pessoalidade única.
Entre as escolhas menos óbvias do repertório, figuram “Ocê i eu” – uma melodia relativamente desconhecida, apresentada pela primeira vez em 1993 na voz do próprio autor em “Cavaleiro solitário”, álbum póstumo – e “Morro de saudade” (1987), música que Gonzaguinha lançou no mesmo ano em que Gal Costa (1945 – 2022) a interpretou com uma abordagem tecnopop no polêmico álbum “Lua de mel como o diabo gosta” (1987), mostrando a pluralidade de interpretações possíveis.
“Ponto de interrogação” (1980), com sua letra escrita de forma direta sobre a necessidade de o homem considerar o prazer feminino na relação sexual, ganha uma nova leitura na voz de Sandra Pêra. Décadas antes de rappers e funkeiras abordarem o tema do egoísmo masculino e da valorização do prazer da mulher, Gonzaguinha já proferia esse alerta importante em sua composição, demonstrando seu olhar à frente de seu tempo. Outro destaque é “Recado” (1978), a última canção a ser gravada para o disco e valorizada pela participação especial de Simone, intérprete de grande importância na discografia de Gonzaguinha, especialmente com “Sangrando” (1980). A música era, até então, inédita na voz de Simone, não estando na seleção inicial de Sandra Pêra, mas foi incorporada após a escolha da própria “Cigarra” para o dueto, revelando uma química única entre as artistas.

Imagem: Mauro Ferreira via g1.globo.com
O disco também traz momentos de afeto e nostalgia com as presenças de Dhu Moraes e Regina Chaves, integrantes da formação original de As Frenéticas, em “A felicidade bate à sua porta” (1973). Essa música marcou a estreia das Frenéticas no mercado fonográfico em um single de 1976, no auge da era disco music e dancin’ days. Contudo, a gravação atual de Sandra Pêra se afasta da trilha original com um arranjo noise de tom roqueiro, conferindo-lhe uma roupagem contemporânea e um dinamismo inesperado. Para um contraponto suave, “Feliz” (1983) é uma melodia nostálgica que flui delicadamente, enternecida pelo toque proeminente de uma sanfona, que confere um calor e uma suavidade singular à canção.
“Borboleta prateada”, presente no último álbum de Gonzaguinha lançado em vida, “Luizinho de Gonzagão Gonzaga Gonzaguinha” (1990), alça voo com um arranjo de vivaz e mutante pulsação rítmica. Ao longo de seus mais de cinco minutos, a faixa evoca desde o maracatu e o baião até um galope e o dobrado das bandas de pequenas cidades, enriquecendo uma canção que, em si mesma, pode ser considerada menos sedutora, mas que ganha vida e brilho com a criatividade do novo arranjo. Outra composição, “Coração bate no pulso do amor à vida”, presente no álbum póstumo “Cavaleiro solitário” (1993), é entoada por Sandra Pêra com uma entrega exteriorizada, reafirmando essa paixão pela vida como a força motriz do cancioneiro de Gonzaguinha.
Esta intensa paixão pela existência impulsiona o álbum “Eu apenas queria que você soubesse”, tornando-o não apenas uma coletânea de interpretações, mas uma declaração atemporal de amor endereçada por Sandra Pêra ao inesquecível Gonzaguinha, mantendo viva e relevante sua memória musical para as próximas gerações. Saiba mais sobre a trajetória e o impacto de Gonzaguinha na música brasileira consultando o Itaú Cultural.
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Em suma, “Eu apenas queria que você soubesse” se configura como um álbum de notável profundidade e afeto, capaz de revitalizar a obra de Gonzaguinha para novas e antigas gerações, solidificando seu legado de criatividade e emoção através da voz e visão de Sandra Pêra. A pluralidade de arranjos e a escolha cuidadosa do repertório convidam o ouvinte a uma experiência musical rica e emotiva. Explore outros artigos e análises sobre música e cultura brasileira em nossa editoria de Celebridade para se aprofundar no universo de grandes artistas.
Crédito da Imagem: Ana Alexandrino / Divulgação
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