Sabesp atinge recorde de retirada de água na Grande SP

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A Sabesp registrou um novo recorde na retirada de água dos mananciais que abastecem a Grande São Paulo em 2025, superando volumes históricos registrados antes da severa crise hídrica de 2014. Este aumento na captação ocorre em um cenário desafiador, com os reservatórios da Região Metropolitana enfrentando queda significativa em seus níveis devido à estiagem prolongada que assola a região.

De acordo com um levantamento detalhado conduzido pelo Instituto Água e Saneamento (IAS), entre janeiro e setembro de 2025, a vazão média de água retirada atingiu 71,9 metros cúbicos por segundo (m³/s). Este índice representa o maior volume já registrado pela companhia, ultrapassando o patamar de 69 m³/s observado no período pré-crise, entre 2010 e 2013. Para contextualizar, durante o pico da crise de 2014 a 2016, a extração de água chegou a diminuir para 58 m³/s, e no período pós-crise (2017-2022), a média era de 62,3 m³/s.

Sabesp atinge recorde de retirada de água na Grande SP

O coordenador de conhecimento e difusão do IAS, Eduardo Caetano, destacou que um ponto crítico foi fevereiro de 2025, quando a captação alcançou 73 m³/s, estabelecendo um pico individual dentro desse recorde anual. “Esse aumento aconteceu justamente em um período em que as chuvas começaram a ficar abaixo da média e os níveis dos reservatórios passaram a cair de forma mais rápida”, observou Caetano. Segundo ele, este cenário de recorde na extração e redução de chuvas acende um alerta sobre a sustentabilidade hídrica da metrópole.

A elevação da retirada de água pode sinalizar, conforme Caetano, tanto uma demanda crescente – indicando que mais usuários estão sendo atendidos pela Sabesp – quanto um aumento nas perdas de água ao longo de todo o sistema de distribuição. O coordenador detalha que a demanda é uma combinação complexa de consumo e perdas. No que tange ao consumo, o crescimento populacional, a expansão da rede de atendimento e a regularização de ligações antes clandestinas que agora são contabilizadas e cobradas podem influenciar. Já as perdas podem ser classificadas como “físicas”, que são vazamentos em adutoras, redes e reservatórios, ou “aparentes”, relacionadas a desvios, popularmente conhecidos como “gatos”, e outras situações irregulares onde o consumo não é registrado adequadamente.

Em comunicado, a Sabesp informou que “o volume médio de retirada de água dos mananciais apresenta variações compatíveis com o crescimento vegetativo da população atendida e com ajustes operacionais implementados ao longo dos últimos anos”. Esta declaração tenta justificar a flutuação nos volumes extraídos como um reflexo direto do dinamismo do serviço prestado e do aumento da clientela.

A situação dos reservatórios tem gerado preocupação crescente. Em 1º de setembro de 2025, o conjunto de sistemas de reservatórios da Grande São Paulo foi classificado na Faixa 3 de Alerta, operando com cerca de 35% de sua capacidade de armazenamento. Um mês depois, o quadro se deteriorou, e o Sistema Cantareira atingiu a Faixa 4 de Restrição, com seu volume útil abaixo de 30%, resultando na imposição de um limite máximo de captação de 23 m³/s para a Sabesp. Diante da emergência, o governo estadual autorizou uma medida suplementar, permitindo a captação adicional de água da bacia do Rio Paraíba do Sul, com uma vazão média de 7,6 m³/s prevista para ser mantida até dezembro.

A redução drástica nos níveis dos reservatórios está diretamente associada à escassez de chuvas e à intensidade da extração de água. Eduardo Caetano apontou que, no período seco de 2025, que se iniciou em abril, as chuvas registraram uma diminuição de 45% em comparação com a média histórica. Além disso, mesmo o período chuvoso anterior apresentou um déficit de 5% em relação à média, e no período seco deste ano, a redução alcançou 20%. Ele reforçou que os reservatórios operam atualmente com menos de 30% da capacidade total, evidenciando a necessidade premente de um controle rigoroso na captação.

Sabesp atinge recorde de retirada de água na Grande SP - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Adriana Cuartas, pesquisadora do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), complementou a análise, detalhando que, no verão de 2025 (janeiro, fevereiro e março), as chuvas também ficaram abaixo da média. Segundo ela, “o armazenamento no Sistema no final da estação chuvosa ficou em 58%, na faixa de operação ‘atenção'”. Contudo, a extração de água de abril a agosto foi de 31,9 m³/s, acima dos 31 m³/s recomendados para essa condição. Mais grave, em agosto, quando o sistema já estava em “alerta”, com uma extração máxima de 27 m³/s estipulada, a média de retirada foi de 31,8 m³/s, excedendo significativamente as especificações da Resolução ANA/DAEE. Cuartas conclui de forma categórica: “Portanto, a crise hídrica não é causada só pela falta de água, mas também pela demanda.” As projeções do Cemaden indicam que, se as chuvas se mantiverem na média durante toda a próxima estação chuvosa, o armazenamento em março de 2026 deverá ser apenas similar ao observado em março de 2025.

Na sexta-feira (24), o governo de São Paulo anunciou um plano de contingência abrangente para lidar com o abastecimento de água diante do iminente risco de uma nova crise hídrica na Grande São Paulo. As medidas preventivas incluem a redução de pressão nos encanamentos de distribuição em diversas áreas da região metropolitana, que pode chegar a até 16 horas. Além disso, o plano contempla a exploração do “volume morto” das represas e, em um cenário mais crítico, a implementação de um rodízio no abastecimento para evitar o colapso do sistema.

A Sabesp detalha que a operação do Sistema Integrado Metropolitano (SIM), que é responsável por prover água para mais de 21 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, segue os mais rigorosos parâmetros técnicos e regulatórios. A companhia trabalha em conformidade com órgãos fiscalizadores como a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), a SP Águas (antigo DAEE) e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que regulamenta e supervisiona o uso de recursos hídricos no Brasil. Após a crise hídrica vivenciada entre 2014 e 2016, a Sabesp implementou e manteve políticas mais restritivas de gestão da pressão noturna. Tais ações foram sendo reajustadas em sintonia com os níveis dos mananciais e os aprimoramentos regulatórios para mitigar o impacto aos consumidores no período noturno, o que, conforme a companhia, explica os aumentos temporários nas médias de captação sem exceder limites operacionais ou outorgas. Em agosto de 2025, a Arsesp novamente determinou à Sabesp a gestão de pressão noturna como medida preventiva crucial para preservar os mananciais diante da redução de disponibilidade hídrica. Essa iniciativa já permitiu a economia de mais de 25 bilhões de litros de água, um volume equivalente ao abastecimento, por dois meses, de cidades como São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema. A Sabesp reitera que o SIM opera de forma totalmente integrada, possibilitando compensações estratégicas entre os diferentes mananciais, o que assegura maior resiliência e segurança hídrica à população mesmo em longos períodos de estiagem. A Companhia mantém um monitoramento contínuo dos níveis dos reservatórios e das demandas de consumo, pautando suas ações em planejamento técnico, total transparência e alinhamento constante com as autoridades reguladoras e ambientais.

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Em suma, a Sabesp alcançou um marco histórico na retirada de água em 2025 na Grande SP, superando volumes anteriores à crise de 2014, ao mesmo tempo em que a região enfrenta a diminuição dos níveis de reservatórios e um novo plano de contingência. Para aprofundar-se em questões urbanas, gestão de recursos e outros temas relevantes para a cidade, continue acompanhando nossas análises sobre o cenário hídrico e de infraestrutura nas grandes metrópoles brasileiras em nossa editoria de Cidades.

Foto: Reprodução/TV Globo

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