O Rodrigo Paz presidente da Bolívia representa um marco na cena política nacional, com os resultados preliminares confirmando sua eleição para o cargo máximo do país. O candidato de centro-direita declarou vitória no segundo turno presidencial de domingo, assinalando o fim de um período de quase duas décadas de hegemonia da esquerda na nação andina. Paz emerge como uma figura central em um momento de transição e espera de mudanças.
Aos 58 anos de idade, o líder do Partido Democrata Cristão, Rodrigo Paz, conquistou o eleitorado e derrotou seu oponente, o rival conservador Jorge “Tuto” Quiroga. Com a posse agendada para o dia 8 de novembro, o novo presidente enfrentará o desafio de conduzir o país em meio a uma profunda crise econômica. Segundo declaração de Paz à Reuters, concedida em seu rancho familiar em Tarija dois dias antes do pleito, sua eleição sinaliza uma “nova etapa para a democracia boliviana no século XXI”.
Rodrigo Paz é Eleito Presidente da Bolívia
Formação e Influência Familiar Marcam a Trajetória do Novo Líder
A vida de Rodrigo Paz é marcada por uma intensa bagagem familiar e educacional. Nascido no exílio em Santiago de Compostela, na Espanha, durante o período de ditadura militar boliviana, ele passou a infância estudando em colégios jesuítas. Sua formação acadêmica foi complementada nos Estados Unidos, onde se graduou pela renomada American University, em Washington.
A influência paterna é notável; Rodrigo Paz é filho do ex-presidente boliviano Jaime Paz Zamora, que governou o país de 1989 a 1993. A história familiar de Paz inclui eventos traumáticos, como o acidente aéreo de seu pai – o único sobrevivente de um episódio que se revelou um atentado anterior ao golpe de 1980. Sua mãe também escapou de um misterioso acidente de carro durante o exílio. Tais acontecimentos, conforme relato do próprio Paz, foram decisivos para despertar sua vocação política e moldar sua visão de serviço público.
Trajetória Política e Plataforma Centrista Consolidam Liderança
Ao retornar à Bolívia nos anos 1980, Paz iniciou sua jornada política na região sul produtora de gás, Tarija, progredindo de vereador a senador. Sua carreira demonstra uma notável flexibilidade e capacidade de articular alianças, tendo se associado a partidos de diversos espectros ideológicos – desde o Movimento da Esquerda Revolucionária, cofundado por seu pai, até coalizões de direita. Nesta última eleição, Paz adotou um posicionamento de centro, apresentando-se como uma alternativa para eleitores desiludidos com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido que foi liderado pelo ex-presidente Evo Morales.
Visão Econômica e Relações Internacionais Impulsionam a Agenda Governamental
O programa de governo de Rodrigo Paz propõe abrir setores da economia ao investimento privado e revisar a estrutura de empresas estatais consideradas deficitárias, em sua avaliação. O presidente eleito argumenta que o “Estado é um obstáculo” e que existem “parasitas recebendo salários sem fazer nada” dentro da administração pública. Contudo, em uma estratégia de equilíbrio, ele reafirmou seu compromisso com a manutenção dos programas de transferência de renda, visando proteger grupos vulneráveis. Seus planos incluem, ainda, incentivos fiscais para pequenas empresas e autônomos, bem como uma maior autonomia fiscal para governos regionais, sintetizando sua visão ao afirmar que “ideologias não colocam comida na mesa”.
No cenário das relações internacionais, Paz manifestou o desejo de estreitar os laços diplomáticos com nações ocidentais, em particular os Estados Unidos, alterando a orientação dos últimos anos, marcada por maior alinhamento com a Rússia e a China. A dívida externa do país representa outra grande preocupação para o presidente eleito, que defende uma renegociação urgente. Em um movimento estratégico pré-eleitoral, Paz confirmou ter se reunido em Washington com representantes de instituições financeiras internacionais de peso, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para discutir acordos e a renegociação das obrigações. Para uma compreensão mais aprofundada dos desafios econômicos na Bolívia, vale a pena consultar a análise da instituição sobre a economia da Bolívia.

Imagem: g1.globo.com
Estratégia de Campanha e Desafios Fiscais Anunciam Medidas Austeras
No segundo turno, Rodrigo Paz adotou um tom mais populista, visando atrair eleitores de esquerda que haviam se afastado do MAS, mas que também nutriam desconfiança em relação às propostas de austeridade do oponente Quiroga. Durante um debate televisionado em 12 de outubro, ele garantiu benefícios como “combustível” e “incentivos fiscais”, assegurando que “todos os benefícios sociais serão respeitados desde o primeiro dia”. No entanto, oponentes e economistas consideraram suas promessas irrealistas. Jonathan Fortun, do Instituto de Finanças Internacionais, alertou que o novo governo enfrentaria severos desafios fiscais, afirmando que “o buraco fiscal é imenso” e que a questão não seria “se haverá ajuste, mas quão rápido e quão doloroso ele será”.
Os Desafios da Governança com um Congresso Fragmentado
Um dos principais obstáculos que a gestão de Rodrigo Paz enfrentará será a composição do Congresso. Com nenhum partido obtendo maioria nas eleições de agosto em qualquer das duas casas, a governabilidade dependerá da capacidade do presidente eleito em formar e manter alianças. O Partido Democrata Cristão de Paz garantiu 49 das 130 cadeiras na Câmara dos Deputados e 16 das 36 cadeiras do Senado, estabelecendo-se como o maior grupo minoritário. Esta configuração exige intensa negociação e pragmatismo para a aprovação de reformas e a efetivação de seu plano de governo.
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A eleição de Rodrigo Paz para a presidência da Bolívia assinala uma significativa mudança de curso na política do país, prometendo uma administração focada em reestruturação econômica, incentivo ao setor privado e uma nova abordagem nas relações internacionais. Ao assumir o cargo em 8 de novembro, o desafio será consolidar um governo em meio a um congresso fragmentado e grandes expectativas. Para mais análises e atualizações sobre este e outros temas políticos relevantes, convidamos você a continuar explorando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Rodrigo Paz durante a votação na Bolívia – 19/10/2025 – Foto: REUTERS/Claudia Morales


