A renúncia da ex-deputada federal Carla Zambelli ao seu mandato parlamentar, oficializada em 14 de dezembro de 2025, é amplamente interpretada por figuras políticas como uma manobra estratégica com implicações diretas em seu processo de extradição da Itália para o Brasil. A avaliação, externada pelo líder do Partido Liberal (PL) na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), sugere que essa decisão visa primordialmente assegurar a permanência de Zambelli em território italiano, prevenindo sua extradição e facilitando uma eventual liberação de sua prisão atual.
Os eventos que antecederam a renúncia de Carla Zambelli configuram um cenário jurídico-político complexo. Na última sexta-feira, 12 de dezembro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou a decisão de anular a votação que ocorreu na Câmara dos Deputados e que havia preservado o mandato da parlamentar. Como consequência, o STF determinou que seu suplente, Adilson Barroso (PL/SP), tomasse posse em um prazo máximo de 48 horas, acirrando o debate sobre os limites e as autonomias entre os poderes.
Renúncia de Zambelli: Estratégia Contra Extradição, diz PL
De acordo com a perspectiva apresentada pelo deputado Sóstenes Cavalcante, o ato de renúncia de Carla Zambelli ao cargo parlamentar oferece um status diferenciado perante a Justiça italiana. Esta condição, argumenta ele, seria mais favorável à sua defesa do que uma eventual cassação de mandato. Essa visão sustenta, ademais, a tese de que o Ministro Alexandre de Moraes, ao intervir no processo legislativo, teria “atropelado” a soberana decisão da Câmara dos Deputados, que em sua votação original havia se manifestado pela manutenção de Zambelli em suas funções legislativas.
“A renúncia da deputada Carla Zambelli nesse dia 14 de dezembro de 2025 tem o objetivo de reforçar sua defesa lá na Itália, pela sua não extradição ao Brasil, bem como pela sua imediata soltura”, pontuou o líder do PL. Ele enfatizou a distinção legal e estratégica entre os dois cenários: “É bem diferente uma parlamentar que renuncia do que uma parlamentar que é cassada. Por mais que seja implacável a cassação por parte do ministro Alexandre de Moraes, que inclusive desrespeitou a decisão soberana do plenário da Câmara dos Deputados, estrategicamente, neste momento, foi a melhor decisão”, afirmou Cavalcante, justificando o movimento da ex-parlamentar como a melhor escolha tática dadas as circunstâncias.
Implicações e Desdobramentos da Decisão
A renúncia de Carla Zambelli, conforme a interpretação do líder do PL, não representa um recuo nas tensões com o Supremo Tribunal Federal. Em declarações concedidas ao jornal Valor Econômico, Sóstenes Cavalcante refutou categoricamente qualquer insinuação de que a decisão de Zambelli pudesse ter sido alinhada com o deputado Hugo Motta, ou que seu propósito fosse o de “esfriar a temperatura” nas relações com o Supremo. “Jamais. Nós não vamos abaixar a cabeça para os abusos e perseguições de alguns ministros”, reiterou Cavalcante, evidenciando uma postura de firmeza política frente aos desdobramentos judiciais e às ações do judiciário.
A situação de Carla Zambelli é complexa. A ex-deputada está detida na Itália, aguardando os próximos capítulos de um processo de extradição. Sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, que estabeleceu uma pena de dez anos de prisão, resultou da invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Essa invasão configurou um crime grave, impulsionando a demanda por sua extradição para cumprimento da sentença no Brasil. A batalha jurídica envolve argumentos complexos sobre a soberania dos tribunais brasileiros e a aplicabilidade das leis internacionais no caso de políticos.

Imagem: Bruno Spada via valor.globo.com
Cenário Político-Judicial Conturbado
Antes da renúncia, o ministro Alexandre de Moraes já havia emitido uma determinação pela cassação da parlamentar. Contudo, em uma votação ocorrida na última quinta-feira, 11 de dezembro de 2025, o plenário da Câmara dos Deputados registrou 227 votos favoráveis à cassação e 179 contrários. Para que a perda do mandato fosse efetivada, eram necessários mais 30 votos. Este resultado evidenciou a divisão interna no parlamento e a dificuldade em reunir o quórum necessário para formalizar a destituição, o que abriu margem para as subsequentes decisões do STF e a estratégica renúncia da parlamentar.
A dinâmica entre o Legislativo e o Judiciário brasileiro tem sido constantemente desafiada por episódios como o envolvendo Carla Zambelli. A intersecção de poderes, com o STF anulando decisões da Câmara e a subsequente estratégia da renúncia, destaca as tensões inerentes ao sistema democrático e os instrumentos legais à disposição dos envolvidos para defesa e manutenção de suas posições. O caso Zambelli permanece como um ponto central na discussão sobre responsabilidade política, atos jurídicos e o alcance das decisões do Supremo Tribunal Federal sobre mandatos parlamentares.
Confira também: Imoveis em Rio das Ostras
Em suma, a renúncia de Carla Zambelli ao seu mandato, no contexto das disputas políticas e jurídicas recentes, representa uma movimentação calculada pelo PL e pela própria ex-deputada. Com o objetivo de influenciar o processo de extradição e garantir sua soltura na Itália, essa ação reflete a complexidade da legislação brasileira e internacional. Para se manter atualizado sobre outros desenvolvimentos políticos e jurídicos que impactam o cenário nacional, continue acompanhando as análises e notícias em nossa editoria de Política.
Crédito da Imagem: Valor Econômico

