Renda Domiciliar em Vinhedo É 2,3x Maior Que Monte Mor, Diz Censo

A renda domiciliar em Vinhedo (SP) se destaca ao apresentar um valor 2,3 vezes superior à registrada em Monte Mor (SP). Esta notável disparidade, a maior entre as 31 cidades da área de cobertura do g1 Campinas, foi revelada pelos dados do Censo Demográfico 2022, divulgados em 9 de novembro de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cenário levanta questionamentos sobre as causas dessa significativa diferença entre os municípios paulistas.

De acordo com a economista Eliane Navarro Rosandiski, professora da PUC-Campinas, os números apurados pelo Censo não se limitam a refletir diretamente a situação do emprego e da renda local. Em vez disso, a especialista ressalta que os dados são um retrato fiel da ocupação territorial desses espaços, um aspecto crucial para compreender o panorama socioeconômico regional.

Renda Domiciliar em Vinhedo É 2,3x Maior Que Monte Mor, Diz Censo

Cidades como Vinhedo e Valinhos, que lideram as médias de renda mensal domiciliar na região, exemplificam essa característica. Elas concentram uma vasta gama de condomínios residenciais de alto padrão. Isso significa que muitos dos moradores possuem um poder aquisitivo elevado, mas não necessariamente exercem suas atividades profissionais nessas localidades. Essa dinâmica é particularmente facilitada pela característica de alta conurbação da região de Campinas, onde a proximidade permite que residentes de um município trabalhem em outro.

“Se não houvesse essa divisão intermunicipal, seria como olhar para a cidade de São Paulo, onde você vai encontrar bairros, zonas, regiões com características diferentes”, explica a economista. Essa comparação evidencia como a fragmentação administrativa pode mascarar ou evidenciar nuances socioeconômicas importantes.

Ao aprofundar a análise regional, Eliane Rosandiski aponta que Monte Mor se caracteriza por possuir uma parcela agrícola substancial em sua economia e uma presença industrial menos proeminente. Este fator é determinante, uma vez que o setor industrial geralmente serve como um importante propulsor para a renda familiar e o desenvolvimento econômico de um município.

Um dos setores que consistentemente contribuem para o incremento dos rendimentos é o de serviços. Campinas, por exemplo, com seus 1,1 milhão de habitantes, se destaca pela sua composição de serviços especializados em áreas como saúde, tecnologia e educação, os quais frequentemente oferecem remunerações mais elevadas. “Algumas cidades tendem a oferecer mão de obra mais qualificada, e que podem buscar a boa remuneração em outras cidades. O diretor de uma empresa que mora em Vinhedo, Valinhos, Campinas”, detalha Rosandiski, ilustrando a mobilidade do trabalho e a concentração de capital humano em certas áreas.

A recente década testemunhou uma significativa expansão imobiliária em cidades como Vinhedo, Valinhos, Campinas, Paulínia e Indaiatuba, marcada pela construção de diversos condomínios de alto padrão. Essa tendência não apenas contribui para a elevação da renda local ao atrair serviços especializados para atender à demanda de famílias com maior poder aquisitivo, mas também molda o perfil de ocupação territorial.

“Isso vai melhorando a renda per capita, já que acaba atraindo para o local um conjunto de serviços que atendem às demandas dessas famílias. O que configura outro padrão de ocupação do território, como restaurantes, escolas, um aglomerado de atendimentos que valoriza essa região”, conclui a economista. O resultado é a criação de um ecossistema local mais robusto, que beneficia a infraestrutura e a oferta de produtos e serviços para esses residentes de maior renda, valorizando ainda mais a região.

Apesar de Eliane Navarro Rosandiski enfatizar que os dados não traduzem totalmente a realidade dos empregos e salários pagos diretamente nas cidades, a notável diferença na renda domiciliar entre Vinhedo e Monte Mor serve como um sério indicativo de um abismo social. Uma renda familiar mais baixa em um município acende um alerta sobre a necessidade de ações do poder público. “A gente olha para essas famílias com uma renda familiar mais baixa, e o que isso implica? Que é um município que, teoricamente, está precisando de melhorias em suas condições. Essa população provavelmente vai demandar determinadas coisas e isso vai refletindo a capacidade dos municípios, os problemas que os municípios podem vir a enfrentar”, pontua a professora, destacando os desafios e as prioridades para a gestão pública.

Censo 2022: Panorama Regional e Mobilidade

No universo das 31 cidades que integram a área de cobertura do g1 Campinas, sete apresentaram uma renda mensal por pessoa na família superior à média do estado de São Paulo, que foi estabelecida em R$ 2.093,44. Esses números são cruciais para compreender a distribuição de riqueza e o perfil socioeconômico da região.

Além da renda, o Censo Demográfico 2022 trouxe insights inéditos sobre a mobilidade dos trabalhadores, investigando pela primeira vez o principal meio de transporte utilizado e o tempo gasto no deslocamento para o trabalho. Em Campinas (SP), mais da metade da população ocupada dedica até meia hora para chegar ao emprego.

Imagem: g1.globo.com

Especificamente, em Campinas, a pesquisa aponta que 5,34% dos moradores desfrutam da conveniência de morar próximo ao trabalho, gastando até cinco minutos no trajeto. A maior parcela, contudo, concentra-se na faixa de deslocamento de até 30 minutos. Uma pequena parte, 0,72% dos entrevistados, relatou tempos de deslocamento mais longos, entre duas e quatro horas.

O analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, correlaciona o tempo de deslocamento a questões sociais e, notavelmente, à renda da população. Indivíduos com menor poder aquisitivo tendem a dedicar mais tempo ao percurso diário até o trabalho. Para saber mais sobre os resultados completos e detalhados do Censo 2022, que é uma ferramenta fundamental para o planejamento público, consultar as publicações oficiais do IBGE é essencial.

“As pessoas de rendimento de meio a um salário mínimo é que concentram o tempo de deslocamento de mais de duas horas. Esse indicador diz respeito à dificuldade que as pessoas de menor poder executivo têm, que as pessoas enfrentam, com relação ao deslocamento ao trabalho”, afirma Mariano. Esta observação reforça a interligação entre as condições de vida, o acesso ao emprego e a mobilidade urbana, especialmente em um cenário de renda domiciliar em Vinhedo e Monte Mor com tais disparidades.

Meios de Transporte e Locais de Trabalho

O Censo 2022 também revelou que quase metade dos habitantes de Campinas (45,97%) opta pelo automóvel para se deslocar até o trabalho, superando a média estadual de 37,27%. Interessantemente, a proporção de pessoas que caminham (8,96%) é superior àquelas que utilizam motocicletas (6,22%) ou bicicletas (1,30%). O ônibus é a segunda opção mais frequente, com 31,38% da preferência.

Quanto ao local de trabalho, 87,01% dos moradores de Campinas afirmaram trabalhar no próprio município de residência. Desse percentual, 16,18% realizam suas atividades em regime de home office. Apenas 8,64% se deslocam para outro município para trabalhar, e uma fração mínima, 0,02%, trabalha em país estrangeiro. Os 0,64% restantes se dividem entre mais de um município ou país.

“Quando você pega algumas outras cidades da região, a proporção [de quem trabalha em outras cidades] é muito elevada. Isso tem a ver com as características da região e com a economia da região”, pontua Mariano. Essa mobilidade regional do trabalho é um traço marcante da macroeconomia local, refletindo as oportunidades e desafios de desenvolvimento para municípios como Vinhedo e Monte Mor.

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Em suma, a notável discrepância na renda domiciliar em Vinhedo e Monte Mor, evidenciada pelo Censo 2022 do IBGE, é um complexo fenômeno multifacetado, explicado pela conurbação, padrões de ocupação do solo e perfis econômicos distintos dos municípios. Compreender esses fatores é crucial para a formulação de políticas públicas eficazes que visem reduzir as desigualdades e promover um desenvolvimento mais equitativo. Continue explorando as nuances da economia e da sociedade na nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Reprodução/EPTV