No universo da história urbana e do planejamento estratégico, um lançamento literário recente promete agitar debates. O prestigiado historiador britânico Kenneth Maxwell apresenta seu mais novo trabalho, uma profunda reflexão sobre a reconstrução de cidades emblemáticas na Europa. Intitulado “O Conto de Três Cidades: A Reconstrução de Londres, Paris e Lisboa” – uma tradução do original “The Tale of Three Cities: The Rebuilding of London, Paris, and Lisbon” –, a obra é notável não apenas por seu conteúdo, mas também por sua apresentação trilíngue, em inglês, francês e português, tornando-a acessível a um público diversificado.
O livro de Maxwell se aprofunda nos complexos processos de transformação que moldaram as paisagens urbanas dessas capitais ao longo da história. O autor detalha eventos marcantes como o grande incêndio que consumiu Londres em 1666, o catastrófico terremoto que devastou Lisboa em 1755 e o ambicioso projeto de redesenho de Paris desencadeado após a Revolução Francesa, em 1789. Contudo, a análise transcende a mera descrição de catástrofes e seus renascimentos, buscando explorar as distintas metodologias e visões que cada urbe adotou para lidar com a mudança e a necessidade de se reerguer.
Reconstrução de Cidades: O Novo Livro de Kenneth Maxwell
A gênese desta relevante publicação remonta a uma palestra proferida pelo pesquisador na Universidade Harvard em setembro de 2024. Neste evento acadêmico, Kenneth Maxwell, figura amplamente reconhecida pelos seus estudos sobre as histórias do Brasil e de Portugal, expôs as premissas centrais de sua pesquisa. Ele enfatizou de forma categórica as diferenças notáveis nas estratégias de reconstituição das paisagens urbanas aplicadas pelas três metrópoles, consolidando as bases de um estudo que promete ser referência para a compreensão do planejamento e da resiliência urbana.
De acordo com a perspectiva de Maxwell, o processo de reerguimento de Londres, ao ser comparado com as experiências de Paris e Lisboa, enfrentou obstáculos significativos e não atingiu o mesmo patamar de sucesso. Esta lacuna, segundo o historiador, deve-se em grande parte à ausência de uma liderança centralizadora e carismática, apta a coordenar o projeto de recuperação de forma unificada e eficaz. Maxwell pontua que “faltou a Londres o que chamo de uma figura providencial”, indicando a importância de um indivíduo com visão e poder para catalisar a mudança.
A capital britânica, no período subsequente ao incêndio, ainda se ressentia das sequelas sociopolíticas deixadas por uma guerra civil concluída no século anterior, o que complicava ainda mais a capacidade de uma resposta coordenada. Em franco contraste, tanto a França quanto Portugal puderam contar com personalidades de grande força e determinação para guiar suas reconstruções. Esses líderes desempenharam papéis cruciais, consolidando a capacidade de suas cidades de reagir aos desastres e remodelar seus futuros urbanísticos de maneira visionária.
Em Paris, a figura providencial emergiu na persona do Barão Haussmann, que, com o respaldo irrestrito de Napoleão III, empreendeu uma reforma urbana de proporções gigantescas. Este projeto transformou a capital francesa na célebre “Cidade-Luz”, apelido que persiste até os dias atuais, especialmente devido à implementação das ligações de gás que iluminaram suas ruas. Haussmann não apenas reorganizou a infraestrutura parisiense, mas redesenhou todo o cenário urbano em alinhamento com os ideais de modernidade do século XIX, criando uma metrópole completamente planejada, com suas grandes avenidas e edifícios uniformes que caracterizam a cidade.
Similarmente em Lisboa, a reconstrução foi orquestrada pelo Marquês de Pombal após o devastador terremoto de 1755. Seguindo um lema pragmático e direto – “enterrar os mortos e alimentar os vivos” –, Pombal inicialmente focou em restabelecer a ordem pública em meio ao caos generalizado. Uma vez alcançada a estabilidade, ele dedicou-se à edificação de uma nova Lisboa. Essa nova cidade foi concebida para ser mais funcional, limpa e resistente, com um traçado urbano racional e edifícios antissísmicos, cujos princípios são estudados até hoje. Para aprofundar a compreensão sobre este influente personagem histórico, recomenda-se a leitura de seu perfil em uma das mais respeitadas enciclopédias globais, disponível no site da Encyclopaedia Britannica.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A despeito das turbulências políticas e sociais que assolaram Paris e Lisboa nos séculos seguintes, Maxwell observa que o panorama urbanístico contemporâneo dessas duas cidades ainda reflete fielmente o que foi estabelecido logo após seus respectivos períodos de reconstrução. Esta persistência arquitetônica e de planejamento serve como um testemunho da duradoura visão e da eficácia das lideranças que conduziram seus processos de transformação urbana, garantindo uma identidade visual que resiste ao tempo e a múltiplas gerações.
O estudioso britânico reconhece que sua pesquisa sobre a **reconstrução de cidades** e seus desdobramentos urbanos está inaugurando um campo de debates relativamente inexplorado. Ele se posiciona como um pioneiro nesta área da história urbana, esperando que seu trabalho estimule outras investigações. Uma de suas conclusões mais provocativas é a ideia de que, embora desastres naturais tenham um lado negativo óbvio e imenso, eles podem, paradoxalmente, catalisar condições para mudanças profundamente positivas. Contudo, essa potencialidade transformadora só se concretiza se as sociedades e seus indivíduos agirem ativamente em direção a essa melhora. Ele reitera a necessidade de não se conformar, afirmando que “Não podemos esperar uma figura providencial para resolver nossos problemas”.
Com sua obra, Maxwell expressa o desejo de pavimentar o caminho para mais análises e investigações detalhadas. Como um exemplo de área promissora para futuras pesquisas, ele menciona a reconstrução de Roma após o grande incêndio do século 64 d.C., sob o império de Nero, sugerindo que este episódio oferece material rico para estudos mais aprofundados sobre a capacidade humana de reinvenção frente à adversidade e como esses processos de **reconstrução de cidades** deixam legados.
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Em suma, o novo livro de Kenneth Maxwell não é apenas um estudo histórico comparativo sobre a reconstrução de cidades como Londres, Paris e Lisboa; é um convite à reflexão sobre liderança, resiliência e o impacto duradouro das decisões humanas no ambiente urbano. Para continuar explorando tópicos relevantes sobre o desenvolvimento de metrópoles e suas narrativas, convidamos você a permanecer em nossa editoria de Cidades.
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