Raul Lages irá a júri popular por morte de advogada em BH. Raul Rodrigues Costa Lages enfrentará o Tribunal do Júri popular sob a acusação de feminicídio contra a advogada Carolina França Magalhães, de 40 anos, que faleceu após cair do oitavo andar de um prédio em Belo Horizonte em 8 de junho de 2022. O caso, inicialmente tratado como suicídio, passou por uma reviravolta significativa em 2024, quando Lages se tornou réu por homicídio triplamente qualificado.
A decisão, proferida nesta segunda-feira (20) pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, apontou que as evidências presentes no processo são suficientes para sustentar a hipótese de um crime. As qualificadoras consideradas incluem motivo torpe, violência contra mulher e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Embora a magistrada tenha admitido a acusação integral, Raul Lages teve o direito de recorrer da sentença em liberdade. Até o momento, a data do julgamento perante o júri popular ainda não foi definida. A defesa do acusado, procurada pela reportagem, não se manifestou.
Raul Lages irá a júri popular por morte de advogada em BH
Em comunicado, os advogados que representam a família de Carolina França Magalhães expressaram que a determinação judicial reforça a existência de “inúmeras evidências do covarde homicídio qualificado, inclusive por feminicídio”. Maurício Campos Júnior, defensor da família, enfatizou a confiança na Justiça e na condenação de Raul Rodrigues Costa Lages, assegurando que quaisquer recursos da defesa não deverão postergar uma decisão definitiva para o caso.
Relembre o Caso Carolina França Magalhães
A trágica morte de Carolina França Magalhães ocorreu na noite de 8 de junho de 2022, quando a advogada, mãe de dois filhos, caiu do oitavo andar de um edifício situado no bairro São Bento, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Nos primeiros momentos, a situação foi registrada como suicídio. Contudo, as profundas inconsistências percebidas pelos familiares e as novas investigações culminaram na aceitação da denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pela Justiça em novembro de 2024, indiciando Raul Rodrigues Costa Lages, então namorado da vítima, por feminicídio.
A tese de que Carolina Magalhães havia cometido suicídio foi veementemente contestada por seus familiares e amigos. Demian Magalhães, irmão da vítima e também advogado, iniciou a coleta de provas independentemente logo após o incidente. Ele relatou que a polícia não requisitou as imagens das câmeras de segurança na portaria do prédio na noite do crime. No dia seguinte ao falecimento da irmã, foi Demian quem acessou essas gravações, confrontando a narrativa inicial de Raul com a sequência real dos eventos. Segundo Demian, as imagens revelaram que a versão apresentada pelo acusado “não batia com a realidade”.
Reviravolta na Investigação e as Provas
As imagens de segurança, veiculadas por reportagens televisivas, elucidaram uma cronologia preocupante dos acontecimentos. Às 19h31 do dia 8 de junho de 2022, Raul e Carolina foram vistos entrando no elevador. Aproximadamente uma hora mais tarde, Raul desceu ao térreo de bermuda e camiseta para buscar comida, retornando em cerca de cinco minutos. Às 21h11, Lucas e Vitor, os filhos de Carolina, saíram do apartamento da mãe para assistir a um jogo de futebol nas proximidades. Às 23h10, o sensor da câmera na área de lazer do prédio foi acionado, e um minuto depois, o porteiro do edifício constatou, com aflição, o corpo no chão. Para saber mais sobre a legislação e dados de feminicídio no Brasil, consulte o Conselho Nacional de Justiça.
Quando Carolina já estava morta, às 23h14, o elevador estava parado na portaria. Acionado para o oitavo andar, Raul Lages foi então visto entrando no elevador. Contudo, suas vestimentas estavam trocadas: ele vestia um terno e carregava uma mochila, além de duas sacolas que aparentavam estar pesadas. Em seguida, Raul se dirigiu à portaria e, ao tentar sair do prédio, deparou-se com o porteiro visivelmente desorientado, que o conduziu ao local onde o corpo de Carolina havia caído. Cerca de um minuto após esse momento, Raul Lages deixou o local falando ao celular, guardou as sacolas no porta-malas do carro estacionado na rua e partiu rapidamente. A chegada de uma ambulância o fez retornar ao local, estacionando o veículo. Às 23h20, os filhos de Carolina entraram no prédio, encontrando-se com a devastadora notícia da morte da mãe.
A Polícia Civil apontou que Raul Lages teria tido tempo hábil para alterar a cena e esconder provas da suposta violência. Segundo as investigações, ele trocou a roupa de cama, removeu manchas de sangue e colocou todos esses itens para lavar. Adicionalmente, o advogado teria recolhido todas as suas roupas do apartamento de Carolina, bem como o fragmento cortado da tela de proteção da janela, descartando-o na lixeira e guardando a tesoura na gaveta da cozinha, indícios que reforçaram as suspeitas sobre a sua conduta após a queda da advogada.

Imagem: g1.globo.com
Depoimentos: Inconsistências de Raul Lages
Em agosto de 2024, durante sua audiência perante a Justiça, Raul Rodrigues Costa Lages apresentou múltiplas contradições em seu depoimento. Ele optou por responder exclusivamente às perguntas feitas por sua defesa e pela juíza, recusando-se a responder aos questionamentos da acusação, representada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pelo advogado da família da vítima.
Uma das principais inconsistências revelou-se na sua descrição sobre o momento da queda. Durante a fase inicial da investigação, na polícia, Raul havia afirmado que, quando Carolina caiu, ele já estava dentro do elevador do prédio, de onde teria ouvido um “forte” barulho, que supôs ser o impacto do corpo no solo. No entanto, em juízo, ele retificou a versão, dizendo que o som poderia estar relacionado a fogos e comemorações de torcedores durante um jogo de futebol que ocorria naquela noite. Ele também alegou ter permanecido por um período na porta do apartamento organizando sacolas antes de acionar o elevador, mas as imagens de segurança contrariaram essa alegação, mostrando que ele chamou o elevador pelo menos quatro minutos após a queda de Carolina.
Outra relevante alteração no depoimento se refere à sua vida pessoal com a vítima. À polícia, Raul Lages havia negado ter tido relações sexuais com Carolina no dia do incidente, apesar de laudos confirmarem a presença de esperma no corpo dela. No tribunal, ele confirmou que haviam tido contato íntimo, mas pela manhã. Além disso, Raul recusou-se a fornecer material genético, o que poderia ter contribuído significativamente para a elucidação do caso. Quando questionado sobre o consumo de entorpecentes, o réu negou utilizar substâncias ilícitas. Contudo, uma ação de busca e apreensão em sua residência resultou na descoberta de drogas em seu quarto, o que levou à assinatura de um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por infração de menor potencial ofensivo. A defesa de Raul Lages, ao comentar as disparidades, argumentou que se tratavam de “esclarecimentos mais detalhados”, e não de contradições, na narrativa dos fatos.
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O caso que levou Raul Lages a júri popular é um reflexo complexo da justiça brasileira, onde a persistência da família e novas evidências foram cruciais para a mudança do rumo da investigação de um suposto suicídio para uma acusação de feminicídio. Continue acompanhando as atualizações sobre este e outros casos importantes na editoria de Cidades do nosso portal.
Crédito da imagem: Reprodução/Redes sociais; reprodução/OAB-MG


