A controvérsia em torno do afastamento do rabino Ruben Sternschein de um importante ato em homenagem a Vladimir Herzog ganhou destaque às vésperas da solenidade. O evento inter-religioso, que ocorre neste sábado, 25 de outubro de 2025, marca os 50 anos do assassinato do jornalista. A decisão veio após graves acusações de assédio sexual contra o líder religioso, provocando a suspensão de sua participação no evento simbólico.
O afastamento de Sternschein de suas atividades na Congregação Israelita Paulista (CIP) ocorreu na quarta-feira, 22 de outubro, na sequência da publicação de denúncias pela revista piauí. Segundo as reportagens, o rabino teria assediado sexualmente cinco mulheres frequentadoras da congregação. A revelação rapidamente impôs uma postura por parte do Instituto Vladimir Herzog, responsável pela organização do evento comemorativo.
Rabino Afastado de Ato a Herzog Após Acusações de Assédio
Por meio de um comunicado enviado à Folha, o Instituto Vladimir Herzog confirmou que foi devidamente informado pela CIP sobre o afastamento de Ruben Sternschein de suas funções religiosas. Essa suspensão, por sua vez, implicou diretamente na sua impossibilidade de participar do ato inter-religioso. A Congregação Israelita Paulista, como consequência, assumirá a responsabilidade pela escolha de um novo representante da comunidade judaica para a cerimônia, conforme previsto na nota. O objetivo é assegurar a preservação do “caráter plural e simbólico da cerimônia, que reafirma os valores da memória, da justiça e da democracia”, com a representação sendo conduzida por outro líder religioso, ainda sem nome definido.
A própria Congregação Israelita Paulista também se manifestou oficialmente sobre o caso, divulgando uma nota em seu website institucional. O comunicado informa que Sternschein foi “afastado de suas funções por prazo indeterminado durante as investigações” internas. A CIP afirmou que, até o momento da nota, recebeu formalmente apenas uma denúncia, que teria sido investigada de forma “com isenção e rigor” e que não foram encontradas “irregularidades comprovadas”. A instituição religiosa ressaltou ainda o seu compromisso de rejeitar “qualquer forma de assédio ou discriminação” e de continuar operando com “transparência, justiça e responsabilidade”, em conformidade com sua trajetória de quase 90 anos de existência. O rabino Ruben Sternschein, quando procurado pela reportagem, preferiu não se manifestar a respeito das acusações ou de seu afastamento.
A cerimônia deste sábado (25), marcada para a Catedral da Sé, no centro de São Paulo, possui um forte apelo histórico e simbólico. Ela busca recriar e honrar a solenidade ocorrida em outubro de 1975, pouco tempo após a morte de Vladimir Herzog. Naquele momento, o arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, o reverendo presbiteriano Jamie Wright e o rabino Henry Sobel foram os responsáveis por um ato ecumênico na mesma Catedral, um marco contra a repressão ditatorial.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Este ato, considerado um dos mais emblemáticos protestos públicos contra a ditadura militar brasileira, mobilizou cerca de 8.000 pessoas. Sua relevância residiu na coragem de manifestar abertamente contestação ao regime, em um período caracterizado pela forte coerção e pela implacável perseguição governamental a todos os opositores políticos e intelectuais do sistema. A homenagem original transformou-se em um poderoso símbolo da luta por justiça, verdade e democracia em um dos períodos mais sombrios da história recente do país.
Ruben Sternschein havia sido convidado para celebrar a cerimônia atual em sua condição de rabino sênior da CIP, com a incumbência de representar a figura do falecido rabino Henry Sobel. Sobel tornou-se notório por sua postura corajosa de oposição à ditadura militar, especialmente ao desafiar publicamente a narrativa oficial sobre a morte de Herzog. À época, o rabino Sobel peitou o regime ao se recusar a sepultar Herzog, que era judeu, sob a alegação oficial de suicídio. A ditadura militar divulgou essa versão para ocultar que o jornalista havia sido brutalmente assassinado sob tortura nas dependências do DOI-Codi do Exército, em São Paulo, o que foi posteriormente provado por laudos e testemunhos históricos.
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O afastamento do rabino Ruben Sternschein traz um novo elemento de tensão para uma homenagem já carregada de profundo significado histórico, destacando a importância contínua da integridade e da memória para as instituições. O Instituto Vladimir Herzog segue na expectativa pela indicação do novo líder religioso para o evento. Continue acompanhando nossa editoria de Política para todas as atualizações e análises sobre este e outros temas relevantes que impactam a sociedade brasileira.
Crédito da imagem: Ronny Santos – 11.mai.2022/Folhapress


