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Queijos autorais: Sul de Minas concentra 80% dos registros estaduais

A região do Sul de Minas concentra 80% dos queijos autorais registrados no estado, conforme apontamento da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Este destaque sublinha a crescente relevância de Minas Gerais na elaboração de queijos que transcendem o tradicional, incorporando técnicas inovadoras e características singulares. Em territórios como a Serra da […]

A região do Sul de Minas concentra 80% dos queijos autorais registrados no estado, conforme apontamento da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Este destaque sublinha a crescente relevância de Minas Gerais na elaboração de queijos que transcendem o tradicional, incorporando técnicas inovadoras e características singulares. Em territórios como a Serra da Canastra, uma das dez notáveis regiões produtoras do aclamado Queijo Minas Artesanal, a fusão entre herança e experimentação é evidente.

A identidade marcante desses queijos é forjada por fatores intrínsecos ao seu ambiente de origem. O “terroir”, que engloba elementos como o clima, o solo e a microbiota local, exerce uma influência determinante no sabor e na textura do produto. Confeccionado há mais de dois séculos, o Queijo Minas Artesanal possui o reconhecimento oficial de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, celebrando sua profundidade histórica e cultural. Um dos elementos cruciais para sua identidade é o “pingo”, um fermento natural extraído do soro do queijo do dia anterior, conferindo uma vitalidade e sabor distintos à produção da Canastra.

Queijos autorais: Sul de Minas concentra 80% dos registros estaduais

A jornada da inovação no universo queijeiro é exemplificada pelo casal Renato e Nilseia dos Santos Rosa Vilela, que iniciou a fabricação de queijos artesanais em São João Batista do Glória há sete anos. Inicialmente aderindo às receitas clássicas, a demanda por novas experiências gastronômicas estimulou sua inventividade. Nilseia relata: “Eu comecei a observar na maturação, às vezes eu deixava o queijo um pouco mais úmido, às vezes o grão maior e comecei a observar na maturação que isso acontecia e aí eu vi que modificava completamente o queijo”. Dessa percepção surgiram os queijos autorais, criações exclusivas que partem da base tradicional, mas incorporam variações originais. Uma dessas inovações, caracterizada por um mofo natural desenvolvido pela interação com o ambiente, foi honrada com a medalha de prata em um prestigiado concurso mundial de queijos na França. Nilseia complementa que a produção varia conforme as estações do ano, oferecendo diferentes características: “Cada dia é um sabor, cada dia tem as suas características. E o tempo influencia diretamente nisso, as estações, né? Então, eu falo que a gente tem os queijos das estações. Cada estação a gente tem um queijo. É lindo isso, né? Deixar a natureza fazer esse trabalho.”

A complexidade por trás da transformação do queijo artesanal em uma criação autoral é elucidada pelo professor Luís Roberto Batista, especialista em microbiologia de alimentos da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Em seu laboratório, ele explica que a “criatividade, identidade” leva à singularidade de um produto: “aquele produto vai ser único. Porque somente aquele produtor ou aquela produtora tem aquela criatividade para produzir aquele queijo. Que vai depender muito da época do ano, dependendo da composição do leite, depende muito da alimentação animal também”. Este processo intrínseco garante que cada queijo autoral seja uma expressão individual do seu criador e do seu ambiente.

Minas Gerais é um polo de destaque no cenário nacional para os queijos autorais. A Secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), detalha que o estado contabiliza 58 registros oficiais para este tipo de produto, sendo a vasta maioria — 46 deles — concentrada na região do Sul de Minas. Em cidades como Três Corações, por exemplo, é possível encontrar estabelecimentos especializados que oferecem uma gama impressionante de opções. Uma loja local, adjacente ao Museu Pelé, disponibiliza 25 variedades diferentes de queijos autorais. Estes produtos surpreendem pela diversidade, desde versões mais cremosas, frequentemente envoltas em cintas de carvalho, até opções que combinam frutas e nozes, remetendo à estética e sabor de um bolo.

Para os produtores que operam conforme a regulamentação vigente, o reconhecimento através do Selo ARTE é um marco significativo. Esta certificação não apenas garante a autenticidade e a rastreabilidade do queijo, como também libera sua comercialização em todo o território nacional. A presença do Selo ARTE na embalagem de um produto assegura ao consumidor que o queijo foi concebido de forma artesanal, seguindo uma receita e um processo de fabricação tradicionais, e que cumpre rigorosas normas sanitárias e boas práticas agropecuárias. Desse modo, o Selo ARTE fomenta a valorização da produção regional, amplia o acesso do público a queijos de alta qualidade e com origem garantida, fortalecendo a economia local e a identidade cultural de Minas Gerais. Mais detalhes sobre as políticas e iniciativas que promovem o setor podem ser consultados no portal da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, a Seapa.

A tradição dos queijos autorais mineiros também se entrelaça com encontros culturais. Na cidade de São Vicente de Minas, a origem dessa tradição remonta aos imigrantes dinamarqueses que chegaram no início do século passado. Patrick Araújo Paulsen, técnico em laticínios, é herdeiro dessas técnicas familiares e as combinou com inovação para desenvolver dois queijos autorais distintivos: um inspirado no queijo danbo dinamarquês e outro com nuances do cheddar britânico. Ambos já foram distinguidos em concursos nacionais e internacionais, confirmando a excelência da fusão cultural. “A primeira produção que a gente fez, a gente levou ele para um concurso para testar como é que seria o queijo e pegar uma referência de fora. E levamos no terceiro mundial do queijo em São Paulo, a conseguiu pegar medalha de prata nele”, conta Patrick.

Mais do que um mero alimento, o queijo autoral reflete a intrínseca conexão entre o produtor e a natureza. Cada detalhe, do clima e da composição do leite ao tempo de maturação e a estação do ano, impacta diretamente no perfil de sabor e na textura do produto final. Como expressa Nilseia, ecoando a sabedoria popular mineira: “Quem determina o que vai acontecer com os queijos não somos nós. É o terroir, como diz o meu amigo Tulio lá do Serro, é o nosso ‘trem-roir’, né? Que o que Deus criou, que está aqui no nosso ambiente, é ele que determina.”

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Os queijos autorais do Sul de Minas representam não apenas um avanço gastronômico, mas também um tributo à herança cultural e à criatividade dos produtores locais, solidificando a reputação de Minas Gerais como um centro de excelência na queijaria artesanal. A singularidade e a qualidade desses produtos continuam a encantar paladares e a consolidar a relevância da região no cenário nacional e internacional. Para mais reportagens e análises sobre o impacto econômico e cultural de iniciativas locais, acompanhe a seção de Economia em nosso site.

Crédito da imagem: Reprodução / EPTV

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