As declarações de Vladimir Putin sobre os Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) marcaram o discurso do líder russo em um fórum realizado em Sochi, no dia 2 de outubro de 2025. Em um tom assertivo e por vezes irônico, Putin não hesitou em advertir sobre uma possível escalada perigosa do conflito caso Washington decida fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia, além de satirizar a aliança ocidental e refutar alegações sobre o uso de drones russos em território europeu.
O fórum em Sochi, um evento de grande relevância no calendário russo, serviu como plataforma para o presidente Putin reafirmar a postura de Moscou em meio às tensões geopolíticas. Durante sua intervenção, ele enfatizou que a Rússia, na sua perspectiva, não está enfrentando apenas a Ucrânia, mas sim uma coalizão militar que compreende a quase totalidade dos membros da Otan. Esta é uma narrativa consistente com as declarações de autoridades russas, que repetidamente sugerem um conflito direto com as nações ocidentais, posicionando-se como uma defesa contra uma agressão indireta.
Putin critica Otan e Trump, alerta EUA sobre mísseis na Ucrânia
Ainda no decorrer de sua explanação, o chefe de Estado russo aproveitou a oportunidade para responder a comentários anteriores feitos por Donald Trump, que recentemente qualificou a Rússia como um “tigre de papel”. A expressão, historicamente popularizada pelo líder chinês Mao Tse-tung para descrever potências ou indivíduos que parecem ameaçadores mas carecem de força real, foi utilizada pelo ex-presidente norte-americano ao argumentar que uma nação militarmente forte já teria concluído o conflito ucraniano. Putin confrontou diretamente essa metáfora, questionando: “Se estamos lutando contra toda a Otan, estamos avançando, e nos chamam de tigre de papel, então o que é a Otan?”. A provocação ressaltou a percepção de Moscou de que o desempenho russo no cenário ucraniano desafia a caracterização pejorativa feita por Trump.
Um dos momentos de maior ironia no discurso de Putin foi a respeito das acusações de que drones russos teriam violado o espaço aéreo de nações pertencentes à Otan. Com um ar cômico, o presidente prometeu: “Não vou mais mandar drones para a Dinamarca, prometo”. A remark direta foi uma resposta às crescentes preocupações de autoridades europeias. Relatos de invasões aéreas com drones sobre a Polônia e sobrevoos de caças em áreas da Estônia foram amplamente noticiados, com a Dinamarca chegando a registrar o fechamento de aeroportos em consequência de incidentes aéreos similares, atribuídos a atividades russas. A postura de Putin buscava deslegitimar ou ridicularizar as alegações, sem confirmá-las nem negá-las diretamente.
Em um momento de tom mais grave, o presidente russo abordou a possibilidade do envio de mísseis Tomahawk dos Estados Unidos para a Ucrânia. Ele alertou que tal ação representaria uma “nova fase de escalada do conflito”, trazendo implicações sérias para as relações bilaterais. “É impossível usar Tomahawks sem participação direta de militares americanos. Isso significaria um estágio completamente novo, inclusive nas relações entre Rússia e Estados Unidos”, frisou Putin, indicando que a intervenção militar americana seria inevitável no manuseio de tal armamento avançado. No dia anterior, 1º de outubro, o jornal The Wall Street Journal divulgou que os Estados Unidos estavam dispostos a fornecer informações de inteligência para a Ucrânia direcionar ataques de mísseis contra a Rússia, incentivando países da Otan a seguir o exemplo. A matéria também mencionou a hipótese do envio de mísseis Tomahawk, cujo alcance de até 2.500 km colocaria em risco a maior parte do território russo. Contudo, a agência de notícias Reuters, citando fontes americanas, relativizou essa possibilidade, considerando-a “improvável”.
O líder russo também voltou sua atenção para a Otan em geral, acusando os líderes europeus de fomentar uma “histeria” generalizada acerca de uma guerra iminente contra a Rússia. “Eles repetem esse absurdo, esse mantra, repetidamente… Ou são incompetentes se realmente acreditam nisso, porque é impossível acreditar nesse absurdo, ou são simplesmente desonestos”, disparou Putin. A postura do Kremlin contrasta com as declarações de líderes europeus que interpretam o conflito na Ucrânia como uma tentativa de anexação e que se comprometem a derrotar as forças russas. Tais líderes frequentemente argumentam que, caso a Rússia não seja contida agora, o expansionismo de Putin poderia avançar contra outras nações da Otan. Nesse contexto de desconfiança mútua e troca de acusações, a visão de um conflito maior permeia o debate geopolítico internacional. Para uma análise aprofundada das complexas relações entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte, pode-se consultar artigos sobre conflitos e diplomacia no leste europeu.
Concluindo suas ponderações sobre a situação europeia, Putin aconselhou os chefes de estado do continente a “acalmarem-se, dormirem tranquilos e cuidarem dos seus próprios problemas”. Ele sugeriu que observassem a situação interna de seus países, uma possível referência a desafios sociais e econômicos. Quanto ao panorama militar na Ucrânia, o presidente russo assegurou que seu país dispõe de um contingente de tropas suficiente, em contraste com a Ucrânia, que estaria sofrendo com a escassez de soldados e um número significativo de deserções. Ele reiterou a necessidade de que Kiev busque uma mesa de negociações para pôr fim à guerra.
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As recentes declarações do presidente Vladimir Putin no fórum em Sochi reforçam a linha dura adotada por Moscou, ao mesmo tempo em que misturam avisos estratégicos, críticas políticas e deboche sobre a Otan e Donald Trump. A escalada do conflito na Ucrânia e as relações conturbadas com o Ocidente continuam sendo pautas centrais no cenário global. Para acompanhar mais desdobramentos sobre política internacional e seus impactos, acesse a editoria de Política em nosso portal.
Foto: Sputnik/Mikhail Metzel via REUTERS

Imagem: g1.globo.com
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