A oferta de próteses gratuitas está revolucionando a recuperação e a reintegração social de indivíduos que venceram o câncer, especialmente aqueles com sequelas na região da face. Longe de ser apenas uma questão estética, a possibilidade de reconstruir partes do rosto perdidas devido ao tratamento oncológico representa um marco crucial na retomada da autoestima e do convívio social, impactando positivamente a saúde mental dos pacientes.
Histórias como a de Lucas Soares da Silva, de 28 anos, morador de Mauá (SP), exemplificam a profundidade dessa transformação. Em 2011, uma pequena mancha vermelha em seu olho foi o prenúncio de um diagnóstico de câncer. Após várias cirurgias entre 2014 e 2020 para remover o tumor, Lucas enfrentou um desafio ainda maior em 2021: a necessidade de uma intervenção cirúrgica invasiva que culminaria na remoção do globo ocular esquerdo, incluindo uma limpeza profunda que resultou na perda de parte da pálpebra.
Próteses Gratuitas Transformam Vida Pós-Câncer Facial
Inicialmente, as preocupações de Lucas estavam focadas nas complicações pós-operatórias. Contudo, a adaptação à sua nova aparência tornou-se um obstáculo significativo em seu dia a dia. Para amenizar a evidente perda ocular, ele utilizava um tapa-olho ou tampão cirúrgico, mas a curiosidade e o preconceito dos olhares alheios eram uma constante. No ano passado, ele pesquisou por próteses, mas o custo elevado, em torno de R$ 15 mil, inviabilizou a compra.
A solução surgiu durante uma busca na internet: o Instituto Mais Identidade, uma organização sem fins lucrativos. Essa entidade oferece próteses sem custo a pacientes com câncer na área do rosto e pescoço. Lucas contatou o instituto e, para sua surpresa, foi rapidamente atendido. Em agosto de 2023, sua prótese chegou. De fácil aplicação, colada com um adesivo especial, ela permitiu que ele andasse novamente na rua sem a percepção de sua condição, proporcionando-lhe uma liberdade há muito desejada.
O impacto dessas próteses não se restringe a Lucas. Emerson Aparecido da Silva, um funcionário público de 52 anos, também experimentou uma jornada semelhante. Diagnosticado com câncer de pele em janeiro de 2023, ele passou por uma cirurgia para remover um tumor no nariz, perdendo grande parte do tecido. A transformação em sua face abalou profundamente seu psicológico, levando-o ao isolamento e à aversão ao contato social.
O encaminhamento de Emerson ao Instituto Mais Identidade foi um divisor de águas. Beneficiando-se da preservação de suas estruturas ósseas faciais, ele recebeu uma prótese nasal que se encaixava perfeitamente. A esperança de retomar a normalidade por meio da prótese renovou seu ânimo, permitindo-lhe reassumir o trabalho, o convívio familiar e as interações sociais com uma nova perspectiva.
As próteses oferecidas pelo Instituto Mais Identidade são fruto de uma abordagem inovadora, utilizando tecnologia de impressão 3D e digitalização por aparelhos celulares em sua sede em São Paulo. Diferente dos métodos tradicionais, que envolvem processos longos de moldagem, custos elevados e ajustes manuais demorados, a fabricação digital acelera drasticamente a produção. Modelos que antes levavam meses para serem confeccionados agora podem ficar prontos em semanas, ou até mesmo dias, em casos de urgência.
Luciano Dib, cirurgião bucomaxilofacial e diretor do instituto, relata casos em que próteses foram finalizadas em apenas três dias, especialmente para pacientes de outros estados, recebendo prioridade máxima. Esse avanço não apenas torna o processo mais ágil, mas também o democratiza, reduzindo custos de produção em até 50% quando comparado com próteses convencionais, que podem ultrapassar R$ 50 mil.
O processo de confecção é meticuloso e altamente personalizado: inicialmente, o rosto do paciente é capturado por fotografias digitais que são convertidas em modelos tridimensionais realistas. Softwares específicos recriam com precisão a área afetada, planejando o formato ideal da prótese. Em seguida, um molde preliminar é impresso em resina 3D e testado no paciente para eventuais adequações. Com a aprovação, a prótese final é cuidadosamente elaborada à mão em silicone, recebendo características individuais, como a cor da pele e outros detalhes para máxima naturalidade.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A fixação da prótese pode ser realizada de duas maneiras principais: a mais simples envolve o uso de adesivos especiais que fixam a peça ao rosto, adequada quando a estrutura óssea não foi completamente preservada. A segunda opção, para casos em que a estrutura óssea permite, é a fixação por magnetos, que exige um procedimento cirúrgico para a implantação de pinos de titânio na região onde a prótese será encaixada. A escolha do método depende da avaliação clínica individual, conforme explica o Dr. Dib.
Nicolas Cohen, psicólogo do instituto, enfatiza a relevância psicológica do trabalho: “Receber um diagnóstico de câncer no rosto está intrinsecamente ligado a perdas funcionais e estéticas que abalam profundamente o psicológico do paciente. A dificuldade de lidar com a própria imagem pode levar ao isolamento, ao uso de máscaras e óculos escuros como formas de camuflagem. A prótese surge como uma ferramenta essencial para amenizar essa perda, promovendo a reintegração social e o resgate da dignidade.”
Nos últimos dois anos, mais de cem pacientes já foram beneficiados pela metodologia 3D do Instituto Mais Identidade. A instituição recebe pacientes por meio de encaminhamentos hospitalares e também por iniciativas próprias dos indivíduos, como a de Lucas. Todos os atendidos passam por uma triagem detalhada e contam com o suporte de uma equipe multidisciplinar, que inclui cirurgiões-dentistas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais, visando um atendimento holístico e completo.
Embora a cura do câncer seja um objetivo primário, a etapa de lidar com as sequelas e retomar a vida pós-tratamento é igualmente vital, mas muitas vezes subestimada. Luciano Dib reforça que muitos pacientes curados não conseguem retornar à sua vida anterior sem o apoio necessário. Atualmente, o instituto possui uma fila de espera de 90 pessoas, e busca ativamente parcerias com empresas privadas para expandir sua capacidade de atendimento e reduzir essa espera.
A necessidade dessas próteses é latente. Estimativas do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam que, somente em 2025, o Brasil pode registrar 39.550 novos casos de câncer de cabeça e pescoço, que abrangem cânceres de cavidade oral, tireoide e laringe. Quando somados aos casos de câncer de pele melanoma na mesma região, esse número ascende para 48.530 novos diagnósticos, conforme as estimativas do Inca sobre a incidência de câncer. Essa projeção ressalta a urgência e a importância contínua de iniciativas como a do Instituto Mais Identidade.
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Em suma, a disponibilidade de próteses gratuitas está provando ser um pilar fundamental para a recuperação e o bem-estar de pacientes oncológicos, transformando o “ponto final” do tratamento em um novo começo para muitos. O trabalho incansável do Instituto Mais Identidade e a inovação tecnológica no campo da impressão 3D são exemplos inspiradores de como é possível devolver não apenas a forma, mas também a função e a dignidade a quem mais precisa. Para continuar explorando mais conteúdos sobre inovações em saúde e impacto social, visite nosso site em HoradeComeçar.com.br.
Crédito da imagem: Arquivo Pessoal / Divulgação Instituto Mais Identidade
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