O debate em torno da **proteína vegetal e animal** e suas implicações para uma dieta saudável e equilibrada tem ganhado cada vez mais destaque. A preocupação central de indivíduos que seguem regimes alimentares veganos frequentemente reside em assegurar a ingestão adequada de proteínas e dos aminoácidos essenciais necessários para o bom funcionamento do organismo. Especialistas no campo da nutrição enfatizam que, enquanto um único alimento de origem vegetal pode não fornecer a totalidade dos nutrientes requeridos, a combinação estratégica de diversos alimentos vegetais tem a capacidade de atingir plenamente essas metas.
Um estudo de grande relevância, desenvolvido por uma força-tarefa composta por 37 especialistas de 16 nações, convocados pela EAT Foundation – uma instituição global focada na reforma dos sistemas alimentares – em colaboração com a renomada revista científica “The Lancet”, trouxe à luz descobertas cruciais. A pesquisa ressaltou que as proteínas de origem vegetal tendem a apresentar um teor menor de gorduras em comparação com as proteínas animais, quando consideradas em porções equivalentes. Diante deste cenário, os pesquisadores propuseram um aumento na proporção de proteínas vegetais na dieta cotidiana, sugerindo que as pessoas consumam predominantemente fontes vegetais, indicando uma distribuição de cerca de 70% de proteínas de origem vegetal e 30% de fontes animais. Esta abordagem dietética está associada a um perfil cardiometabólico aprimorado para aqueles que a adotam.
Proteína Vegetal e Animal: Equilíbrio para Sua Saúde
O relatório detalhado da EAT Foundation, publicado na The Lancet, estabeleceu diretrizes para uma dieta diária que favorece a saúde, com base em um consumo de 2.500 calorias por dia. Esta proposta de dieta saudável integra uma diversidade de alimentos em proporções específicas, visando a sustentabilidade e a nutrição balanceada. Os componentes e suas quantidades recomendadas são:
- Grãos integrais: 232 g/dia
- Tubérculos e vegetais amiláceos (incluindo batata inglesa, batata-doce, inhame e mandioquinha): 50 g/dia
- Legumes e verduras: 300 g/dia
- Frutas: 200 g/dia
- Leite e derivados: até 250 g/dia
- Carne vermelha: até 14 g/dia
- Frango: até 29 g/dia
- Peixe: até 28 g/dia
- Ovos: 13 g/dia
- Leguminosas (como feijão, lentilha e grão-de-bico): 50 g/dia
- Oleaginosas (incluindo nozes e amendoim): 50 g/dia
- Açúcar adicionado: até 31 g/dia
- Gorduras insaturadas (como óleos vegetais): 40 g/dia
Essas recomendações refletem um esforço global para equilibrar as necessidades nutricionais humanas com a sustentabilidade do planeta, direcionando a população para escolhas alimentares que beneficiem tanto a saúde individual quanto o meio ambiente. A integridade dessas diretrizes foi reforçada por pesquisadores em um contexto que se preocupa cada vez mais com a segurança alimentar e o impacto dos padrões de consumo globais. O relatório completo pode ser consultado em fontes científicas como The Lancet, destacando a abrangência e o rigor da pesquisa.
Diferenças Nutricionais e Seus Impactos
Ao analisar as diferenças nutricionais e os efeitos na saúde entre as proteínas de origem animal e vegetal, nutricionistas e pesquisadores entrevistados por veículos de comunicação ressaltam pontos cruciais. Embora as proteínas animais sejam frequentemente reconhecidas como mais “completas” por seu perfil de aminoácidos, é plenamente possível suprir todas as necessidades nutricionais por meio de uma combinação inteligente e variada de proteínas vegetais. A nutricionista e pesquisadora Desirée Coelho esclarece que proteínas vegetais, por natureza, podem apresentar carências em termos de quantidade ou digestibilidade de três aminoácidos primordiais: lisina, metionina e triptofano. Ela aponta, inclusive, que certos suplementos vegetais adicionados de vitaminas podem não ter seus nutrientes completamente absorvidos pelo organismo.
A especialista detalha ainda que cereais como arroz e trigo são caracteristicamente mais pobres em lisina, enquanto as leguminosas, que englobam feijão, lentilha e grão-de-bico, são ricas em lisina, mas menos abundantes em metionina. Felizmente, a maioria das plantas contém triptofano. A Dra. Heloísa Santo André, doutora em Ciências Nutricionais e Metabolismo pela Unicamp, enfatiza que “um único alimento de origem vegetal realmente não tem todos os aminoácidos essenciais, mas cada proteína vegetal tem um tipo de aminoácido. A chave é você combinar os alimentos para conseguir todos os aminoácidos essenciais que o ser humano precisa.” Essa flexibilidade na combinação permite alcançar um perfil nutricional completo sem depender exclusivamente de fontes animais.
Em contrapartida, as fontes vegetais se destacam pela riqueza em fibras, antioxidantes e diversos compostos bioativos, elementos essenciais para a proteção cardiovascular e a redução de processos inflamatórios no corpo. Segundo a Dra. Coelho, esses componentes são “fundamentais para a saúde a longo prazo, contribuindo para a prevenção de doenças e envelhecimento saudável,” realçando a importância da proteína vegetal na promoção do bem-estar contínuo.
Carne Processada e o Risco de Câncer
A discussão sobre o consumo de proteína animal também aborda a complexa relação entre carne, em particular a ultraprocessada, e o risco de câncer. Pesquisas científicas têm explorado os nitritos e nitratos, compostos químicos nitrogenados naturalmente presentes em alimentos, água e no meio ambiente. Um estudo anterior havia estabelecido uma correlação entre o consumo de todos os tipos de carne e um risco elevado de câncer, notadamente o colorretal. Contudo, investigações subsequentes aprofundaram essa compreensão, indicando que a associação é mais pronunciada quando se trata de carnes processadas e ultraprocessadas, devido à inclusão de diversos aditivos.
O nitrato, a forma oxidada do nitrogênio, é frequentemente empregado como conservante alimentar, sobretudo em produtos cárneos processados. Por sua vez, o nitrito é uma forma reduzida do nitrato e atua como um aditivo conservante. Quando os nitritos interagem com aminas – substâncias presentes em proteínas –, há a formação de nitrosaminas, que são reconhecidas por seu potencial carcinogênico. Essa preocupação levou ao estabelecimento de limites regulamentares para o uso de nitritos e nitratos em alimentos, além de recomendações para que o consumo de carnes processadas seja feito com moderação. A Dra. Coelho salienta que, para “carne de qualidade e carnes in natura, a carne fresca, não teria essa mesma associação (com o câncer),” diferenciando a carne não processada da processada. Ela também enfatiza que estudos de associação revelam correlações, mas não necessariamente relações de causa e efeito diretas.

Imagem: g1.globo.com
Adicionalmente, o método de preparo da carne tem um papel significativo. Fatores como o tipo e a quantidade de gordura utilizada, bem como o processo de queima da carne, que pode gerar substâncias mais prejudiciais à saúde, são determinantes para os potenciais impactos negativos do consumo. Priorizar métodos de cozimento saudáveis e evitar o superaquecimento pode atenuar esses riscos.
Saciedade: Proteína Vegetal Versus Animal
No que concerne à sensação de saciedade, os alimentos ricos em proteínas são amplamente reconhecidos por sua capacidade de promover a plenitude. Observa-se que, para muitas pessoas, a proteína de origem animal tende a gerar uma saciedade mais duradoura e eficiente em comparação com a proteína vegetal. Essa diferença pode ser parcialmente atribuída ao fato de que nem todas as proteínas vegetais são, por si só, ricas em fibras, que também contribuem significativamente para a sensação de estar satisfeito. A nutricionista Desirée Coelho explica que, quando a proteína vegetal é estrategicamente combinada com alimentos abundantes em fibras, é possível otimizar a questão da saciedade de maneira bastante eficaz, ajustando a dieta para que ela proporcione um controle melhor do apetite.
Estudo de Veganos Brasileiros
Um abrangente estudo conduzido no Brasil, que envolveu 1.014 adultos maiores de 18 anos adeptos da dieta vegana, no período de setembro de 2021 a janeiro de 2023, forneceu insights valiosos sobre a adequação nutricional. A pesquisa concluiu que a maioria dos participantes veganos brasileiros conseguiu atingir as recomendações diárias de proteínas e aminoácidos essenciais. Os dados revelaram que essa adequação se deu majoritariamente por meio do consumo de alimentos in natura e minimamente processados. Contudo, o estudo também indicou que, em parte, os veganos dependiam de fontes ultraprocessadas, como proteína de soja industrializada e suplementos, para alcançar as metas proteicas.
A análise da dieta dos participantes mostrou uma composição predominantemente saudável, com 66,5% de alimentos in natura e minimamente processados, percentual superior à média nacional, e uma menor proporção de ultraprocessados, representando 13,2% do total. As principais fontes proteicas identificadas nesse grupo incluíram soja texturizada, feijões, lentilhas e diversos produtos de soja industrializados. O estudo comprovou uma alta adequação de proteínas e aminoácidos entre os veganos no Brasil, mesmo com uma ingestão relativamente baixa de ultraprocessados. Entretanto, uma ingestão ainda menor desses alimentos ultraprocessados foi correlacionada a um risco maior de inadequação proteica, sugerindo uma certa dependência de produtos como a proteína de soja e suplementos para suprir as demandas proteicas. Diante desses resultados, os autores da pesquisa sugerem a implementação de políticas públicas que incentivem o acesso a opções vegetais saudáveis, economicamente acessíveis e ricas em proteínas. Além disso, reforçam a necessidade de futuras pesquisas que avaliem os impactos de diferentes tipos de alimentos ultraprocessados na saúde da população vegana.
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Em suma, a escolha entre proteína vegetal e animal e sua proporção ideal na dieta envolve nuances importantes, com a ciência indicando benefícios claros na priorização de fontes vegetais, dadas suas vantagens nutricionais e a necessidade de combinações inteligentes para um perfil completo de aminoácidos. A consideração da saúde, incluindo o risco de doenças relacionadas a alimentos processados e o balanço da saciedade, aponta para uma abordagem alimentar consciente e diversificada. Para se aprofundar em temas relacionados à nutrição, saúde e bem-estar, continue explorando nossos artigos em Hora de Começar.
Foto: Adobe Stock
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