Programas de ingresso em universidades públicas aceitam desempenho em olimpíadas científicas

Estudantes que acumularam conquistas em olimpíadas científicas durante o ensino básico e médio podem transformar suas medalhas e menções honrosas em vagas diretas em instituições de ensino superior. Uma tendência crescente entre as universidades públicas brasileiras permite que o desempenho nessas competições sirva como critério de seleção para cursos de graduação, oferecendo um caminho alternativo ou complementar aos tradicionais vestibulares e ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Este modelo de ingresso foi pioneiro na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2019 e, desde então, foi adotado por outras instituições. Atualmente, pelo menos cinco universidades de grande prestígio nacional oferecem vagas específicas destinadas a alunos que se destacaram em competições acadêmicas. Além da Unicamp, integram esse rol a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Cada uma dessas universidades possui um regulamento próprio, estabelecendo quais olimpíadas são reconhecidas e como as premiações são convertidas em pontuações ou bônus no processo seletivo.

O processo seletivo por meio das olimpíadas científicas opera de forma paralela aos mecanismos de entrada convencionais. O estudante interessado deve apresentar os certificados que comprovam suas participações e, principalmente, as premiações obtidas em competições científicas e acadêmicas. A pontuação atribuída a cada candidato geralmente varia conforme o tipo de medalha — ouro, prata ou bronze — e, em algumas situações, pode também levar em consideração o nível de abrangência da competição, seja ela de alcance nacional, ibero-americano ou internacional.

Critérios Específicos por Universidade

As universidades adotam distintas abordagens na valorização dos desempenhos olímpicos. A Unicamp, por exemplo, reconhece certificados de um total de 14 olimpíadas de âmbito brasileiro, abrangendo áreas como matemática, química, robótica e história do Brasil. Além destas, a instituição aceita resultados de quatro competições ibero-americanas. As medalhas obtidas nessas olimpíadas podem render aos candidatos uma pontuação que varia entre 240 e 600 pontos, a depender da classificação alcançada.

Na USP, o sistema de seleção olímpica valoriza competições renomadas como a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), a Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) e a Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). A instituição também contempla torneios internacionais de grande reconhecimento, a exemplo da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO) e da Olimpíada Internacional de Física (IPhO). As notas atribuídas a essas conquistas na USP variam de 0,5 a 6 pontos.

A Unesp se destaca por possuir o sistema mais abrangente entre as instituições. A universidade considera não apenas o histórico dos candidatos em olimpíadas nacionais e internacionais, mas também se mostra receptiva a conquistas em disputas de caráter regional e em feiras científicas de relevância, como a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e a Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia (Mostratec).

A UFABC, por sua vez, definiu uma escala de pontos específica para as premiações. Medalhas de bronze em olimpíadas relacionadas a áreas como Astronomia, Química, Neurociência e Informática garantem 140 pontos. Já as medalhas de prata concedem 170 pontos, e o ouro atribui 200 pontos ao candidato.

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Na UFMS, a lista de competições aceitas inclui eventos que, em algumas regiões, podem ser menos conhecidos, como a Olimpíada Brasileira de Satélites e a Olimpíada Nacional de Povos Tradicionais, Quilombolas e Indígenas. A valorização das medalhas na UFMS é determinada pelo nível da competição; uma medalha de ouro conquistada em uma olimpíada internacional, por exemplo, equivale a 600 pontos.

O principal objetivo da criação dessas vagas olímpicas é reconhecer e incentivar jovens talentos que se dedicam e se destacam em disputas acadêmicas, ao mesmo tempo em que se busca estimular a participação dos estudantes do ensino médio nessas atividades intelectuais. Para o aluno, a vantagem é dupla: além da experiência e do aprimoramento intelectual proporcionados pela própria competição, as premiações podem representar um caminho para ingressar em universidades públicas de alto nível de concorrência no Brasil.

Principais Olimpíadas e Competições Reconhecidas para Acesso ao Ensino Superior

As universidades aceitam um vasto conjunto de olimpíadas e competições em diferentes áreas do conhecimento, oferecendo múltiplas oportunidades para os estudantes:

Matemática

• Canguru de Matemática Brasil (Canguru): Uma competição de matemática de caráter internacional que é aplicada anualmente no Brasil, direcionada a estudantes de diversas fases do ensino básico.
• OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática): A principal competição nacional de matemática, que serve como seletiva para diversos torneios internacionais.
• OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e Privadas): Considerada a maior olimpíada científica do país, possui um foco especial em alunos matriculados na rede pública de ensino, mas também aceita participantes de escolas privadas.
• OMU (Olimpíada de Matemática da Unicamp): Evento organizado pela própria Universidade Estadual de Campinas, reunindo estudantes do ensino médio em provas anuais.
• Olimpíadas Regionais e Estaduais de Matemática: Inclui competições como OMM (Olimpíada Mineira de Matemática), OPM (Olimpíada Paulista de Matemática), OMRP (Olimpíada de Matemática de Rio Preto), ORIOM (Olimpíada de Rio Claro), ORMUB (Olimpíada Regional de Matemática de Bauru), OQSP (Olimpíada de Matemática da Quarentena de São Paulo) e OMCS (Olimpíada de Matemática do Cone Sul), entre outras que variam conforme o reconhecimento de cada universidade.
• TMM (Torneio Meninas na Matemática): Uma competição de abrangência nacional criada com o objetivo de estimular a participação feminina no campo da matemática.
• EGMO (European Girls Mathematical Olympiad): Olimpíada de matemática de caráter europeu especificamente voltada para estudantes do sexo feminino.
• IMO (International Mathematical Olympiad): A mais antiga e renomada olimpíada internacional de matemática, que reúne participantes de todo o mundo.
• OIM (Olimpíada Ibero-americana de Matemática): Competição que integra estudantes de países da Ibero-América.
• OIMSF (Olimpíada Internacional de Matemática Sem Fronteiras): Torneio internacional de matemática disputado em formato de equipe.

Física

• OBF (Olimpíada Brasileira de Física): Reconhecida como a principal competição nacional no campo da física.
• OBFEP (Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas): Uma versão da OBF dedicada aos alunos das escolas públicas.
• TFM (Torneio de Física para Meninas): Iniciativa que visa a incentivar e aumentar a participação de meninas nas competições de física.
• EuPhO (European Physics Olympiad): Olimpíada europeia focada na área da física.
• IPhO (International Physics Olympiad): Considerada a principal olimpíada internacional de física, com participação de países diversos.
• OIbF (Olimpíada Ibero-americana de Física): Competição que promove a integração entre países da América Latina e da Península Ibérica na área de física.
• IYPT (International Young Physicists Tournament): Um torneio internacional que envolve debates e a resolução de problemas desafiadores de física.

Química

• OBQ (Olimpíada Brasileira de Química): Uma competição nacional que, além de premiar o desempenho, serve como processo seletivo para torneios internacionais.
• OBQJR (Olimpíada Brasileira de Química Júnior): Versão da competição de química direcionada para alunos mais jovens.
• OBSQ (Olimpíada Brasileira do Ensino Superior de Química): Embora focada no ensino superior, pode ter o histórico considerado dependendo do regulamento.
• IChO (International Chemistry Olympiad): A principal olimpíada internacional da área de química.
• OIAQ (Olimpíada Ibero-americana de Química): Reúne estudantes de países da Ibero-América para uma disputa na área da química.
• Olimpíadas Regionais de Química: Inclui competições como ONNQ (Olimpíada Norte-Nordeste de Química) e OMQ (Olimpíada Mineira de Química), reconhecidas regionalmente.

Biologia e Ciências da Vida

• OBB (Olimpíada Brasileira de Biologia): A principal competição nacional de biologia, também funcionando como etapa seletiva para a IBO.
• OBBS (Olimpíada Brasileira de Biologia Sintética): Uma competição inovadora que atende a estudantes interessados em biotecnologia e suas aplicações.
• OBBiotec (Olimpíada Brasileira de Biotecnologia): Focada especificamente em aspectos e aplicações da biotecnologia.
• OBSM (Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente – Fiocruz): Organizada pela Fundação Oswaldo Cruz, aborda temáticas cruciais de saúde e meio ambiente.
• IBO (International Biology Olympiad): A olimpíada internacional que reúne os melhores talentos em biologia de diversos países.
• OIAB (Olimpíada Ibero-americana de Biologia): Competição que integra nações da região ibero-americana na área da biologia.

Astronomia, Astronáutica e Ciências da Terra

• OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica): Uma competição nacional conhecida por suas provas teóricas e atividades práticas.
• MOBFOG (Mostra Brasileira de Foguetes): Competição prática de lançamento de foguetes, diretamente vinculada à OBA.
• OLAA (Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica): Versão regional da OBA, expandindo o alcance para a América Latina.
• IOAA (International Olympiad on Astronomy and Astrophysics): Olimpíada internacional de alto nível nas áreas de astronomia e astrofísica.
• IAO (International Astronomy Olympiad): Outra competição global que celebra e avalia conhecimentos em astronomia.
• IESO (International Earth Science Olympiad): A principal olimpíada internacional focada nas geociências.
• GeCAA (Global e-Competition on Astronomy and Astrophysics): Versão online internacional para aprimorar e avaliar conhecimentos em astronomia e astrofísica.

Ciências Humanas e Linguagens

• ONHB (Olimpíada Nacional em História do Brasil): Uma competição concebida e organizada pela Unicamp, com fases online e presenciais que estimulam a pesquisa histórica.
• OBG (Olimpíada Brasileira de Geografia): Evento que se dedica à avaliação dos conhecimentos e raciocínio geográficos dos estudantes.
• OBL (Olimpíada Brasileira de Linguística): Competição que convida os alunos a explorar padrões das línguas e linguagens em diferentes contextos.
• OLP (Olimpíada de Língua Portuguesa): Uma iniciativa focada na valorização da produção textual dos estudantes, estimulando a leitura e a escrita.
• OP (Olimpíada de Português – Escrevendo Vidas em Português): Semelhante à OLP, busca desenvolver habilidades de escrita em língua portuguesa.
• IOL (International Linguistics Olympiad): A versão internacional da olimpíada de linguística.
• IGeo (International Geography Olympiad): Olimpíada internacional que testa o conhecimento e a capacidade de análise geográfica dos participantes.
• IPO (International Philosophy Olympiad): Um fórum para debate filosófico entre estudantes do ensino médio de diferentes países.

Ciências Interdisciplinares

• ONC (Olimpíada Nacional de Ciências): Uma competição abrangente que integra conhecimentos de física, química, biologia, história e astronomia.
• OBR (Olimpíada Brasileira de Robótica – Teórica): Competição que testa conhecimentos em robótica, programação e inteligência artificial por meio de provas teóricas.
• OBRAC (Olimpíada Brasileira de Cartografia): Voltada para a ciência e arte da produção de mapas.
• OBS (Olimpíada Brasileira do Saber): Uma competição multidisciplinar que engloba diversas áreas do conhecimento.
• OGB (Olimpíada Geo-Brasil): Com foco específico em geociências.
• CIIC (Competição Ibero-americana de Informática e Computação): Torneio de programação que une países da região ibero-americana.
• LARC (Latin American Robotics Competition): Um prestigiado torneio latino-americano de robótica.
• MOSTRATEC (Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia): Importante feira internacional de ciência e tecnologia.
• FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia): Reconhecida como a maior feira científica estudantil do Brasil.
• Celeritas (Olimpíada Brasileira de Inteligência Artificial): Dedicada ao fomento e avaliação de conhecimentos em inteligência artificial.
• OBInvest (Olimpíada Brasileira de Investimentos): Uma competição que aborda o mercado financeiro e estratégias de investimento.
• O2 (Olimpíada Brasileira do Oceano): Concentrada na temática dos oceanos e seus ecossistemas.
• PolarOn (Olimpíada Nacional sobre Ambientes Marinhos e Polares): Aborda os biomas e ecossistemas das regiões polares e marinhas.
• ONDA (Olimpíada Nacional de Aplicativos): Incentiva e premia o desenvolvimento de aplicativos.
• OF SAPIENTIA (Olimpíada do Futuro): Apresenta desafios de caráter interdisciplinar.
• OBSMA (Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente): Também organizada pela Fiocruz, compartilha temáticas com outras competições na área.
• OCS (Olimpíada do Conhecimento SENAI): Competição com desafios técnico-profissionais.

Outras Áreas e Iniciativas

• OBN (Olimpíada Brasileira de Neurociências): Competição nacional que serve como seletiva para a International Brain Bee.
• IBB (International Brain Bee): Competição internacional focada em neurociência.
• OIM Vitalis (Olimpíada Internacional de Medicina): Dirigida a estudantes com interesse na área médica.
• PJS (Projeto Jovem Senador): Envolve a produção de redações com temática política, cujos vencedores participam de uma simulação no Senado.
• Câmara Mirim: Permite que estudantes simulem as atividades parlamentares na Câmara dos Deputados.
• UPU (Concurso Internacional de Redação de Cartas): Promovido pela União Postal Universal.
• ASKF (Association Kangourou Sans Frontières): Entidade organizadora da versão global da competição Canguru de Matemática.
• RIC (Robocup International Competition): A maior competição mundial de robótica autônoma.

Essas oportunidades visam não apenas a diversificar os caminhos de ingresso no ensino superior, mas também a reconhecer o empenho e o talento dos estudantes brasileiros em diversas áreas do conhecimento.

Com informações de Folha de S.Paulo