A medicina brasileira alcançou um marco histórico em São Paulo, com o registro do **primeiro caso mundial de trigêmeos nascidos de útero transplantado**. A extraordinária jornada de Jéssica, uma mulher que nasceu sem o órgão e foi presenteada com a dádiva da vida por sua própria irmã, Jaqueline, culminou no nascimento de três bebês saudáveis, desafiando expectativas e celebrando o avanço científico nacional.
Este feito sem precedentes começou a ser delineado no ano passado, em 17 de agosto, marcando a pioneira intervenção cirúrgica de transplante de útero entre mulheres vivas na América Latina, realizada no renomado Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). A equipe médica monitorou cuidadosamente o pós-operatório para assegurar a aceitação do órgão e descartar quaisquer complicações, conforme explicou o médico Dani Ejzenberg, supervisor do centro de reprodução humana da instituição.
Primeiros Trigêmeos Nascidos de Útero Transplantado no Mundo
Após um período de rigorosa observação e confirmação da estabilidade do órgão transplantado, o passo seguinte foi a implantação de um embrião, em fevereiro deste ano. O material genético utilizado pertencia a Jéssica e a seu marido, Ronilson. Embora o Dr. Dani Ejzenberg inicialmente manifestasse um certo pessimismo quanto ao sucesso do implante, a persistência e a esperança permaneceram. Wellington Andrauss, cirurgião especialista em transplantes do mesmo hospital, relatou a cautela inicial, mas os resultados logo surpreenderiam a todos os envolvidos.
Contrariando as apreensões iniciais da equipe, o teste de gravidez realizado no início de março apresentou um resultado positivo, preenchendo o casal de alegria. Para ter certeza absoluta do resultado, Jaqueline, a irmã doadora do útero e agora tia orgulhosa, fez questão de realizar mais dois testes, que igualmente confirmaram a gestação. A emoção da família transformava-se em uma expectativa ainda maior a cada confirmação de que um bebê estava a caminho.
A Gestação Surpreendente e Única no Cenário Médico Global
O que ninguém esperava foi revelado no primeiro exame de ultrassom: a gravidez de Jéssica era ainda mais excepcional do que se poderia imaginar. O embrião originalmente implantado no útero doado dividiu-se em dois. Posteriormente, um desses dois embriões passou por uma nova divisão, um fenômeno biológico raro que resultou no desenvolvimento de trigêmeos univitelinos — ou seja, idênticos. O útero transplantado de Jéssica não apenas aceitou o embrião, mas também nutriu uma gestação múltipla e de alta complexidade, tornando o caso absolutamente sem precedentes no panorama médico mundial.
A sequência de acontecimentos notáveis na vida de Jéssica culminou em 19 de agosto. Durante uma de suas consultas de rotina no Hospital das Clínicas, a gestante, que estava com 28 semanas de gravidez, teve a bolsa amniótica rompida inesperadamente. A emergência demandou uma intervenção médica imediata, levando-a diretamente para o centro cirúrgico. Ela expressou grande temor e apreensão diante da súbita necessidade de antecipar o parto, que já se configurava como um marco na história da reprodução assistida.
O Nascimento dos Trigêmeos e a Complexa Recuperação Pós-Parto
Os três meninos nasceram no dia 20 de agosto, uma data com significado especial para o casal, que, por coincidência, celebrava seus 14 anos de casamento. Heitor veio ao mundo pesando 835 gramas, seguido por Ryan, com 910 gramas, e Alisson, com 911 gramas. Apesar de nascerem prematuramente e com baixo peso, os bebês apresentaram boas condições gerais, mas necessitaram de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal para ganhar peso e atingir o desenvolvimento ideal. Enquanto isso, Jéssica teve uma recuperação rápida e recebeu alta hospitalar em pouco tempo, retornando para casa, onde aguardaria o momento de reunir a família completa.

Imagem: g1.globo.com
Dois meses após o parto, Heitor, Ryan e Alisson demonstraram o vigor necessário para deixar a UTI neonatal, um alívio imenso para a família e para toda a equipe médica que os assistiu. O acompanhamento contínuo dos trigêmeos garantiu que estivessem fortes e saudáveis o suficiente para a transição para o cuidado domiciliar. O progresso deles representa não só uma vitória pessoal para a família Borges, mas também um testemunho da capacidade da medicina de superar barreiras antes consideradas intransponíveis no campo da fertilidade e transplantes.
Decisão Estratégica da Retirada do Útero Transplantado
Ainda esta semana, Jéssica, que entrou para a história como a primeira mulher no mundo a dar à luz trigêmeos concebidos em um útero transplantado, passou por um novo procedimento: a retirada do órgão doado por sua irmã. Esta decisão foi tanto estratégica quanto fundamental do ponto de vista médico. O uso contínuo de imunossupressores, que são indispensáveis para evitar a rejeição do útero que não é de seu corpo, eleva os riscos de infecções e compromete o sistema imunológico da paciente a longo prazo. O médico responsável explicou que, como Jéssica já realizou seu desejo de ter filhos e não pretende ter outras gestações, a remoção do útero elimina a necessidade dessa medicação contínua, contribuindo significativamente para a preservação de sua saúde geral.
Jéssica recebeu alta hospitalar novamente na sexta-feira (24), demonstrando uma excelente recuperação após esta última intervenção cirúrgica. A expectativa da família é que, em aproximadamente dez dias, os trigêmeos Heitor, Ryan e Alisson finalmente deixem o hospital para se juntarem à mãe e ao pai em casa, inaugurando uma nova e emocionante fase na vida da família Borges. Este caso exemplar, um triunfo da colaboração médica e da determinação humana, certamente pavimentará novos caminhos para a pesquisa e prática na área de reprodução assistida e transplantes de órgãos no Brasil e no mundo.
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O sucesso desta intervenção abre perspectivas significativas para outras mulheres que enfrentam desafios de infertilidade uterina, solidificando a posição do Hospital das Clínicas da USP como um centro de excelência em pesquisa e procedimentos de alta complexidade. Este notável feito médico reafirma o compromisso do Brasil com a inovação em saúde. Para aprofundar o conhecimento sobre as iniciativas e avanços na área de transplantes e doação de órgãos no país, você pode consultar o site oficial do Ministério da Saúde. Mantenha-se informado sobre outros desenvolvimentos emocionantes em ciência e saúde explorando a editoria de Análises do nosso portal, onde notícias de impacto e investigações aprofundadas são frequentemente publicadas.
Crédito da imagem: Globo/Fantástico



