A investigação que revelou a existência de “droga no samba” ganhou um novo e dramático capítulo nesta semana, expondo a intrínseca conexão entre a tradicional festividade brasileira e o crime organizado. O **presidente da Império de Casa Verde foi preso** na terça-feira, dia 23, durante uma ampla operação que aponta seu envolvimento em uma vasta quadrilha internacional de tráfico de entorpecentes.
Alexandre Constantino Furtado, conhecido como “Samba” e também “Teta”, não é apenas o líder da escola de samba Império de Casa Verde; ele ocupa a posição de vice-presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo. A polícia federal identificou Furtado como um dos elos principais em uma rede de distribuição de cocaína com ramificações internacionais e supostas ligações diretas com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A reportagem exibida pelo Fantástico trouxe à tona material que serve como pilar para a acusação.
Presidente da Império de Casa Verde Preso em Operação de Tráfico Internacional
Essas evidências, consistindo em áudios e trocas de mensagens exclusivas, delineiam o modus operandi da organização e a participação de seus membros, incluindo o dirigente da escola de samba. Relatórios financeiros também levantaram suspeitas de que a agremiação possa ter sido utilizada para lavagem de dinheiro, conferindo à investigação uma camada de complexidade sobre o possível uso de instituições culturais para fins ilícitos.
Em uma das revelações mais impactantes, os áudios expuseram conversas detalhadas entre Alexandre Furtado e João Carlos Camisa Nova Júnior, conhecido no submundo do crime como “Don Corleone”. Nos diálogos, a dupla discute os valores para a comercialização de remessas de cocaína destinadas ao mercado europeu. João Carlos questiona sobre o preço de venda no exterior, e Furtado responde que o valor estaria entre “28 ou 29 (mil)”, destacando a volatilidade do mercado com a observação “todo dia muda”, e que uma atualização ocorreria na quinta-feira.
As investigações apontam para uma estrutura hierárquica bem definida dentro da quadrilha. A liderança máxima seria exercida por Fernando Cavalcanti Ribeiro, alcunhado de “Pato Donald”, que supostamente coordenava a produção da droga diretamente da Bolívia e conduzia as negociações com compradores no continente europeu. Alexandre Constantino Furtado, o “Samba”, desempenharia o papel de número dois na organização criminosa. Já João Carlos “Don Corleone” Camisa Nova Júnior era responsável por toda a logística do transporte dos entorpecentes para diversas nações, incluindo a Holanda.
A complexidade logística das operações de tráfico é evidenciada por outras mensagens. Em uma comunicação de 2021, João Carlos detalha a conveniência de utilizar navios e contêineres específicos para o transporte. Ele ressalta a capacidade de controle sobre a embarcação, afirmando: “Esse navio nosso que está à disposição nossa, nós podemos trocar a tripulação, quando quiser. Você tá me entendendo? Se quiser vai fazer uma rota tranquila, quente, lindo e maravilhoso”. Essas afirmações demonstram a sofisticação da infraestrutura utilizada pelo grupo.

Imagem: g1.globo.com
Contudo, nem todos os planos da organização ocorreram conforme o esperado. As mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelam sérias falhas logísticas que geraram descontentamento e irritação no líder, “Pato Donald”. Uma dessas falhas incluiu a ausência de registro do embarque de cocaína no porto do Pará. “Sem prova é o seguinte: Se perdeu na lata, os caras não ‘vai’ pagar porra nenhuma porque não tem prova que tava lá na lata”, alertou “Pato Donald”, sublinhando o impacto da falta de evidência na negociação. Apesar da falha e da frustração do líder, o carregamento em questão foi posteriormente interceptado pelas forças de segurança antes mesmo de deixar o território brasileiro, impedindo que o entorpecente chegasse ao seu destino.
Outra estratégia utilizada pelo grupo para o transporte de drogas foi desvendada pelas trocas de mensagens entre Alexandre Furtado e João Carlos, referente a uma operação de envio através do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, também em 2021. De acordo com as mensagens de João Carlos, quatro indivíduos do grupo seriam encarregados de realizar o despacho da droga no aeroporto. Estes “mulas” ficariam sob o poder dos traficantes até a confirmação da chegada da cocaína na Europa. A gravidade da ameaça fica evidente em suas palavras: “Vou mandar os quatro ficar no barracão. Se o bagulho não chegar lá, já frita os quatro”, indicando a brutalidade com que os membros eram controlados e a alta periculosidade da quadrilha. Investigações como esta sublinham a persistência de organizações criminosas no Brasil e sua atuação global, conforme detalhado em recentes reportagens sobre o combate ao crime organizado.
A operação policial desencadeada esta semana culminou no cumprimento de 16 mandados de prisão e 40 mandados de busca e apreensão, distribuídos em cinco estados brasileiros. A força-tarefa resultou na detenção de figuras-chave do esquema. Além de Alexandre Constantino Furtado, Fernando Cavalcanti Ribeiro, o “Pato Donald”, também foi preso na última terça-feira, 23 de janeiro. João Carlos Camisa Nova Júnior, por sua vez, já se encontrava detido desde o final de 2021, em razão de seu suposto envolvimento em um caso distinto de tráfico internacional de drogas, evidenciando seu histórico criminal.
O “outro lado” das acusações se manifestou. As defesas de Fernando Cavalcanti Ribeiro e Alexandre Constantino Furtado emitiram declarações negando categoricamente o envolvimento dos investigados no complexo esquema de tráfico. Em relação a João Carlos Camisa Nova Júnior, a reportagem não conseguiu estabelecer contato com seu advogado até o momento. A Império de Casa Verde, por meio de nota oficial, afirmou que não possui confirmações sobre o teor da ação policial em andamento. A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, em comunicado divulgado em suas plataformas online, reiterou seu compromisso inabalável com a transparência e a integridade institucional diante dos fatos expostos.
Confira também: artigo especial sobre leis e valortrabalhista
Este caso realça a intrincada teia entre esferas aparentemente distintas da sociedade e o submundo do crime organizado. Acompanhe os desdobramentos desta e de outras investigações em nossa editoria. Para mais análises e notícias, explore a categoria de Cidades em nosso portal e mantenha-se informado sobre os acontecimentos que moldam o cotidiano brasileiro.
Foto: Reprodução/Fantástico
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados