Prêmio Vladimir Herzog celebra democracia e direitos humanos

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A defesa intransigente da democracia e a valorização dos direitos humanos e da justiça social foram os pilares da 47ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Realizado na noite de segunda-feira (27), o evento consagrou trabalhos jornalísticos que abordam temas cruciais para a sociedade brasileira, em um momento de profunda rememoração dos 50 anos do assassinato do icônico jornalista Vladimir Herzog, conhecido carinhosamente como Vlado.

A cerimônia de premiação, tradicionalmente sediada no teatro Tucarena, palco do teatro de arena da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi precedida por um emocionante ato ecumênico. No último sábado (25), a Catedral da Sé, localizada no coração de São Paulo, recebeu cerca de 8 mil pessoas para uma solenidade inter-religiosa, replicando o gesto de coragem de 1975, quando um evento similar desafiou abertamente o regime militar. Este momento especial homenageou os cinco decênios desde a morte de Herzog, figura central na luta contra a ditadura militar no Brasil.

Prêmio Vladimir Herzog celebra democracia e direitos humanos

Um dos momentos de maior impacto na noite da premiação foi a exibição, por meio de telões no Tucarena, da gravação do pedido de perdão proferido pela presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha. Durante o ato na Catedral da Sé, a magistrada estendeu o gesto de reconhecimento aos familiares dos mortos, desaparecidos e torturados pelo regime militar, um gesto que ressoa a busca contínua por verdade e reparação no país. Ivo Herzog, filho do jornalista, sublinhou a profunda relevância da data: “São 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog, o meu pai, no quartel do DOI-Codi [Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, ligado ao Exército Brasileiro]. Meio século depois, o Brasil segue aprendendo, dia após dia, que não há futuro sem memória, democracia sólida sem justiça, liberdade possível sem a coragem de enfrentar as verdades mais duras da nossa história”. Ivo Herzog complementou ainda que o nome de seu pai “tornou-se sinônimo de resistência e esse prêmio que carrega e embala a sua memória é um tributo vivo a todos que não se calam, muitas vezes sacrificando suas próprias vidas.”

Em um marco extraordinário, esta edição do Prêmio Vladimir Herzog incluiu uma categoria inédita: a Defesa da Democracia. Essa inovação da comissão organizadora visa explicitamente a reconhecer e valorizar produções jornalísticas que mergulham em pautas de política nacional, abordam ataques ao Estado Democrático de Direito e expõem a atuação das instituições brasileiras na salvaguarda dos princípios democráticos. Nesta nova categoria, dois trabalhos de grande relevância foram os primeiros agraciados: a reportagem investigativa “Os kids pretos: O papel da elite de combate do Exército nas maquinações golpistas”, do jornalista Allan de Abreu, veiculada pela Revista Piauí, e o impactante documentário “8/1 – A democracia resiste”, concebido por Henrique Picarelli e sua equipe e transmitido pela GloboNews. O site oficial da premiação disponibiliza todos os conteúdos vencedores para acesso público.

Além das consagrações, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi motivo de destaque, com o programa “Caminhos da Reportagem”, da TV Brasil, recebendo uma Menção Honrosa na categoria Produção Jornalística em Vídeo. O episódio laureado, intitulado “Mães de Luta”, lançou um olhar sensível e crítico sobre a jornada de mulheres que buscam incansavelmente justiça, memória e reparação pela perda de filhos, irmãos, sobrinhos ou netos em decorrência de violência policial, ecoando a constante luta pelos direitos humanos e por uma sociedade mais justa e equânime, temas tão caros à Declaração Universal dos Direitos Humanos, fundamental para a proteção da dignidade e dos valores fundamentais da pessoa.

A 47ª edição do Prêmio Vladimir Herzog prestou homenagens a uma ampla gama de talentos em diversas categorias. Na Arte, Diogo Braga foi premiado por “Racismo Ambiental: A outra emergência”, publicado pela Defensoria Pública do Estado do Ceará, em Fortaleza/CE, destacando questões ambientais e sociais. Na Fotografia, Márcia Foletto venceu com a comovente imagem “Antes Que Ela Veja”, veiculada no Jornal O Globo, Rio de Janeiro/RJ. Na categoria Áudio, a equipe composta por Vinicius Sassine, Raphael Concli, Daniel Castro, Gustavo Simon e Magê Flores foi laureada por “Dois Mundos – 1º episódio”, da Folha de S. Paulo, Belém/PA, um projeto de jornalismo sonoro profundo. Igor Mello e sua equipe receberam Menção Honrosa pelo “Projeto de Poder – 4º episódio”, do ICL Notícias, Rio de Janeiro/RJ.

Prêmio Vladimir Herzog celebra democracia e direitos humanos - Imagem do artigo original

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br

Na seção Multimídia, Artur Rodrigues e seu grupo — Renan Porto, Fabio Leite, Rodrigo Freitas, Lilian Tahan, Otto Valle, Márcia Delgado, Olivia Meireles, Érica Montenegro, Juliana Garcês, Gui Primola, Lygia Lyra, Gabriel Lucas, Michael Melo, Italo Ridney, Caio Sales, Saulo Marques — levaram o prêmio por “A Política da Bala”, do portal Metrópoles, São Paulo/SP, evidenciando as nuances da violência no cenário urbano. Daniel Camargos e equipe — Fernando Martinho, Diego Junqueira, Paula Bianchi, Bruna Damin, Débora de Maio, Beatriz Vitória, Carlos Juliano Barros — foram reconhecidos com Menção Honrosa por “Ogronegócio: milícia e golpismo na Amazônia”, da Repórter Brasil, Belo Horizonte/MG, uma pauta que expõe intrincadas relações de poder e criminalidade. A categoria Texto teve como vencedora Isabel Harari e Carlos Juliano Barros por “Trabalho infantil na indústria tech”, da Repórter Brasil, São Paulo/SP, revelando desafios globais sob uma ótica local. Angélica Santa Cruz recebeu Menção Honrosa por “Sorriso: Uma Biografia / Como uma mulher risonha e sem palavras virou um fato social total”, da revista Piauí, São Paulo/SP.

No segmento de Vídeo, Iolanda Depizzol, Nina Fideles e equipe — Vitor Shimomura, Camila Aguiar, Beatriz Drague Ramos, Gabriela Moncau, Gabriela Peres, Marco Antônio Vieira, Mãos Tagarelas, Isabela Gaia, Tatiana Solimeo, Cibele Lima, Carolina Apple, Monyse Ravena, Bruno Amorim, Igor Dutra, Jéssica Antunes — foram os grandes vencedores com “Território em Fluxo”, do Brasil de Fato, São Paulo/SP. A Menção Honrosa foi concedida a Ana Passos e sua equipe — Vitor Gagliardo, Gabriel Penchel, Marcio de Andrade, Eric Gusmão, Caroline Ramos, Aleixo Leite, Wagner Maia, Maurício Azevedo — pelo episódio “Mães de luta”, da TV Brasil – EBC, Rio de Janeiro/RJ, trabalho este que já havia sido citado. Por fim, na categoria Livro-reportagem, Sérgio Ramalho foi o laureado com a obra “Decaído”, publicada pela Matrix Editora, Rio de Janeiro/RJ, encerrando a lista dos principais reconhecimentos da noite que marcou a resistência da imprensa em prol dos ideais democráticos.

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A 47ª edição do Prêmio Vladimir Herzog reafirmou o papel vital do jornalismo na vigilância democrática e na promoção dos direitos humanos, cinquenta anos após o sacrifício de seu patrono. Ao celebrar reportagens de excelência, o prêmio não só homenageou o legado de Herzog, mas também inspirou a continuidade da busca por uma sociedade mais justa e transparente. Para aprofundar-se em questões relevantes sobre política e direitos em nosso país, convidamos você a explorar mais conteúdo em nossa editoria de Política.

Crédito da imagem: Paulo Pinto/Agência Brasil

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