Prejuízo de R$ 5,9 milhões afeta exportação de café

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O prejuízo na exportação de café brasileira alcançou a marca de R$ 5,9 milhões em apenas um mês, um indicativo da complexidade e dos obstáculos logísticos enfrentados pelo setor. Este valor é decorrente da impossibilidade de embarque de mais de 624 mil sacas do produto em portos nacionais, com destaque para o complexo portuário de Santos, localizado no litoral paulista. Os dados, compilados e divulgados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), são referentes ao balanço do mês de agosto.

O impacto financeiro detalha-se em gastos com armazenagens adicionais, operações de pré-stacking (estocagem prévia) e a imposição de detentions, multas diárias aplicadas quando os contêineres excedem o prazo estabelecido para retorno ao terminal. Estes custos surgem diretamente da incapacidade de enviar um total de 624.766 sacas, que correspondem a 1.893 contêineres, ilustrando a dimensão do desafio logístico.

Prejuízo de R$ 5,9 milhões afeta exportação de café

No balanço analisado pelo Cecafé, o Porto de Santos emerge como o mais impactado, sendo responsável por 491.731 sacas de café não embarcadas, um volume que representa 78,7% do total nacional em agosto. Outros portos também registraram problemas: Rio de Janeiro (66.822 sacas), Sepetiba (23.693 sacas) e Vitória (42.520 sacas) completam o quadro, demonstrando a abrangência da dificuldade. Em termos de contêineres, Santos contabilizou 1.490 unidades sem embarque, seguido pelo Rio de Janeiro (202), Vitória (129) e Sepetiba (72).

Para além dos prejuízos diretos aos exportadores, o impedimento de embarque do café resultou na perda de uma receita cambial potencial para o Brasil. De acordo com as estimativas do Cecafé, o país deixou de receber US$ 221,28 milhões, o que equivale a R$ 1,205 bilhão. Esse cálculo foi baseado no preço médio Free on Board (FOB) de exportação de US$ 354,18 por saca de café verde e na média cambial do dólar de R$ 5,4463 verificada no último mês. A situação ressalta não apenas a perda para o setor, mas também para a economia nacional.

A entidade aponta que a raiz dos problemas que impedem os embarques e geram prejuízos reside nos gargalos logísticos e na defasagem da infraestrutura portuária do país. Eduardo Horen, diretor técnico do Cecafé, manifestou preocupação com o futuro, alertando que o cenário pode se agravar nos próximos meses se não houver investimentos significativos nos complexos portuários. Ele enfatiza que a tendência é de portos cada vez mais congestionados e atrasos crescentes nas embarcações, um contraste alarmante com o crescimento robusto do agronegócio, que a infraestrutura de transporte não consegue acompanhar. Horen adiciona que os prejuízos são particularmente severos para exportadores de cargas conteinerizadas, evidenciado pelos dados de agosto de 2025 (provável erro tipográfico do artigo original, assumindo 2023), quando 67% dos navios (122 de 182 porta-contêineres) registraram atrasos ou alterações de escalas somente no Porto de Santos, com alguns esperando por até 47 dias.

Diante do quadro, o Cecafé tem buscado proativamente o diálogo com outras entidades exportadoras e autoridades público-privadas para expor os dados e fomentar soluções. Um dos pontos cruciais levantados pelo diretor Eduardo Horen é o leilão do Tecon Santos 10, considerado o maior terminal de contêineres do Brasil. Segundo Horen, as restrições impostas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) para o certame limitam a participação ampla de interessados, o que pode atrasar o processo licitatório e a necessária ampliação da capacidade portuária.

O diretor técnico alertou que a morosidade e as restrições na participação empresarial, deliberadas pelo colegiado da ANTAQ, podem levar à judicialização do processo. Isso, por sua vez, resultaria em um atraso ainda maior na oferta de capacidade aos usuários do Porto de Santos, acentuando os prejuízos ao comércio exterior brasileiro. A expectativa do Cecafé é que o leilão do Tecon Santos 10 seja conduzido em uma única fase e sem limitações à concorrência, visando uma solução rápida e definitiva para a carência de infraestrutura e o alívio para os exportadores, que hoje arcam com os custos da ineficiência.

Em um esclarecimento sobre possíveis causas, Eduardo Horen descartou qualquer relação do tarifaço imposto pelos Estados Unidos com os prejuízos recentes. O diretor assegurou que as medidas tarifárias norte-americanas não têm impacto direto nos atrasos ou alterações de escalas de navios de café, reiterando que o problema central reside na infraestrutura portuária defasada. Horen pontuou que o tarifaço do governo Trump refletiu apenas no volume de café exportado para os EUA, que, como maior importador do produto nacional, absorveu, em média, de 15% a 16% dos embarques brasileiros nos últimos dois anos.

Em contrapartida, a Autoridade Portuária de Santos (APS), responsável pela gestão da infraestrutura pública do Porto de Santos, afirmou estar empenhada na manutenção e aprimoramento de suas instalações. A APS informou que cuida dos cais, do sistema aquaviário (canal de navegação, berços de atracação e bacias de evolução) e das malhas rodoviária e ferroviária para otimizar os serviços dos terminais e usuários. Em nota, a APS ressaltou os sucessivos recordes de movimentação de cargas, evidenciando a resiliência do complexo diante das crises logísticas globais e das adversidades naturais, como nevoeiros, chuvas intensas e ressacas na Baixada Santista, que representam um desafio constante para o Porto de Santos. Para aprofundar-se em questões econômicas globais, um artigo sobre o comércio exterior brasileiro oferece um contexto valioso sobre o desempenho do país nas exportações.

Olhando para o médio prazo, a Autoridade Portuária anunciou que a capacidade de movimentação de contêineres será ampliada com a implantação do terminal Tecon Santos 10. Além disso, há planos para aumentar a profundidade do canal de navegação, inicialmente para 16 metros e, posteriormente, para 17 metros. Essa medida permitirá que navios de maior porte atraquem com carga máxima, sem depender das condições da maré, otimizando a capacidade dos terminais existentes. A APS destacou que obras para o aprofundamento do estuário, incluindo a derrocagem de rochas, já foram iniciadas, e a licitação para a dragagem está em andamento, ressaltando que tais intervenções no canal não ocorriam há mais de dez anos.

O planejamento da APS também inclui o aumento da área poligonal do complexo portuário, de 7,8 milhões de m² para 20,4 milhões de m², além de investimentos em infraestrutura logística. Estão em andamento a reforma, ampliação e recuperação de vias perimetrais, com a construção de dois viadutos, o aumento de linhas férreas com novos trilhos e uma pera ferroviária, e melhorias em cruzamentos de nível e passarelas para pedestres. No curto prazo, a Autoridade Portuária visa aumentar a transparência nas informações sobre os navios, divulgando uma ferramenta de rastreamento de embarcações programadas para o Porto de Santos, o que, segundo a entidade, facilitará o planejamento e o envio de cargas pelos exportadores.

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Os desafios enfrentados pela exportação de café em agosto, que geraram um prejuízo de R$ 5,9 milhões, acendem um alerta para a urgência de investimentos na infraestrutura portuária brasileira. A resolução desses gargalos logísticos é fundamental não apenas para a recuperação do setor cafeeiro, mas para a competitividade do comércio exterior do Brasil como um todo. Mantenha-se informado sobre os desdobramentos na nossa editoria de Economia.

Foto: Divulgação/Cecafé