A Polícia de São Paulo, em uma ação conjunta com a Vigilância Sanitária, intensificou nesta quarta-feira (1º) suas operações ao realizar uma nova rodada de vistorias em quatro estabelecimentos comerciais. O objetivo é aprofundar a investigação sobre a comercialização de bebidas adulteradas com metanol. Dois dos locais fiscalizados estão situados na Bela Vista, região central da capital paulista, enquanto os outros dois ficam na cidade de Barueri. Por questões estratégicas e para não comprometer o andamento das apurações, os endereços específicos desses estabelecimentos não foram divulgados pelas autoridades.
Essa nova fase de fiscalização surge após uma interdição significativa realizada na terça-feira. Um bar na prestigiada Alameda Lorena, localizada no bairro dos Jardins, foi lacrado pelas equipes policiais. A medida foi tomada em resposta à suspeita de intoxicação por metanol de uma mulher de 43 anos, que sofreu cegueira após consumir vodca no local. Esse evento marcou a primeira interdição oficial dentro da série de operações destinadas a combater a venda de bebidas falsificadas e contaminadas por metanol na Grande São Paulo.
Polícia SP Intensifica Vistorias Contra Metanol
A operação em questão não se limitou à Polícia Civil; contou também com o apoio fundamental das vigilâncias sanitárias municipal e estadual, além da participação ativa do Procon, evidenciando uma abordagem multifacetada para a proteção do consumidor. O estabelecimento dos Jardins, identificado como Ministrão Bar, é conhecido como um ponto de encontro para happy hours e serve refeições regularmente na região. A interdição do bar foi justificada pelo “risco iminente à saúde pública”, um indicativo da gravidade da situação. Em resposta à interdição e às acusações, o Ministrão Bar divulgou um comunicado informando que todas as suas bebidas são adquiridas de fornecedores oficiais, possuindo nota fiscal e procedência assegurada, vindas de grandes distribuidoras reconhecidas no mercado.
Manoel Bernardes de Lara, diretor do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, esclareceu que a interdição do Ministrão Bar teve caráter preventivo, dada a ligação direta do estabelecimento com o caso da mulher que perdeu a visão após ingerir a vodca. Segundo Lara, durante a fiscalização mais recente, embora as bebidas encontradas no momento parecessem regularizadas, a apreensão prévia de mais de cem garrafas sem nota fiscal (na segunda-feira) levanta incertezas sobre a manipulação de outras bebidas no local.
Medidas Cautelares e Recomendações das Autoridades
Subsequentemente, outros dois bares também foram alvos de interdição: o bar Torres, situado na Mooca, Zona Leste da capital, e um estabelecimento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, cujo nome não foi divulgado. O Torres Bar, por sua vez, também se pronunciou, garantindo que está “colaborando integralmente com todos os órgãos de fiscalização competentes” e que “todos os seus produtos são adquiridos de distribuidores oficiais e parceiros de longa data, que sempre prestaram serviços de confiança e credibilidade”. Essas declarações buscam afastar a responsabilidade direta dos proprietários em relação à origem da contaminação.
As ações em andamento visam conter a propagação da intoxicação por metanol e assegurar a segurança alimentar da população. As autoridades sanitárias reforçam que a prudência é essencial, recomendando que tanto estabelecimentos comerciais quanto consumidores redobrem a atenção. Bares e restaurantes devem rigorosamente verificar a procedência dos produtos, exigindo notas fiscais e certificações dos fornecedores. A população, por sua vez, deve preferir bebidas de fabricantes legalizados, que apresentem rótulos, lacres de segurança e selos fiscais intactos, evitando assim opções de origem duvidosa que podem acarretar riscos graves à saúde, inclusive colocando vidas em perigo.
Panorama da Contaminação e Intervenção Governamental
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atualizou a situação na terça-feira (30), confirmando a morte de cinco pessoas por intoxicação por metanol. Dentre estes, um caso já foi comprovadamente ligado ao consumo de bebida alcoólica adulterada, enquanto os outros quatro ainda estão sob investigação. Freitas destacou que qualquer estabelecimento onde haja suspeita de intoxicação por metanol será fechado de forma cautelar. Essa medida faz parte da atuação de um gabinete de crise, formado para investigar 22 casos suspeitos de intoxicação em todo o estado de São Paulo.
Conforme explicado pelo governador, a interdição cautelar serve para que o governo estadual possa checar a documentação do local, cruzar dados federais e mapear a cadeia de origem da bebida. Ele enfatizou que, se o estabelecimento comprou bebidas sem comprovação de origem ou se for possível identificar o distribuidor, a investigação será levada até essa etapa da cadeia produtiva. Em situações onde há comprovação de boa-fé por parte do comércio, é possível que a interdição seja aplicada apenas à bebida ou ao lote específico, permitindo que o estabelecimento retome suas operações em segurança, após a remoção da contaminação por metanol.
Até o momento, a Secretaria da Saúde do estado contabiliza os mencionados 22 casos: 17 suspeitos em apuração e 5 já confirmados. Uma das vítimas é proveniente de São Bernardo do Campo, mas consumiu a bebida alcoólica na capital paulista. O advogado Marcelo Lombardi, de 45 anos, é uma das vítimas que vieram a óbito, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória e falência de múltiplos órgãos. O atestado de óbito de Lombardi indicou o metanol como causa da intoxicação.

Imagem: metanol é interditado em operação da via g1.globo.com
Na terça-feira, a Secretaria de Saúde do estado registrou a apreensão de 112 garrafas de vodca em diversos pontos da capital paulista, sendo 17 delas na região da Mooca. Além disso, uma fiscalização anterior, realizada na segunda-feira (29) pela polícia, integrantes do Centro de Vigilância Sanitária e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da prefeitura, apreendeu 117 garrafas de bebidas sem rótulos e sem comprovação de procedência em três bares da capital (Jardins e Mooca). Estas garrafas foram encaminhadas para perícia no Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica, e dois estabelecimentos foram autuados por irregularidades sanitárias.
Impacto Direto nas Vítimas e Riscos do Metanol
Entre as vítimas que sofreram sérias consequências está a designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, que, conforme noticiado anteriormente, está cega após suspeita de intoxicação com metanol por consumir vodca em um bar paulistano. Radharani teve alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na segunda-feira (29) e foi transferida para um quarto comum. Sua irmã, Lalita Domingos, informou que a previsão de alta ainda é incerta. Segundo ela, apesar dos tratamentos oftalmológicos para tentar reverter o quadro, a visão de Radharani permanece comprometida, gerando grande expectativa pela família sobre possíveis melhorias.
Em entrevista, Radharani, ainda hospitalizada, compartilhou seu relato: os primeiros sintomas apareceram após ela ingerir bebidas alcoólicas em uma festa de aniversário em São Paulo. Ela mencionou que o estabelecimento estava em uma área nobre, “não era nenhum boteco de esquina”. Consumiu três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodca, o que “causou um estrago bem grande”, culminando na perda total da visão. A designer também relatou que, enquanto estava na UTI, chegou a sofrer convulsões e precisou ser intubada, evidenciando a gravidade do seu quadro. O Ministério da Saúde, até o momento, não identificou novos sinais de casos relacionados à intoxicação por metanol. A Polícia Federal, por sua vez, comunicou que não foi identificada nenhuma marca ou importação específica ligada às ocorrências recentes.
O metanol (CH₃OH) é uma substância altamente tóxica, inflamável e de difícil identificação. Apesar de ser um tipo de álcool simples, incolor e com odor semelhante ao do álcool etílico (o álcool de consumo), suas concentrações elevadas no organismo são extremamente prejudiciais. Conhecido antigamente como álcool da madeira por sua origem em destilações de toras, hoje ele é predominantemente produzido industrialmente a partir do gás natural. Embora o metanol possa ser encontrado em baixíssimas quantidades na natureza, em frutas e vegetais, ou até mesmo ser produzido em ínfimas doses pelo corpo humano, seu consumo em concentrações elevadas provoca severa intoxicação, conforme explicou o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo. Para aprofundar seu conhecimento sobre os perigos dessa substância, visite a página oficial do Ministério da Saúde sobre o álcool metílico (metanol).
Os sintomas de intoxicação por metanol podem ser diversos e severos, incluindo ataxia (falta de coordenação motora), sedação, desinibição, fortes dores abdominais, náuseas, vômitos, cefaleia (dor de cabeça intensa), taquicardia, convulsões e, crucialmente, visão turva ou perda da visão, especialmente após o consumo de bebidas de origem desconhecida. Em caso de qualquer suspeita de ingestão de bebida adulterada ou surgimento desses sintomas, é de vital importância procurar atendimento médico de emergência imediatamente. A população de São Paulo pode localizar o serviço de saúde mais próximo através da plataforma oficial da prefeitura em buscasaude.prefeitura.sp.gov.br. Além disso, o Centro de Controle de Intoxicações (CCI-SP) está disponível para apoio no diagnóstico e orientação por meio dos telefones (11) 5012-5311 e 0800 771 3733.
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A gravidade da situação em São Paulo, com o aumento de casos suspeitos e confirmados de intoxicação por metanol, demanda atenção contínua das autoridades e da população. A Polícia e a Vigilância Sanitária permanecem atentas para identificar e punir os responsáveis pela venda de bebidas adulteradas. Para mais detalhes sobre esta e outras importantes notícias sobre as cidades brasileiras, continue acompanhando nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Abraão Cruz/TV Globo
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