PL Critica Paulinho da Força em Reunião sobre Anistia — A bancada do Partido Liberal (PL) dirigiu um forte ataque ao deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto de anistia na Câmara dos Deputados, durante um encontro a portas fechadas realizado nesta terça-feira, dia 23. A reunião marcou um embate direto, onde figuras proeminentes do bolsonarismo contestaram abertamente o parlamentar.
No decorrer do evento, enquanto a maioria dos presentes defendia uma anistia abrangente e expressava oposição a qualquer proposta de atenuação de penas, alguns legisladores do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro intensificaram o tom. Eles questionaram o compromisso de Paulinho da Força em buscar um ponto de equilíbrio e chegaram a demandar sua renúncia à relatoria. O clima acalorado dos discursos foi audível até mesmo fora do pequeno auditório da Câmara.
PL Critica Paulinho da Força em Reunião sobre Anistia
Um dos momentos de maior tensão veio com a manifestação do deputado Delegado Caveira (PL-PA), que, em voz alta, exclamou: “Eu grito em alto e bom som, senhor Paulinho, entregue esse relatório a uma pessoa que não esteja com rabo preso com Alexandre de Moraes”. O deputado ainda acrescentou, fazendo referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que “uma pessoa que votou no ‘descondenado’ [Luiz Inácio Lula da Silva] não pode ser relator para proteger patriota”, elevando o nível da confrontação política.
A intensidade das críticas dirigidas ao relator provocou uma reação do líder da bancada do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Ele repreendeu alguns de seus pares, afirmando que muitos estavam ali apenas para “lacrar na internet” e buscar destaque em redes sociais. Ao término do encontro, Sóstenes Cavalcante expressou um pedido de desculpas a Paulinho da Força, atribuindo as “deselegâncias” ao “destempero de alguns” de seus correligionários.
Alvos Adicionais: Aécio Neves, Michel Temer e o STF
A ofensiva verbal não se limitou a Paulinho da Força. O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente Michel Temer (MDB) também foram alvo de censura. Eles haviam se reunido com o relator na semana anterior, buscando discutir um possível termo de consenso para o projeto de anistia que pudesse angariar apoio majoritário. Além deles, o ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável pela relatoria do julgamento sobre a alegada trama golpista, foi igualmente criticado pela bancada bolsonarista.
A deputada Bia Kicis (PL-DF) descreveu a interação dos ex-presidentes com Paulinho da Força como “uma coisa pavorosa, a coisa mais patética que eu já vi”. Ela enfaticamente declarou: “Nós não aceitamos que Aécio Neves e Michel Temer venham dar uma solução para nós”, fazendo alusão a uma imagem do encontro. Complementando, o deputado Éder Mauro (PL-PA) instou o relator: “Faça a anistia, você não precisa consultar Alexandre de Moraes nem Michel Temer”, evidenciando a insatisfação com a suposta influência externa.
O pano de fundo desses debates é um acordo confidencial, revelado pela Folha, estabelecido na semana anterior entre integrantes do Centrão e uma parcela de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse arranjo serviria como alternativa a uma anistia mais ampla. No entanto, o acordo foi abalado pelo endurecimento das sanções americanas contra cidadãos brasileiros e pelos protestos populares contra a anistia, ocorridos no domingo, 21 de janeiro.
Em sua fala, Carlos Jordy (PL-RJ) categorizou a intenção de Paulinho da Força de apresentar uma proposta que envolva a redução das penas como uma “esmola”. Ele declarou: “Esse projeto é uma farsa, tudo aqui é um tribunal de exceção. A dosimetria, para mim, é algo inaceitável. É uma esmola dos tiranos contra nós, pessoas inocentes”, refutando qualquer flexibilização do perdão proposto. Este debate em torno do sistema legislativo e judicial brasileiro evidencia a complexidade de se tratar anistias.
O deputado Hélio Lopes (PL-RJ) dirigiu-se diretamente a Paulinho, perguntando se “o meu amigo Bolsonaro vai estar nesse projeto”. Reforçando essa demanda, Giovani Cherini (PL-RS) asseverou: “O PL não vai deixar nenhum soldado para trás. Se o Bolsonaro não estiver na anistia, eu voto contra”, alinhando o apoio à anistia à inclusão do ex-presidente.
Domingos Sávio (PL-MG) argumentou que a proposta em estudo por Paulinho poderia abranger criminosos que não teriam envolvimento na suposta tentativa de golpe. “Se mudar o Código de Processo Penal para formação de quadrilha, até o Marcola [líder do PCC] se beneficia. É anistia, não recua, é anistia, Paulinho”, clamou o deputado, exigindo a versão mais radical do perdão.
Em um pronunciamento ameaçador, o deputado Zé Trovão (PL-SC) sugeriu que o plenário da Câmara se tornaria “um inferno” ainda maior do que o motim onde bolsonaristas invadiram mesas na Câmara e no Senado. “Quem não pagar essa pena nessa terra vai pagar lá em cima. Ou lá embaixo. Não existe dosimetria, a não ser que esse seja um jogo de cartas marcadas. Por gentileza [a Paulinho], não faça com que o plenário da Câmara se torne um ringue e uma guerra. Porque se entrar um projeto que não liberte pessoas inocentes (…) tornarei o plenário um inferno”, alertou o parlamentar, prevendo um cenário de caos caso suas demandas não fossem atendidas.
Júlia Zanatta (PL-SC) aconselhou Paulinho da Força a buscar diálogo com os familiares dos detidos pelo 8 de janeiro, em vez de se encontrar com figuras como Aécio Neves e Michel Temer. Rodolfo Nogueira (PL-MS), por sua vez, advertiu o relator sobre as possíveis implicações da saúde de Jair Bolsonaro: “A situação do Bolsonaro é uma situação de saúde muito séria. Se, Deus nos livre, acontecer algo com o Bolsonaro, isso ficaria nas costas e na conta do relator”, imputando a responsabilidade sobre Paulinho.
Apesar da enxurrada de críticas, Paulinho da Força manteve seu tom baixo e pausado. Em suas poucas intervenções na reunião, ele optou por não responder diretamente aos ataques. O deputado reafirmou seu objetivo de buscar uma média da opinião da Câmara para seu relatório e assegurou que seu foco primordial é a libertação das pessoas presas em decorrência dos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Ao sair da reunião, Paulinho da Força informou que pretende submeter o texto à votação na próxima semana. Ele também minimizou as críticas recebidas, classificando-as como vindas de indivíduos que compareceram à reunião apenas com o intuito de gravar vídeos para postagem nas mídias sociais, um eco direto das observações de Sóstenes Cavalcante durante o encontro, que foram captadas do lado de fora.
Sóstenes Cavalcante reiterou suas desculpas, com as palavras “Meu repúdio como líder. Espero que todos que saíram tenham justificativa plena. (…) Peço desculpas pelos colegas que foram deselegantes com vossa excelência, que não merecia alguns pronomes e tratamentos. Peço desculpas em nome deles”, dirigidas a Paulinho da Força, mais uma vez enfatizando a conduta inadequada de parte da bancada do PL.
O relator e o Centrão enfrentam desafios adicionais, como a resistência do Partido dos Trabalhadores (PT) a um acordo de meio-termo sobre a anistia. Assim como a bancada de Bolsonaro, o PT também rechaça qualquer tipo de pacto, solidificando a polarização em torno da proposta.
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A bancada do PL demonstrou clara intransigência quanto ao projeto de anistia, especialmente no que tange ao relator Paulinho da Força e sua busca por um caminho de consenso. As críticas incisivas, dirigidas também a figuras como Aécio Neves e Michel Temer, expõem as profundas divisões políticas sobre a temática. Continue acompanhando a cobertura política completa no portal Hora de Começar Política para se manter atualizado sobre os próximos desdobramentos legislativos e judiciários.
Crédito da Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
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